Empresas fabricantes de processadores, como NVIDIA e AMD, costumam ter linhas destinadas exclusivamente à mineração de Bitcoin e outras criptomoedas. Enquanto a AMD vem diminuindo seu foco nesse tipo de produto, outra empresa, a Intel, traz planos ambiciosos para estrear no ramo.
Na sexta-feira, 11 de fevereiro, a Intel deu mais detalhes sobre um novo hardware voltado para o mercado de mineração de criptomoedas. A notícia já havia “vazado” em janeiro, quando a empresa deu a entender que anunciaria a novidade na Conferência Internacional “Solid-State Circuits”, nos EUA, dia 23 de fevereiro.
O novo processador da Intel promete impactar a mineração de Bitcoin, oferecendo um chip de tensão ultrabaixa com 1000 vezes mais eficiência por Watt gasto do que processadores GPU. O chip seria extremamente pequeno, com baixo impacto no fornecimento de matéria prima para outros semicondutores da empresa. Especificações técnicas e maiores detalhes serão revelados no evento.
Uma das grandes questões associadas à mineração de criptomoedas, atualmente, é o impacto ambiental causado pela atividade, que consome muita energia elétrica. A criação de processadores mais eficientes, como promete a Intel, pode contribuir para colocar a atividade mais próxima da sustentabilidade.
GPUs vs. ASICs
A mineração baseada em SHA-256, que inclui o Bitcoin e algumas outras criptomoedas, requer que uma unidade de processamento trabalhe na resolução de uma questão matemática de alta complexidade.
Essa solução requer múltiplas iterações e é influenciada por fatores aleatórios. Isso significa que a máquina mais rápida, que conseguir realizar mais “tentativas” em menos tempo, terá mais chances de encontrar a solução correta.
A máquina vitoriosa recebe, sozinha, as recompensas do algoritmo de mineração, que hoje são 6,25 BTC mais as taxas de transação incluídas no bloco. Caso o dono da máquina opte por participar de uma “pool de mineração”, a recompensa recebida será dividida entre todos os integrantes.
No início, os mineradores de Bitcoin utilizavam CPUs convencionais. Hoje, existem duas opções de arquitetura de hardware melhor projetadas para a realização de cálculos repetitivos: GPUs e ASICs.
O poder de processamento desses equipamentos é medido pela taxa de hash, algo como o “número de tentativas por segundo”. Os dois tipos trazem pontos positivos e negativos, dependendo da escala de utilização. E a procura por ambos sempre tende a disparar quando as criptomoedas estão passando por uma valorização.
As GPUs são as Unidades de Processamento Gráfico, processadores empregados em placas de vídeo destinadas à renderização de gráficos em tempo real. São tradicionalmente usadas para jogos, sendo a NVIDIA uma das maiores fabricantes.
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A configuração de uma GPU para uso em mineração é relativamente simples, os preços são mais acessíveis e muitos usuários já a possuem nos seus computadores. Isso faz com que elas se tornem “porta de entrada” para novos aspirantes a mineradores.
GPUs liberam menos calor do que processadores ASICs, consomem menos energia e podem ser instaladas em casa, em pequenos lotes ou como unidades individuais. Contudo, têm taxa de hash consideravelmente menor.
Já os ASICs, Circuitos Integrados de Aplicação Específica, são chips desenvolvidos especificamente para uma única tarefa: minerar criptomoedas. São mais robustos e, naturalmente, mais eficientes energeticamente e em taxa de hash, que pode ser 100 mil vezes maior.
São um investimento mais alto, sendo comprados em grandes lotes. Eles compõem a maior parte das instalações industriais de mineração modernas, e não têm nenhuma utilização entre gamers e usuários comuns.
Isso faz com que não possam ser revendidos e acabam virando lixo eletrônico ao se tornarem obsoletos tecnologicamente, diferentemente do que acontece com as GPUs.
Os ASICs demandam muita energia, produzem muito calor e mais ruído, necessitando de infraestrutura secundária para um bom funcionamento e de uma instalação elétrica mais robusta. Isso pode torná-los inviáveis para uso em ambiente doméstico.
O processador ASIC da Intel
A Intel já estreou com vários clientes. Os primeiros são a Argo Blockchain e a Block (antiga Square, de Jack Dorsey), que receberão as peças produzidas ainda esse ano. A Griid também assinou um contrato com a Intel, que se comprometeu a fornecer 25% de toda sua produção até 2025.
O hardware que está sendo lançado é do tipo ASIC, e declaram que seja 1000 vezes mais eficiente que uma GPU padrão. Contudo, ele não deve ser tomado, ainda, como uma solução para a alta demanda energética da mineração de criptomoedas.
Como foi explicado acima, já é normal que ASICs tragam desempenho superior às GPUs, pois são fabricados para uso intensivo em instalações de mineração industrial. Somente após a apresentação das especificações técnicas, no próximo dia 23, será possível a tomada de conclusões sólidas a respeito do impacto dessa nova tecnologia.
Sobre o autor
Fares Alkudmani é formado em Administração pela Universidade Tishreen, na Síria, com MBA pela Edinburgh Business School, da Escócia. Naturalizado Brasileiro. Atua como Business Development Manager Brasil na Kucoin.