Imagem da matéria: A importância de ganhar da inflação nos seus investimentos
Foto: Shutterstock

O fenômeno inflacionário, apesar de parecer distante e ser uma luta “ganha”, após o relativo sucesso do Plano Real de 1994, ainda é um dos assuntos de maior divergência entre os economistas. Enquanto alguns definem que ela está relacionada ao aumento da oferta de moeda na economia, isto é, a impressão desenfreada de papel moeda, outros não veem a impressão de moeda como uma causa para ela.

Dentre as teorias sobre inflação cujos autores não acreditam que imprimir moeda gera inflação — a que ganhou notoriedade nos últimos anos é a denominada TMM (Teoria Monetária Moderna), a qual define que nenhum país que emite a própria moeda pode ficar insolvente — , pois existem recursos ociosos e os impostos não são uma forma de arrecadação do governo, mas sim uma maneira de reduzir atividade econômica.

Publicidade

Em contrapartida à TMM, existe a constatação realizada por Richard Cantillon, o qual definiu que o aumento da oferta de moeda irá criar inflação de forma desigual, isto é, ela tende a beneficiar aqueles que se encontram mais perto da injeção monetária.

Entretanto, mesmo com todas as divergências e a inclinação a TMM por parte dos bancos centrais, o que a maioria concorda, é que níveis elevados de inflação são causa da destruição de economias, levando a índices elevados de pobreza e desigualdade (imposto sobre os mais pobres), além de deixar feridas em muitas gerações.

Em resumo, a parte mais visível da inflação está ligada ao aniquilamento do poder de compra da moeda, ou seja, o dinheiro em circulação passa a valer cada vez menos e é aqui que o investidor deve ficar atento.

Portfólio

O cenário inflacionário, culminou, na década de 80, na hiperinflação, que se estendeu até a criação do plano real no Brasil e, deixou como consequências, o imediatismo ou, mais especificamente, a visão de curto prazo, uma vez que o dinheiro perdia valor muito rápido o que gerava uma baixa inclinação a poupar (incentivo ao consumo).

Publicidade

Contudo, o fenômeno inflacionário impacta não só as aplicações financeiras, aqui entendidas como títulos de renda fixa e renda variável, mas também projetos de expansão de empresas (maquinários), início de novos empreendimentos, entre outros.

Abordando mais especificamente os investimentos, ganhar da inflação tem que ser a premissa básica e, até mesmo, a mais relevante dentro da montagem de um portfólio.

Para entender melhor a importância de o investidor ganhar da inflação, recorro a uma passagem da História romana sobre as batalhas entre gladiadores e levanto o seguinte questionamento: quem se sagrava vencedor em todos os duelos já representados em livros e filmes? O mais forte, mais rápido, mais inteligente? Não, o vencedor é sempre aquele que sobrevive a toda matança à sua volta!

Dessa forma, permanecer vivo, para nós investidores, está relacionado a manter o poder de compra da moeda, uma vez que investir nada mais é do que reduzir consumo presente para, no futuro, manter o nível de consumo ou até mesmo aumentá-lo.

Publicidade

Isso só será possível se os seus investimentos minimamente reporem a inflação no período em que o dinheiro está alocado, por isso, muito mais do que ter rentabilidades extraordinárias, é necessário perceber se essa rentabilidade está repondo ou até mesmo ganhando da inflação.

Rentabilidade

Assim, sempre que for comparar a rentabilidade de seus investimentos retire a componente do Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) — indo até o site do IBGE é possível pegar o histórico da inflação — depois disso é só dividir o seu retorno pela inflação do período, conforme se segue:

Rentabilidade real = [(1 + rentabilidade nominal) / (1 + inflação)] – 1

Para exemplificar a conta acima, pense em uma carteira conservadora que apresenta rendimento atrelado ao DI, (juros pagos por bancos quando fazem empréstimos entre si). No mês de outubro o valor do DI ficou em 0,49% e a inflação, medida pelo IPCA foi de 1,25% para o mesmo período, assim:

Rentabilidade real = [(1 +0,49%) / (1 + 1,25%)] – 1 = -0,751%

Ou seja, hoje quem tem carteiras ligadas ao DI (CDB, LCI e LCA) está perdendo seu poder de compra e, mesmo pensando em um retorno anual de 9,25% (estimativa para a Selic de 2021) como a inflação está acima de 10% nos últimos doze meses, a rentabilidade será negativa e o poder de compra será corroído.

Mas a pergunta que fica após toda a explanação sobre a inflação, suas causas, consequências e o cálculo da rentabilidade real é como obter retornos acima do IPCA, para que seja possível manter, minimamente, o poder de compra ao longo do tempo?

Publicidade

Primeiro, é importante entender que um portfólio deve apresentar diversificação, não só entre ativos, mas entre países, ou seja, alocar em moedas fortes como o dólar e o euro, ter renda fixa atrelada à inflação, ações nacionais e estrangeiras e, o que considero o “pulo do gato”, ter criptomoedas no portfólio.

Bitcoin contra inflação

A tese das criptomoedas, pensando mais no Bitcoin e em toda a sua essência como um ativo deflacionário, visto que tem sua emissão limitada a 21 milhões, ao contrário da moeda fiduciária que sofre com a inflação causada pelas políticas monetárias feitas pelo governo, como ocorreu e, ocorre até hoje com as grandes economias com seus bancos centrais injetando moeda de forma desenfreada, é a grande saída para se defender e “se manter vivo”.

Dessa maneira, possuir ativos descentralizados, mesmo que uma pequena parte do portfólio, já é realidade para muitas empresas, como Tesla e o Mercado Livre, e até mesmo o próprio CEO da Apple, Tim Cook, que falou que possui criptos em seu portfólio.

Portanto, o bitcoin — não o ouro ou ações — tem se mostrado o ativo contra a inflação e que guarda características impensáveis nas moedas fiduciárias.

Sobre o autor

Gabriel Matos é especialista em investimentos CEA certificado pela Anbima, apaixonado por opções e tecnologia, opera no mercado de derivativos desde 2017.

VOCÊ PODE GOSTAR
Imagem da matéria: Donald Trump não menciona Bitcoin e criptomoedas em discurso de posse

Donald Trump não menciona Bitcoin e criptomoedas em discurso de posse

Ainda há expectativas de que Trump emita ordens executivas direcionadas ao mercado cripto nos primeiros dias de seu governo
Donald Trump é fotografado em comício nos EUA

Rosto de Donald Trump está agora gravado para sempre na blockchain do Bitcoin

Minerador americano de Bitcoin MARA colocou um retrato do presidente eleito Donald Trump na blockchain da criptomoeda
Donald Trump durante Bitcoin Conference 2024

Posse de Trump irá fazer Bitcoin subir ou “fato será vendido”? Especialistas analisam cenário do dia um

Donald Trump vem sendo força motriz por trás de alta do Bitcoin, mas dia da posse pode ser momento de “queda na realidade” para mercado
Imagem da matéria: Bitcoin pode ultrapassar US$ 300 mil este ano, afirma nova pesquisa do HashKey

Bitcoin pode ultrapassar US$ 300 mil este ano, afirma nova pesquisa do HashKey

Principal previsão do HashKey Group aponta que a narrativa do Bitcoin como “ouro digital” continuará ao longo deste ano