Depois de atuar por 23 anos como diretor-assistente do FBI, o americano Gurvais Grigg se aposentou para trabalhar na Chainalysis, empresa global de análise de blockchain. O que o motivou a trocar o órgão federal por uma empresa de apenas sete anos de vida, ele contou em um artigo publicado no site da empresa.
Segundo Grigg, que já está na equipe da Chainalysis há três meses, sua função é de liderar o desenvolvimento de inovações com foco no governo, mais precisamente fornecendo liderança executiva ao FBI Laboratory, uma divisão do órgão de análises forense. O objetivo, disse, é transformar a empresa na melhor solução de investigação financeira para o século 21. “Acredito que a criptomoeda é um dos desenvolvimentos tecnológicos mais importantes de nosso tempo”, ressaltou Grigg.
“As agências precisam de dados, ferramentas e compreensão das criptomoedas para efetivamente ‘seguir o dinheiro’ e eliminar os atores ilícitos. A melhor maneira de nos ajudar a atingir essa meta é capacitar os governos com o que eles precisam”, disse o diretor.
Diretor da Chainalysis acredita na tecnologia
A motivação, explicou, veio da ascensão do novo mercado e do que pode acontecer nos próximos dez anos. “Quase uma década após sua invenção, a criptomoeda atraiu investidores institucionais que buscam se proteger contra as tendências macroeconômicas, ajudou pessoas em regiões financeiramente instáveis a preservar suas economias e impulsionou a inovação em serviços financeiros”, escreveu o diretor.
Segundo ele, a Chainalysis já lidera o caminho para equipar governos em todo o mundo contra crimes relacionados com criptomoedas, além de contribuir em termos de regulamentação para o setor. “Acredito que, com minha vasta experiência em segurança nacional e aplicação da lei, posso ajudar a Chainalysis a continuar nessa trajetória e garantir a segurança do ecossistema de criptomoedas para o benefício dos cidadãos, governos e empresas em todos os lugares”, disse.
Sistema financeiro mundial
“O sistema financeiro é uma parte fundamental de qualquer competição entre as potências mundiais”, disse Grigg, depois de discorrer sobre a liderança dos EUA e seus aliados em criar leis para o mercado desde o fim da Guerra Fria. Para ele, no entanto, agora existe uma concorrência com grandes potências, que analistas sempre apontam para China e Rússia.
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Descrevendo como “perturbadora” a nova classe de ativos, Grigg questiona se as criptomoedas podem ser o próximo transformador de paradigma, já que os países que dirigem o sistema financeiro tendem a ditar o ritmo das questões mundiais. Para ele, os países que liderarem um conjunto de sistema financeiro, blockchain e criptomoedas vão ganhar maior poder e influência.
Criptomoedas, China e Rússia
Sobre a China, Grigg disse que embora o governo tenha promulgado algumas políticas ‘anti-criptoativos’, o país gera mais volume de transações de criptomoedas do que qualquer outro país, além de liderar o hashrate global de mineração de bitcoin.
Considerando isso, continuou Grigg, pode haver potenciais preocupações para o exercício de influência indevida na rede. Isso porque os chineses já estão usando criptomoedas para fazer negócios em economias de mercado emergentes como a África e a América Latina. “Essas ações, se realizadas de maneira inadequada, podem facilitar a violação da lei comercial internacional e ajudar a China a avançar em seus objetivos de maior influência global’, disse.
O ex-agente também acredita que tanto a China quanto a Rússia podem violar sanção internacionais através das criptomoedas. A Rússia, disse ele, também adotou as criptomoedas enquanto seu governo simultaneamente aprovava leis contra ela — e parece ter incorporado a tecnologia em seus esforços para tentar desestabilizar os Estados Unidos.
Em outro ponto, o diretor cita a influência de hackers nos governos: “Os ataques de ransomware oriundos da Rússia, em muitos casos considerados como apoiados pelo governo russo, dirigiram ataques estrategicamente contra agências governamentais dos EUA e fornecedores de infraestrutura crítica, como hospitais e empresas de telecomunicações”.
Por fim, citando também a Coreia do Norte, Grigg disse que as criptomoedas podem ser usadas por estados autoritários e desonestos para prejudicar e diminuir a posição geopolítica dos Estados Unidos, bem como na lavagem dinheiro por organizações criminosas.