A internet do futuro, a Web3, sequer surgiu de fato e já está sendo substituída por algo ainda mais avançado, a Web5. É isso mesmo?
Jack Dorsey, antigo diretor executivo do Twitter, deixou seu cargo em dezembro de 2021. Desde então, ele tem trabalhado em um projeto paralelo de internet descentralizada baseado no Bitcoin, a qual denominou como Web5. De acordo com Dorsey, seu projeto busca trazer à tona essa aspiração de uma internet descentralizada, mas de uma forma superior à proposta pelos idealizadores da Web3. A seguir, veremos com mais detalhe quais são as diferenças entre os dois projetos.
Da Web1 à Web3
A história começou com a Web1, a primeira World Wide Web criada nos anos 80 e popularizada nos anos 90. Nessa primeira versão de internet, as páginas podiam ser visitadas e consultadas, mas sem possibilidade alguma de interação com o usuário. Isso só foi possível com a iteração seguinte, a Web2, que é o formato usado até hoje.
A Web2, ou Web 2.0, permite a troca de informações entre usuários e servidores. Ambos podem ler e gravar dados. Com a evolução da tecnologia digital, dos computadores, do Wi-Fi e da internet por satélite, atingimos altíssimas velocidades e volumes de trocas de dados on-line, permitindo a criação de incontáveis sites e experiências de uso. A revolução digital dos últimos 30 anos aconteceu graças a esses avanços tecnológicos e à consolidação da Web2.
A Web3 seria a próxima etapa desse processo. Ainda em fase de concepção e experimentação, a Web3 se baseia em dois pilares: automação/inteligência artificial e descentralização. A base que sustenta esses pilares é a tecnologia blockchain.
Os componentes da Web3 ao longo dos próximos anos terão, segundo as conjecturas, forte influência dos NFTs, metaversos, dApps, criptomoedas, blockchains e possíveis outras funcionalidades ainda não imaginadas. Estes são todos temas de interesse econômico internacional em rápido desenvolvimento nos últimos anos, além de serem constantes tópicos de discussão, polêmica e regulamentação.
As críticas de Jack Dorsey à Web3
Não satisfeito com o rumo de desenvolvimento tomado pela comunidade em direção à Web3, Jack Dorsey resolveu deixar esse conceito completamente de lado e alavancar o que ele próprio acredita ser o futuro da internet, criando o termo Web5.
A maior crítica de Jack é de que o ecossistema Web3 se tornou uma rede obscura, uma espécie de reduto especulativo utilizado pelas startups, empresas e capital de ventura primariamente para acumulação de dinheiro e poder. Ele critica a falsa estampa de “descentralização” utilizada por essas entidades, sendo elas as verdadeiras donas da Web3, não os usuários.
Web5
A proposta da equipe de Jack Dorsey com a criação da Web5 se baseia na disponibilização de uma nova plataforma para desenvolvedores. Eles terão recursos para “alavancar Identificadores Descentralizados, Credenciais Verificáveis e Nós Web Descentralizados para programar Aplicativos Web Descentralizados, devolvendo a propriedade e o controle sobre identidade e dados aos indivíduos”.
Leia Também
As intenções propostas com a Web5 são as mesmas da Web3, porém Jack afirma que a última está falhando no cumprimento de suas promessas. A Web5 contorna o problema ao se valer de ferramentas diferentes, que impedem a centralização de recursos e dados. Ela será fortemente alicerçada no Bitcoin e em diversos utilitários computacionais, entre os quais citam-se identificadores descentralizados, um webnode descentralizado, um serviço de identidade auto-soberana e um kit de desenvolvimento de software de identidade auto-soberana.
Com esses recursos, o projeto afirma que criará um ambiente no qual desenvolvedores poderão focar na criação de experiências Web tão avançadas quanto queiram. Enquanto isso, a tecnologia de descentralização de identidade e dados impedirá que terceiros ganhem acesso ou propriedade sobre os dados dos usuários.
As questões de propriedade de dados e da Indústria do Big Data se tornaram um mercado internacional multibilionário. Esse assunto preocupa muitos governos e incitou uma onda de regulamentação global, com a criação de leis como a LGPD (Brasil) e a GDPR (Europa). Jack afirma que esses problemas não terão mais tanta relevância em uma verdadeira internet descentralizada, como o modelo da Web5, no qual os usuários serão os únicos donos de seus próprios dados.
A Web5 é, de fato, a nova “internet do futuro”?
Muitos se animaram com o projeto Web5, que promete encaminhar a idealização de uma internet justa, segura e descentralizada.
Contudo, também vieram críticas. Johny Clark, cofundador de uma startup para adequação à GDPR, alegou em uma entrevista que Jacknão mudará muita coisa. O modelo Web5 combina Web2 e Web3, ainda dependendo de um banco de dados central. Segundo Johny, ele enfrentará dificuldades tanto de escalabilidade quanto de adoção em massa.
Outros criticam o foco da ferramenta na blockchain e na criptomoeda Bitcoin, o que limita os desenvolvedores em seus novos projetos. As maiores ressalvas estão relacionadas às possibilidades de escalabilidade e velocidade, especialmente com a criação de uma rede Web dentro dessa blockchain.
De qualquer forma, é muito cedo para se dizer se Jack realmente entregará o que propõe, ou se tudo não passa de uma estratégia para lançamento de mais uma plataforma Web3 camuflada de inovação. É preciso ter cautela diante do impacto causado por termos como “Web5”, que prometem uma revolução per se, mas que só poderá ser confirmada após a demonstração de resultados ao longo dos próximos meses.
Sobre o autor
Fares Alkudmani é formado em Administração pela Universidade Tishreen, na Síria, com MBA pela Edinburgh Business School, da Escócia. Naturalizado Brasileiro. Atua como Business Development Manager Brasil na Kucoin.