Imagem da matéria: A explicação detalhada do caso FTX e as acusações contra Sam Bankman-Fried
fundador da FTX, Sam Bankman-Fried, fora do tribunal federal de Manhattan (Foto: Decrypt/André Beganski)

Em resumo

  • Bankman-Fried cria a FTX, que se torna uma das maiores exchanges de criptomoedas do mundo, e se torna um bilionário e ícone de cartaz para o uso diário de cripto.
  • A FTX entra em colapso em meio a controvérsias, e US$ 8,9 bilhões em ativos de clientes estão desaparecidos no que será uma das maiores fraudes da história.
  • Bankman-Fried e ex-colegas enfrentam várias acusações, o que pode culminar em 110 anos de prisão para o ex-empresário de 31 anos.

A ex-estrela cripto, Sam Bankman-Fried, vai a julgamento por 13 acusações de fraude e conspiração centradas na alegada má gestão e/ou apropriação indébita das participações cripto dos clientes da FTX. 

Bankman-Fried cofundou a Alameda Research em 2017 e a exchange cripto FTX em 2019. Ele rapidamente se tornou um ícone da indústria cripto, atraindo a atenção do público para as criptomoedas, ajudando até mesmo a transformar o Super Bowl 2022 em “Crypto Bowl” com outros anunciantes. 

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Hoje, ele é acusado de vários tipos de fraude e conspiração para cometer fraude e, em vez disso, é uma ilustração das controvérsias e preocupações em torno de uma indústria de criptoativos ainda não regulamentada.

O que aconteceu com a FTX? E quais são as acusações contra Bankman-Fried?

Em novembro de 2022, surgiram rumores de que grande parte dos bilhões de dólares em participações da Alameda Research estavam alocados como FTT, o token lançado pela FTX. A FTX e a Alameda detinham a maior parte do FTT em circulação, o que implica que a Alameda era criticamente vulnerável a uma venda do FTT. 

Isso gerou uma cadeia de eventos que colapsou tanto a FTX e a Alameda, eliminou um quinto do valor do mercado de criptomoedas e, finalmente, levou à prisão de Bankman-Fried. Imediatamente após os rumores surgirem, o fundador da Binance, Changpeng Zhao, anunciou que venderia suas participações em FTT, no valor de cerca de US$ 580 milhões, despencando o preço do token em 75% e levando a uma corrida dos investidores em pânico na FTX.

Com isso, a exchange não conseguiu financiar o súbito volume maciço de retiradas. Até US$ 10 bilhões foram dados como desaparecidos pouco depois, e o resto, quando tudo estiver resolvido judicialmente, entrará para a história do setor cripto.

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Uma linha do tempo de Sam Bankman-Fried e da FTX

2017

25 de novembro – O norte-americano de 25 anos Sam Bankman-Fried lança a Alameda Research com Tara Mac Auley depois de deixar o seu emprego como trader quantitativo na Jane Street Capital e um breve cargo como diretor de desenvolvimento do Centre of Effective Altruism.

2019

Maio – Bankman-Fried e Gary Wang, ex-funcionário do Google, lançam a exchange de criptomoedas FTX, incorporada em Antígua e Barbuda, com sua base de operações nas Bahamas. 

Julho – O token FTT foi inicialmente lançado de forma privada e depois pública como um token da exchange. Seus benefícios incluíam recompensar os usuários com taxas mais baixas na exchange. 

Agosto – A FTX capta uma rodada de investimento semente de US$ 8 bilhões, com financiamento de empresas como Pantera Capital, Sequoia Capital, Digital Currency Group, Binance, Binance Labs e Consensus Labs.

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Estima-se que Bankman-Fried se emprestou pelo menos US$ 1 bilhão para pagar um estilo de vida de luxo e aprovou empréstimos a seus pais e colegas de trabalho. 

2020

Outubro – A FTX lança “negociação de ações fracionadas” para derivados da Tesla, Apple e Amazon.

Dezembro – A FTX tokeniza ações para cinco empresas de Cannabis. 

2021

Julho – A FTX tem mais de um milhão de usuários e se torna a terceira maior exchange de criptomoedas do mundo em volume negociado. A empresa levanta mais US$ 900 milhões de 60 investidores de alto perfil e compra as participações dos primeiros investidores e acionistas, Binance e Zhao, por algo em torno de US$ 2 bilhões. Zhao fica com um valor de US$ 580 milhões em FTT. 

Outubro – A FTX capta mais US$ 420 milhões em financiamento de risco, levando a uma avaliação de US$ 25 bilhões. Bankman-Fried é listado como um bilionário na Forbes pela primeira vez, com um patrimônio líquido estimado em US$ 22,5 bilhões.

Até o fim de 2021, Bankman-Fried valeria cerca de US$ 26 bilhões, com a maior parte dessa riqueza sendo pela propriedade da FTX e os tokens FTT que ele possuía. A FTX completou o ano com acordos de marketing com equipes da Fórmula 1, equipes de E-sports como a Furia e Team SoloMid, e parcerias com estrelas do esporte proeminentes como Tom Brady. 

2022

Janeiro – A FTX lança o FTX Ventures, um fundo de risco de US$ 2 bilhões que consegue captar US$ 400 milhões em financiamento, e a FTX atinge uma avaliação de US$ 32 bilhões.

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Fevereiro – O Super Bowl apresenta vários anúncios de criptomoedas, incluindo um da FTX, no qual o ceticismo do ator Larry David para FTX é comparado ao ceticismo dos primeiros humanos com a invenção da roda. 

