Os investidores que foram para o fim de semana descansar e ignoraram os gráficos, acordaram nesta segunda-feira (5) com um verdadeiro caos no mercado financeiro, seja ele o tradicional ou das criptomoedas, com alguns dos maiores ativos digitais, como Bitcoin (BTC) e Ethereum (ETH), desabando mais de 15%.
Mas este cenário já havia começado a se desenhar na sexta-feira (2), quando os preços passaram a cair após dados econômicos dos Estados Unidos ligarem o alerta dos investidores para uma possível recessão no país.
Com isso, o Bitcoin, que na sexta pela manhã valia US$ 65 mil, opera nesta segunda na casa de US$ 51 mil, uma queda de 21,5%. O Ethereum, por sua vez, desabou 27%, de US$ 3.150 para atuais US$ 2.300, chegando a zerar os ganhos acumulados em 2024.
Na sexta, apenas dois dias após o Federal Reserve manter as taxas de juros nos EUA entre 5,25% e 5,5%, o dado de emprego no país mostrou a criação de apenas 114 mil vagas em julho, ante a expectativa de 185 mil. Isso fez com que o mercado passasse a ver como reais as chances da maior economia do mundo entrar em recessão.
Diante disso, o índice Nikkei, da bolsa de Tóquio, despencou mais de 12% no pregão desta segunda, em seu pior desempenho desde o crash de 1987. “A economia [japonesa] é muito dependente da americana e fortemente ligada do ponto de vista do fluxo de dinheiro, o que causa um tremor no mundo inteiro”, afirma André Franco, Head de Research do Mercado Bitcoin (MB).
Segundo Franco, uma possível recessão nos EUA exigiria que o Fed fizesse mais cortes de juros, e se ele realmente acelerar os cortes, pode confirmar o pânico do mercado, até porque não era algo precificado até então. “Esse pânico prejudica ativos de maior risco, como as criptomoedas, levando a essa queda de preços”, explica o analista.
Já Beto Fernandes, analista da Foxbit, complementa lembrando que os resultados das grandes empresas de tecnologia dos EUA também têm criado um clima pior entre os investidores.
“E um tempero extra veio com a notícia de que Warren Buffett liquidou diversas ações da Apple. Tudo isso desencadeou uma venda generalizada dos papéis e descrédito com a economia do país e saúde das instituições, liberando uma liquidez no setor tech, que tem uma certa correlação com o BTC”, afirma.
Ana de Mattos, analista técnica e trader parceira da Ripio, alerta para a possibilidade de continuidade da queda, o que, por outro lado, não significa que o ponto atual não seja já uma boa oportunidade de compra para quem faz DCA (estratégia de compras fracionadas de ativos) de olho no longo prazo.
“Para que ocorra a reversão da tendência de baixa, ou pelo menos a estabilização no preço, é preciso que entre bastante fluxo comprador absorvendo a queda”, explica ela. “As resistências de curto e médio prazo estão nas áreas de valor de US$ 55.230 e US$ 63.600.”
Gráfico apontam que Bitcoin pode cair até US$ 41 mil
Segundo Beto, da Foxbit, os gráficos indicam que o Bitcoin atingiu sua última região de suporte forte, em US$ 50 mil, que tem sido respeitada até o momento. “O Índice de Força Relativa (RSI) desceu aos 24 pontos, muito próximo de um mercado de fortíssima sobrevenda”, explica ele.
A última vez que o RSI bateu níveis tão baixos foi em agosto do ano passado, quando o BTC ainda era negociado na região dos US$ 25 mil e amargou uma queda de mais de 7% na época.
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“Em uma perspectiva semanal, o Bitcoin está testando um importante nível de Fibonacci, que tem suporte nas regiões mais baixas dos US$ 49 mil. Porém, um antigo movimento lateral sugere que a correção pode ir até os US$ 44 mil ou US$ 41 mil”, diz Beto, ressaltando que recuperar os US$ 55 mil seria um respiro importante para quem está comprado.
Por fim, ele diz que, ao contrário do gráfico diário, o RSI mira os 41 pontos e que apesar de ser um território de sobrevenda, a intensidade é bem menor. “Mesmo assim, o indicador mostra uma tendência de baixa muito clara para o período”, conclui.
Incertezas devem continuar
Como apontado na análise técnica, apesar da tendência de novas quedas, o mercado está bastante incerto neste momento e imprevistos podem ocorrer.
Como apontou Richard Teng, CEO da Binance no X (antigo Twitter), a queda do momento é influenciada por fatores macroeconômicos, e não é um indicativo de uma tendência de longo prazo para o desempenho das criptomoedas. “Com potenciais cortes nas taxas de juros do Fed e volatilidade geopolítica, ainda há um potencial significativo para flutuações de mercado”, disse.
Gracy Chen, CEO da Bitget, diz que, julgando pelas tendências históricas no mercado de criptomoedas, antes que o mercado forme um verdadeiro impulso de alta, precisa experimentar uma queda acentuada para reduzir as posições longas dos contratos e assim diminuir a pressão de venda para futuros aumentos.
“Este é um fator chave no rápido aumento do mercado; os observadores podem continuar a prestar atenção às mudanças no mercado macro, incluindo os indicadores do índice de pânico. No momento, o núcleo chave para afetar a tendência do mercado é o índice de sentimento”, diz ele.
Guilherme Sacamone, diretor geral da OKX Brasil, reconhece que a recente queda que o Bitcoin experimentou nos últimos dias pode certamente assustar alguns investidores, mas acredita que, “para a grande maioria dos hodlers, isto é apenas mais um capítulo que não muda a visão de longo prazo do ativo”.
Franco, do MB, conclui dizendo que os bancos centrais só possuem uma estratégia para lutar com esse cenário, que é emitir mais dinheiro e aumentar liquidez, e é exatamente contra isso que as criptomoedas “lutam”, por isso o investimento no Bitcoin continua sendo uma boa estratégia, mesmo em momentos de queda.
“A perspectiva aqui é que o curto prazo ainda pode ser negativo para o BTC e para as criptomoedas em geral, mas a médio e longo prazo é positivo porque os bancos centrais vão ter que prover liquidez e isso é bom para cripto”, afirma.
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