Letreiro "Zuzalu" em chamas em uma praia com diversos participantes
Participantes durante o evento Zuzalu de 2023 (Reprodução Twitter)

Cerca de 200 participantes que ocupam posições importantes nas áreas da indústria das criptomoedas, farmacêutica, da política e da academia voltaram para casa no fim de semana passado, após passar mais de dois meses no Zuzalu: uma “comunidade pop-up” experimental concebida pelo criador do Ethereum, Vitalik Buterin.

Desde março, os participantes do Zuzalu (zuzalans, como eles se autodenominam) abandonaram temporariamente suas respectivas vidas e identidades para se tornarem os primeiros cidadãos de uma suposta nova civilização – fundada entre os hotéis resort e Airbnbs de Lustica Bay, em Montenegro (pequeno país na região dos Bálcãs, na Europa) e encarregados de imaginar o que consideram ser um novo futuro para a humanidade.

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Ao longo do caminho, os participantes discutiram o papel das criptomoedas, das redes blockchain e, é claro, da Inteligência Artificial (AI) – todas as tendências dominantes atualmente nos círculos tecnológicos.

Mas a experiência também se concentrou em tópicos como a longevidade humana e o conceito de “estado de rede” popularizado pelo ex-CTO da Coinbase, Balaji Srinivasan. (Ele apareceu remotamente para um painel de discussão Zuzalu que um engenheiro presente chamou de “apresentação Doomer”.)

A nova conferência foi descrita por alguns como um Burning Man para futuristas, por outros como um acampamento para a elite cripto e por muitos participantes como uma experiência transformadora com implicações históricas para o potencial biológico, político e social de nossas espécies.

Então, como foi realmente estar em Zuzalu?

“Cada pessoa aqui acredita que pode mudar o mundo”, disse Hannah Hamilton, co-fundadora do protocolo de finanças descentralizadas Asymmetry, ao Decrypt. “Normalmente, você encontra uma pessoa que acredita que pode mudar o mundo – mas ali são todos.”

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Na segunda noite de Hamilton em Zuzalu, ela foi abordada durante uma festa em um apartamento por um homem que perguntou se ela achava que poderia mudar o arco da história humana. Isso é conversa fiada típica de Zuzalan; um quebra-gelo popular na conferência é perguntar a um conhecido com que idade ele acha que vai morrer. As respostas geralmente variam de 80 a “nunca”.

Hamilton inicialmente zombou do homem, dizendo-lhe que não, ela não achava que poderia mudar o mundo sozinha. O homem a informou que ela estava errada.

“Você já está mudando,” ele disse a ela. O protocolo financeiro de Hamilton está moldando o Ethereum, em sua opinião, e o próprio Ethereum está moldando a economia mundial e uma rede global descentralizada de informações. Hamilton agora acredita que pode e terá um impacto direto no destino da humanidade.

“Zuzalu mudou minha vida”, disse ela, “literalmente em poucos dias”.

A própria vida em Zuzalu era descentralizada, com conversas improvisadas e seminários planejados entre os próprios participantes, que conduziam a cadência da conferência.

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Os dois principais centros sociais da sociedade zuzalan foram o café da manhã – servido todos os dias, vegetariano, em um restaurante montenegrino local tomado pelo evento – e a sauna no Chedi Lustica Bay, o hotel cinco estrelas que a maioria dos zuzalans chamou de lar temporariamente.

Por um tempo, a sauna do Chedi foi palco de uma série de conversas organizadas por zuzalans e orientadas para a filosofia, apropriadamente intituladas “Filósofos da Sauna”. Depois que mais de 30 pessoas começaram a comparecer regularmente, a administração do Chedi Hotel solicitou sua descontinuação imediata.

“A equipe do hotel não gosta quando você tem eventos na sauna”, disse o desenvolvedor e empresário Philippe Dumonet, outro zuzalan, ao Decrypt.

Se a maioria dos eventos Zuzalu eram informais até certo ponto, isso também significa que qualquer momento, mesmo uma festa em casa, estava pronto para otimizar o potencial humano. Um grupo de zuzalans trouxe uma grande pilha de bolívares – a hiperinflada moeda venezuelana – com eles para Montenegro; eles então distribuíram as notas quase sem valor como convites seguros e não fungíveis para uma festa.

Alguns riram do movimento, como se ele fosse uma pegadinha. Mas quando os possíveis foliões chegaram à reunião mais tarde naquela noite, eles foram rejeitados imediatamente se não pudessem apresentar um bolívar – além de serem forçados a abrir mão permanentemente de seu próprio bolívar se trouxessem um convidado incapaz de apresentar uma nota.

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Os bolívares logo se tornaram uma mercadoria quente entre os zuzalans e acabaram logo depois. Seus distribuidores desenvolveram um aplicativo por meio do qual os detentores de bolívares podem inserir os números de série de suas notas e criar IDs virtuais autenticados que possam um dia (ou assim esperam seus criadores) ser usados para criar um sistema de comprovação para aumentar os grupos sociais.

Exceto por tais instâncias de exclusividade projetadas em nome da expansão do potencial humano de confiança, Zuzalu parecia muito aberto e acolhedor, de acordo com os participantes com quem o Decrypt conversou. E em um grupo tão pequeno de pessoas, os zuzalans que pensam da mesma forma gravitaram naturalmente um em direção ao outro.

https://twitter.com/stutireal/status/1657770762399277056

Uma dessas tribos que ganhou notoriedade em Lustica Bay é um grupo de zuzalans que estão confiantes de que alcançarão a imortalidade. Eles conquistaram uma reputação no campus balcânico de Zuzalu pela força absoluta de sua confiança empreendedora diante da maior falha de design da humanidade: a morte.

“Esse é um dos que pensam que não vão morrer”, disse Hamilton, da Asymmetry, que ela e seus amigos sussurravam nas ruas de Lustica quando tais zuzalans passavam.

Mas para muitas das mentes presentes em Zuzalu, enganar a morte é apenas a próxima fronteira no desenvolvimento da humanidade – e uma que pode trazer seus próprios problemas.

Um amigo de Hamilton expressou a ela que alguns humanos alcançando a imortalidade inevitavelmente levarão à amargura e ressentimento entre as classes inferiores de mortais.

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“Haverá uma guerra contra as pessoas que vivem para sempre, e todos morrerão”, acreditam eles, conforme relatado por Hamilton.

Felizmente, Zuzalu tem um plano de backup em caso de tal ocorrência. De acordo com fontes com as quais Decrypt conversou, alguns zuzalans acham que a criação de um estado-nação reservado exclusivamente para pessoas que vivem para sempre poderia resolver questões de segurança para essa população rarefeita.

Mas há mais preocupação entre os zuzalans de que, se uma nação apenas de imortais fosse criada, ela poderia ser vulnerável a um vírus projetado para se ligar a medicamentos essenciais para o processo de manutenção dessa imortalidade.

As estratégias para navegar nesse cenário específico ainda não foram concebidas. Mas Zuzalu deve voltar no ano que vem.

*Traduzido por Vini Barbosa com autorização do Decrypt.

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