Imagem da matéria: Uniswap e Metamask coletam informações e geram debate: é errado que empresas rastreiem dados?
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Como se não houvesse problemas o suficiente no mercado cripto atualmente, os entusiastas de DeFi agora estão alvoroçados com as revelações de que a Uniswap, a popular exchange descentralizada (DEX), rastreia dados de seus usuários.

É verdade que a exchange não rastreia dados pessoais e privados, como nomes ou endereços IP, mas de acordo com o documento de Termos e Condições atualizados no site, praticamente qualquer coisa publicamente visível on-line é agregada e coletada. E não é só isso: no início desta semana, a Metamask, a popular carteira Ethereum, confessou que rastreia os endereços IP de seus usuários. 

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Entre as muitas curiosidades coletadas pela Uniswap, de acordo com sua política de privacidade, são dados públicos de blockchain, preferências do usuário, metadados móveis e de navegador, dados biográficos incluídos em pesquisas com clientes (que, confusamente, incluem nomes) e comunicações de atendimento ao cliente, juntamente com informações de provedores de serviços terceirizados sobre “atividades ilícitas ou outras atividades fraudulentas.” 

Segundo eles, esses dados do usuário são coletados para “melhorar a experiência do usuário” da DEX.

E a quem fornece esses dados?

Apenas prestadores de serviços, agentes da lei, tribunais (em conformidade com um mandado), corretoras e advogados de fusões e aquisições, para citar algumas entidades. Basicamente, qualquer pessoa e todos que possam estar de alguma forma tangencialmente envolvidos com a Uniswap Labs, a entidade legal por trás da exchange.

O incômodo é que ela tem feito isso há anos, aparentemente! Mas está contando isso aos usuários somente agora. 

E oh, como esses usuários estão escandalizados. 

“A descentralização é um mito?” Um desacreditado do DeFi gritou no Cripto Twitter, onde eu busco todas minhas fontes e histórias, sem exceção. 

Outras citações apocalípticas abundam—basta digitar “Traição com dados do Usuário Uniswap ” na barra de pesquisa do Twitter.

Até certo ponto, o “Medo, a Incerteza e a Dúvida” (o FUD) não são totalmente injustificados.

Como um analista DeFi solícito, que atende pelo nome de Yoda Research me explicou, a revelação reflete a “tendência contínua de centralização no setor cripto.” A Política de Privacidade, observa Yoda, não foi determinada pelo Uniswap DAO e, em vez disso, foi administrada de forma unilateral, provavelmente por sua equipe principal de desenvolvedores.

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“O ethos central do DeFi está desaparecendo e muitas vezes já desapareceu há muito tempo”, lamentou o pesquisador. “É uma fachada vazia.”

Para muitos no DeFi, os T&Cs da Uniswap são uma introdução indesejável no DeFi da coleta de dados, e das sensibilidades da Web2. 

Os dados do usuário em questão são rastreados através do site Uniswap, cujo backend é fechado ao público e é administrado por um pequeno grupo de desenvolvedores que trabalham para a Uniswap Labs, a empresa que desenvolve a exchange—ou seja, o protocolo subjacente que existe na blockchain.

Este grupo, que recebeu 40% dos lucros do mint original do token da Uniswap, terá, após um período de aquisição de quatro anos, um aumento da influência sobre o mecanismo de governança da exchange. 

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Como foi destacado pelo entusiasta radical da descentralização, Chris Blec, a equipe da Uniswap, que uma vez já foi um time de devs linha-dura e anti-establishment, foi invadida pela velha guarda do velho mundo.

Entre seus membros estão executivos da NYSEda BlackRock, e da empresa de tracking de dados, Chainalysis, bem como um antigo porta-voz do Governo Obama e uma economista do Federal Reserve. Não os tipos que você esperaria trabalhando em um hub de trade cyberpunk! Eu me lembro dos dias inebriantes de plataformas genuinamente descentralizadas como Augur, onde absolutamente ninguém envolvido na plataforma jamais admitiria qualquer grau de controle centralizado. (O que, discutivelmente, pode explicar o porquê dessas plataformas nunca terem decolado, de fato.) 

Um tweet engraçado de uns anos atrás me vem à mente. Foi irônico, mas, no entanto, capturou o espírito predominante da época: “ninguém ‘dirige’ uma empresa de criptoativos…somos meramente os agentes mortais de cujas obras menores o sonho de uma criptomoeda de contabilidade desagregada se manifesta neste mais indigno dos Planos de Matérias Primordiais.” 

Mas o interessante é que estes protocolos têm profissionais internos de Relações Públicas. 

Talvez haja alguma justificativa jurídica. Estamos agora em um admirável mundo novo onde os desenvolvedores cripto podem ser presos por capricho dos governos, como aconteceu com um desenvolvedor da plataforma de privacidade Tornado Cash na Holanda. Ainda esta semana, as autoridades holandesas decidiram que o programador em questão deveria ficar atrás das grades por mais três meses antes do início do julgamento, rotulando-o com um risco de fuga.

Embora o próprio Uniswap possa agora ter transcendido a mera jurisdição legal, existindo apenas como um manto de névoa digital dispersa no tempo e no espaço, os desenvolvedores – principalmente norte-americanos da exchange – ainda são desse plano mortal. (A Uniswap Labs não confirmou ou negou se as recentes prisões no mundo DeFi estimularam sua decisão de divulgar a política de dados). 

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A verdade é que, além de protocolos inalterados como o Bitcoin, qualquer tipo de interface acessível por pessoas normais, não envolvidas com criptografia, é geralmente executado por um núcleo humano com algum grau de influência centralizada.

Talvez atualizações para o HTML devem ser colocadas para votação e ratificadas por todos os membros da comunidade DAO; talvez cada pequena alteração deva passar pelo GitHub, primeiramente. Meu bom amigo Yoda acredita que literalmente tudo deve ser deixado para a comunidade decidir, mas “o mínimo necessário para se operar em uma zona de jurisdição.” Qualquer coisa além disso é motivada financeiramente, eles argumentam. 

Mas se a verdadeira descentralização exigir a desintermediação do design da web também, e deixá-lo para uma tropa distribuída de diletantes cyberpunks, teremos em uma estética verdadeiramente horrível da década de 1990 nas Finanças Descentralizadas. E não sei se o meu modem aguenta isso.

*Traduzido por Gustavo Martins com autorização do Decrypt.

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