O dinheiro sempre encontra um caminho. Desde que os clientes da Binance perderam o acesso fácil a saques e depósitos em reais, a corretora perdeu espaço nas negociações em Bitcoin e Ethereum no Brasil, conforme dados do Índice de Preço do Portal do Bitcoin e de pesquisas feitas em diversas exchanges.
A empresa de Changpeng “CZ” Zhao mantém a liderança isolada, mas os dados mostram que, desde da interrupção dos serviços bancários em 17 de junho até o dia 29, houve uma queda da participação no mercado de brasileiro de 57% para 41%.
No mesmo período, houve um aumento no volume negociado em outras corretoras do mercado. A Novadax foi a mais a que mais cresceu no período — de 5% para 13% do market share. Na sequência, vem Mercado Bitcoin (de 5% para 7%), Bitpreço (17% para 18%) e Foxbit (4% para 5%).
No segundo período analisado, houve uma queda geral nas negociações de criptomoedas em todas as corretoras, provocado pelo derretimento do mercado. Na primeira metade do mês, a negociação diária era de R$ 224 milhões por dia. Na segunda, foi de R$ 131 milhões — uma queda de 41%. Por comparação, a corretora americana Coinbase registrou uma queda de 33% nos mesmos dias.
Embora o estudo use os principais pares negociados do mercado (BTC/BRL e ETH/BRL), há uma limitação, pois existem muitos outros ativos listados e transacionados diariamente.
Ainda assim, o volume das duas maiores criptomoedas em transações com o real é uma pista significativa de uma mudança no mercado.
Comentários da Binance, Novadax e Mercado Bitcoin
A Binance divulgou algumas maneiras de fazer os saques em reais e um novo parceiro de pagamentos, a Latam Gateway. Contudo, o serviço ainda não foi normalizado.
Procurada, a corretora disse que não comentava variações do mercado e afirmou em nota: “A empresa destaca que o processo de integração com a Latam Gateway está em andamento e será concluído em breve, quando as transações (depósitos e saques) serão totalmente normalizadas, e que vai manter a comunidade informada”.
Em nota, o César Felix, o gerente de Customer Experience da NovaDAX, comentou que houve um crescimento considerável desde o dia 17: “Tivemos um aumento na base de clientes de 11%. Desde o início do ano, tivemos um aumento na volumetria em BTC em torno de 25% e em ETH em 15% e, a partir do dia 17, um aumento na volumetria em Bitcoin em torno de 4% e em Ethereum de 3%”.
Ele atribui os números, em parte, ao fato de corretora ter zerado as taxas de trades de Bitcoin.
Para Fabrício Tota, diretor do Mercado Bitcoin, ficar sem saques e depósitos em reais é algo que já está superado para os players locais. “O relacionamento entre bancos e exchanges hoje é muito melhor do que já foi no passado. Esse tipo de problema quase não existe mais. É natural, portanto, que os clientes tomem ciência e passem a procurar alternativas como o Mercado Bitcoin”.
A Foxbit e a Bitpreço também foram procuradas mas não se manifestaram até a publicação desta reportagem.
Entenda o caso Binance
No dia 17 de junho, a Binance interrompeu os saques e depósitos em reais após romper o relacionamento com o Capitual, que prestava o serviço de processamento de pagamentos para a corretora dentro do Acesso, uma Instituição Pagamentos regulada pelo Banco Central.
As duas empresas têm versões conflitantes sobre o que de fato aconteceu. O que se sabe que é houve um pedido para a individualização das contas do Capitual dentro do Acesso. Na prática, isso significava que cada cliente da Binance teria que também criar uma conta no Acesso.
A Binance chegou a entrar com uma ação na Justiça contra a sua antiga fornecedora do serviço para que ela seguisse prestando o acesso bancário. Houve uma vitória inicial, mas ela foi derrubada em segunda Instância.