Imagem da matéria: Axie Infinity: revolução dos jogos ou pirâmide financeira que pode ir a zero?
Axie Infinity (Foto: Divulgação)

Imagine um ecossistema onde todo mundo lucra com a entrada de novos participantes injetando dinheiro para sustentar essa economia. Não há serviço nem produtos: apenas quem chegou depois pagando quem já estava antes.

A descrição acima de como se comporta um esquema de pirâmide financeira se assemelha com o que algumas pessoas acreditam que o jogo Axie Infinity se tornou. Em fevereiro a plataforma tinha 18 mil jogadores. Cinco meses depois já são 800 mil — muitos em busca de garantir uma renda extra.

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O jogo atingiu uma popularidade tão alta e em tão pouco tempo que levanta a questão se não estamos perante uma bolha prestes a estourar. Até quando a economia do Axie Infinity se sustentará?

A economia do play-to-earn

Para começar a jogar é preciso gastar entre R$ 6 mil e R$ 8 mil para compor um time de três Axies, o que movimenta um negócio paralelo de scholarships, conhecido no Brasil como as “escolinhas” que emprestam Axies para outras pessoas jogarem com a condição de que os lucros sejam repartidos no final do mês.

As recompensas são dadas na forma de Smooth Love Potion (SLP), uma criptomoeda que pode ser trocada em exchanges por dinheiro da “vida real”, ou usada para criar novos Axies.

A grande procura por vagas fez com que as escolinhas injetassem grandes quantias de dinheiro na economia do jogo para criar mais Axies e atrair cada vez mais pessoas, aumentando os seus ganhos.

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A economista Natasha Che diz que apesar do Axie Infinity ter surgido com um intuito legítimo de criar um metaverso que beneficia a todos, a forma que sua economia se comporta atualmente é “exatamente como um esquema de pirâmide”.

“Por que o token SLP tem preço diferente de zero? Porque você precisa dele para criar novos axies. Por que os novos axies não têm preço zero? Porque novos jogadores precisam comprá-los para começar. Ou seja, os ganhos dos jogadores dependem inteiramente de novas pessoas que entram no sistema com dinheiro novo”, escreveu Che no seu blog

Ela aponta que o problema principal é que a renda vem do ato de “jogar”, o que não cria nenhum valor intrínseco para a rede:

“O papel de ‘jogar’ em ‘jogar para ganhar’ é um mero fingimento. Você pode tirar isso e nada mudará na economia. Você obtém exatamente os mesmos ‘ganhos’, desde que os novos jogadores continuem pagando suas taxas de inscrição”.

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A economista acredita que a partir do momento que não houver mais jogadores entrando, o preço do SLP desabará.

Atualmente, no entanto, a moeda parece responder à lei básica de oferta e demanda da mesma forma que as outras criptomoedas especulativas do mercado — quando a procura é grande, o preço sobe. 

Na visão de Fernando Bresslau, líder no Brasil da plataforma Celo, existe uma grande diferença entre os tokens do Axie Infinity e outras criptomoedas já estabelecidas, como o bitcoin.

“O bitcoin tem um valor muito claro, ele permite que eu faça pagamentos para qualquer pessoa ao redor do mundo, ao mesmo tempo que me protege da inflação do Brasil. Ele é escasso, a tecnologia é robusta e está provada há mais de 10 anos que funciona”, explicou em conversa com o Portal do Bitcoin.

Ou seja, existe um racional fundamentalista que explica o porquê do bitcoin ter o preço que tem hoje, enquanto não há fundamentos que sustentem a valorização do SLP para além da popularidade momentânea do jogo.

“A partir do momento que você não consegue explicar como esse valor é tão alto do jeito que ele é, a coisa começa a ficar complicada. Quando eu olho para o Axie, é só uma bolha e quando essa bolha estourar, não consigo achar argumentos para sustentar algum valor fundamental razoável ou compatível com o hype”, aponta Bresslau.

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Gabriel Boni, o country manager no Brasil da Yield Guild Games (YGG), uma das maiores escolinhas de Axie Infinity do mundo que foi a precursora desse modelo de negócios, discorda da visão dos especialistas e diz que é “surreal” a ideia de que o jogo se assemelha como uma pirâmide. 

“É muito difícil a gente analisar de maneira tradicional algo revolucionário como Axie Infinity. Ele é um sistema multiverso retroativo infinito com várias frentes independentes. Os axies como NFT movimentam um mercado, já as moedas do jogo são negociadas em volumes enormes todos os dias. Eu acho que o segredo da receita é que você tem um multiverso onde todas as áreas estão funcionando de forma harmônica e muito sofisticada, o que está bem distante de uma pirâmide”, afirma.

Boni argumenta que a parte fundamental do ecossistema é o mecanismo de controle inflacionário que queima os tokens SLP e AXS usados para gerar um novo Axie. “O SLP é um token de fornecimento infinito que está sendo queimado o tempo inteiro nesse processo retroativo e isso que gera a valorização da moeda”, explica.

No entanto, dados do Axie World Economics mostram que a quantidade de novas moedas sendo geradas diariamente é muito maior do que a de tokens queimados. No dia 21 de julho, por exemplo, uma quantia recorde de 208,8 milhões de SLP foram criados, enquanto só 37,4 milhões foram queimados.

Emissão e queima de SLP Axie Infinity
Emissão e queima de SLP. Fonte: Axie World Economics

Quem está por trás do Axie Infinity

O jogo começou a ser desenvolvido em dezembro de 2017 pelo taiwanês Trung Nguyen, fundador do estúdio de games Sky Mavis, um mês depois que explodiu o CryptoKitties, o primeiro jogo baseado em NFTs da rede do Ethereum onde os jogadores podem comprar, trocar e criar seus gatinhos virtuais. 

Nguyen era um entusiasta do CryptoKitties e foi através do jogo que conheceu os cofundadores do Axie Infinity: Jeffrey Zirlin e Aleksander Larsen.

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Da mesma forma que o jogo que criou, o Cryptokitties se tornou uma febre no final de 2017 que congestionou a rede do Ethereum movimentando US$ 4,8 milhões por dia. O hype não demorou para passar e apesar do Cryptokitties ainda ter seus apoiadores, o seu atual volume diário não passa de US$ 4,2 mil, segundo o DappRadar.

Bresslau acredita que o hype que fez o Axie Infinity chegar no patamar atual não é orgânico e foi fabricado pela empresa que “se esconde por trás de uma tecnologia descentralizada”.

“Tem muita gente esperta pulando no Axie Infinity sabendo que tem que sair antes da bolha estourar. Eles criam todos os argumentos que podem para poder se convencer que o dinheiro que estão ganhando é limpo moralmente”, diz. 

Na visão do especialista, a febre do Axie Infinity pode se prolongar uma vez que existe a empresa por trás do jogo que vai continuar colocando dinheiro no sistema para sustentar o hype, como por exemplo, financiando as escolinhas.

Em junho, a YGG captou US$ 4 milhões em uma rodada de investimento que entre os participantes estavam os diretores da Sky Mavis, Trung Nguyen e o Jiho Zirlin. O outro cofundador do jogo, Aleksander Larsen, inclusive faz parte do board de conselheiros da YGG. 

A escolinha está avançando nos países em desenvolvimento como o Brasil, onde recruta todos os dias ao menos 10 brasileiros para jogar Axie Infinity. De acordo com o country manager Gabriel Boni, a lista de pessoas esperando uma vaga na escolinha é longa e já supera 2 mil pessoas.

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