BIS diz que criptomoedas têm “falhas estruturais” e não servem para o sistema monetário

Segundo o BIS, o foco nas flutuações de preços desvia a atenção de falhas estruturais “mais profundas” das criptomoedas
Torre do prédio do Banco de Compensações Internacionais (BIS) em Basel, na Suíça

Shutterstock

Um novo relatório publicado pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS) na terça-feira (21) conclui que as “falhas estruturais” do setor de criptomoedas o tornam “inadequado para [servir de] base para o sistema monetário”.

O Relatório Econômico Anual de 2022 do BIS, uma organização global liderada por 63 grandes bancos centrais, também sugere que o papel da tecnologia blockchain em um futuro sistema monetário provavelmente terá a forma de moedas digitais de bancos centrais (CBDC), pois “um sistema baseado em dinheiro de banco central oferece uma base mais sólida para a inovação”.

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O relatório destaca o colapso histórico do Terra (LUNA) em maio e o atual mercado de baixa como catalisador para o que analistas chamam de início de um “inverno cripto”, mas afirma que focar apenas na ação dos preços “desvia a atenção das falhas estruturais mais profundas” que existem em cripto e que tornam o setor inadequado para um sistema monetário.

As falhas das criptomoedas

O relatório afirma que o setor cripto tem duas falhas principais: a necessidade de uma “âncora nominal” e “fragmentação”.

A necessidade de uma “âncora nominal” se refere às stablecoins, que são pareadas ao valor de moedas fiduciárias, como o dólar americano (com graus variáveis de sucesso).

O relatório afirma que a existência de stablecoins “indica a necessidade generalizada do setor cripto de se aproveitar da credibilidade fornecida pela unidade de conta emitida pelo banco central”.

O relatório argumenta que criptomoedas pouco fizeram para desafiar a hegemonia dos bancos centrais em fornecer uma unidade de conta para a economia:

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“O fato de que stablecoins devem importar a credibilidade do dinheiro de bancos centrais é uma enorme revelação das deficiências estruturas de cripto. O fato de as stablecoins serem frequentemente menos estáveis do que seus emissores afirmam mostra que, na melhor das hipóteses, são substitutas imperfeitas para uma moeda soberana sólida”.

O relatório também destaca a “fragmentação” do setor, que é definida como a abundância de diferentes criptomoedas que competem pela supremacia, como “talvez a maior falha de cripto como base para um sistema monetário”.

Em sua análise, o BIS expõe essa falha como a mais grave ao interesse público. Argumenta que o dinheiro fiduciário possui um “efeito de rede”, ou seja, quanto mais usuários migram para uma moeda fiduciária, mais usuários ela atrai.

Porém, em cripto, o relatório afirma que quanto mais usuários migram para um sistema blockchain, pior fica o congestionamento e mais altas se tornam as taxas, “abrindo a porta para a entrada de novos adversários que podem recorrer a atalhos de segurança a favor de uma capacidade maior”.

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É importa destacar que, nessa parte, o relatório parece criticar especificamente a atual situação do Ethereum (ETH) do que o setor cripto como um todo.

A segunda maior criptomoeda do mundo possui problemas de escalabilidade, como altas taxas e baixa taxa de processamento de transações que resultaram em uma variedade de “Ethereum killers”, como Solana, Cardano e Polkadot, que oferecem suas próprias alternativas.

Desenvolvedores do Ethereum prometeram lidar com a escalabilidade da rede na futura atualização da rede chamada de “Fusão”.

A resposta: criptomoedas de banco central, é claro!

Como era de se esperar, o BIS afirma que blockchain têm um lugar no futuro sistema monetário: na mão dos bancos centrais. O relatório diz que qualquer futuro sistema “deve combinar novos recursos tecnológicos com uma representação superior do dinheiro de banco central em seu cerne”.

O BIS destaca a tecnologia de contratos inteligentes — contratos financeiros autoexecutáveis na blockchain — como uma das inúmeras vantagens que permitirão “transações entre intermediários financeiros que vão além do meio tradicional das reservas de banco central”.

BIS Media Briefing - The future monetary system

Também afirma que a tokenização de depósitos no sistema de registros distribuídos em blockchain irá permitir que haja novas formas de câmbio, “incluindo a propriedade fracional de valores mobiliários e ativos reais”, o que pode possibilitar uma variedade de novos serviços financeiros.

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O relatório publicado na terça-feira não representa a primeira vez que o BIS emite alertas ferrenhos sobre os riscos das criptomoedas e argumenta que moedas digitais devem ser responsabilidade exclusiva dos bancos centrais.

No início de 2021, a entidade alertou que o bitcoin (BTC) poderia “colapsar como um todo” enquanto Agustin Carstens, gerente-geral do BIS, declarou: “Se moedas digitais forem necessárias, bancos centrais devem ser os únicos a emiti-las”.

Em 2021, o BIS alertou que as finanças descentralizadas (DeFi) criam vulnerabilidades financeiras que “excedem [as vulnerabilidades] das finanças tradicionais”, destacando stablecoins como “passíveis a clássicas corridas [bancárias]”.

*Traduzido por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.