Maio – A Universidade de Stanford, onde os pais de Bankman-Fried trabalhavam, recebe US$ 5,5 milhões em doações da FTX até aquele ponto. 

Julho – Bankman-Fried “salva” empreendimentos cripto em dificuldades, com empréstimo de US$ 250 milhões para a BlockFi e US$ 200 milhões em crédito à Voyager Digital – apenas dois exemplos. 

Setembro – A Bloomberg questiona um conflito de interesses que a Alameda, fazendo milhões de dólares por dia em negociação de arbitragem de Bitcoin, é um “criador de mercado” para a FTX. Bankman-Fried argumenta que a Alameda fornece liquidez. 

2 de novembro – A CoinDesk publica documentos vazados da Alameda Research que revelam as participações FTT da empresa. Os documentos apontavam que a Alameda supostamente possuía apenas US$ 3,66 bilhões do total de US$ 5,1 bilhões em FTT em circulação, além de outros bilhões em garantias de FTT. 

6 de novembro – O CEO da Binance diz que vai vender os seus US$ 580 milhões em FTT.

8 de novembro – Os clientes da FTX solicitam um total de US$ 6 bilhões em retiradas e os saques são interrompidos. Zhao se oferece para comprar a FTX fora dos EUA, mas desiste um dia depois.

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10 de novembro – A Comissão de Valores Mobiliários e o Departamento de Justiça dos EUA começam a investigar a FTX

11 de novembro – Bankman-Fried renuncia ao cargo de CEO da FTX e a exchange pede recuperação judicial nos EUA. Os relatórios indicam que faltam mais de US$ 10 bilhões em ativos de clientes da FTX. 

16 de novembro – Larry David e outras celebridades que promoveram a FTX enfrentam ações judiciais por práticas enganosas.

12 de dezembro – Bankman-Fried é preso nas Bahamas e posteriormente indiciado por um grande júri federal dos EUA por fraude e conspiração.

21 de dezembro – Bankman-Friend concorda em ser extraditado para os EUA. O cofundador da FTX, Gary Wang, e a namorada de Bankman-Fried, a CEO da Alameda, Caroline Ellison, se declaram culpados de acusações. 

22 de dezembro – Depois de uma primeira aparição no Tribunal Federal, Bankman-Fried é libertado com uma fiança de US$ 250 milhões para permanecer na casa dos seus pais na Califórnia. 

2023

Janeiro – O julgamento é agendado para outubro de 2023, uma vez que Bankman-Fried se declara inocente. 

Fevereiro – O diretor de engenharia da FTX, Nishad Singh, também se declara culpado e, tal como Wang e Ellison, concorda em cooperar com os procuradores, o que pode ajudar o processo contra Bankman-Fried. 

Agosto – Bankman-Fried é detido quando a sua fiança é revogada por suspeita de adulteração de testemunhas.

3 de outubro – Finalmente, SBF enfrentou julgamento por oito das 13 acusações. 

Que acusações ele enfrenta e por quê?

Bankman-Fried negou historicamente que a Alameda Research estivesse fortemente entrelaçada com a FTX, enfatizando que era um negócio completamente independente. As revelações da CoinDesk, que se tornaram o gatilho para o colapso da FTX em 2022, expuseram o contrário. 

A FTX deveria ter fundos de reserva para corresponder ao valor exato das participações em criptomoedas de seus clientes na plataforma. Em vez disso, não conseguiu atender às retiradas quando os usuários da FTX começaram a entrar em pânico em novembro de 2022 porque os fundos teriam sido encaminhados para outros lugares ao longo dos anos de operação de Bankman-Fried na exchange. 

O caso contra o ex-CEO acusa-o de enviar fundos de clientes FTX para as contas da Alameda Research para financiar as suas atividades, incluindo negociações de alto risco. Ainda há US$ 8,9 bilhões de fundos de clientes FTX em falta. 

As acusações apresentadas pelo Departamento de Justiça dos EUA decorrem de alegações de que Bankman-Fried e potencialmente seus colegas administraram mal ou apropriaram indevidamente fundos para atividades de trading por meio da Alameda Research, outros investimentos e outras aquisições e compras, bem como para substanciais campanhas de marketing e doações políticas. 

A acusação também alega que Bankman-Fried autorizou o uso de bilhões da FTX para pagar dívidas a credores externos. Outra estimativa é que Bankman-Fried se emprestou pelo menos US$ 1 bilhão para pagar um estilo de vida de luxo e aprovou empréstimos a seus pais e colegas de trabalho. 

O cofundador da FTX tem um total de 13 acusações contra ele, incluindo conspiração para cometer fraude eletrônica em clientes da FTX e credores da Alameda research, fraude eletrônica em clientes da FTX e da Alameda research, conspiração para cometer fraude em clientes da FTX relacionada à compra e venda de derivativos, conspiração para cometer fraude de valores mobiliários em investidores da FTX e conspiração para cometer lavagem de dinheiro. 

Bankman-Fried está enfrentando as primeiras sete acusações no julgamento que começou nesta terça-feira, dia 3 de outubro de 2023, e um segundo julgamento para as acusações restantes está marcado para março de 2024.

O Decrypt segue atualizando um blog ao vivo detalhando eventos e revelações do julgamento de Bankman-Fried. O julgamento em si pode durar até seis semanas e é um caso que foi descrito como “uma das maiores fraudes financeiras” da história dos EUA pelo procurador dos EUA de Nova York, Damian Williams.

*Traduzido por Gustavo Martins com autorização do Decrypt.

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