Planilhas e contas da Unick Forex levantadas pela Polícia Federal mostram que era impossível a empresa pagar todos os seus clientes mesmo que os traders dela lucrassem em 100% em suas operações. A questão é que a dívida era em bilhões de reais e os ganhos (quando tinha) eram alguns poucos milhares de reais.
De acordo com os regramentos da empresa, o trader teria direito a 45% do total sobreposto ao saldo inicial somado aos 15% da meta mensal. O restante, portanto, era destinado para a Unick. A empresa ainda estabelecia que cada trader deveria ter pelo menos US$ 100 mil.
No Inquérito da PF, em documento que o Portal do Bitcoin teve acesso, mencionou que se tratava de “valores bem abaixo do que era esperado, visto o volume captado”.
Unick Forex e os traders
Marcos Kronhardt, dono da MSK Soluções Financeiras e principal trader da Unick Forex, era o que mais faturava com bonificação. Mesmo assim, o valor que ele operava era muito baixo frente ao necessário para a Unick cumprir o que prometia.
A remuneração normal de cada trader que trabalhava para a Unick era de R$ 3 mil. Haviam outras bonificações mas nenhuma se comparando a essa alcançada por Kronhardt. Do geral, quando havia algum bônus, não ultrapassava a R$ 5 mil.
Dos seis traders expostos, metade conseguiu a remuneração extra. Sendo que um deles levantou um pouco mais de R$ 2 mil por “despesas” e o outro recebeu apenas R$ 4.542,67 pela bonificação em si.
O mais influente dos traders, e o que tinha papel influenciador no esquema, Kronhardt recebeu R$ 31.885,28, incluindo nesse cálculo uma bonificação de R$ 3.163, 66, a qual se remete a “5% dos traders” que também foram bonificados. O documento com a relação dos Traders é assinada pelo próprio Marcos Kronhardt.
Em 2018, porém, outras planilhas mostravam com mais profundidade a situação. A planilha “Controle de Saldos Pepperstone”, de outubro daquele ano, mostra o saldo das operações diárias de cada traders da Unick Forex.
A conta #10, operada pelo trader “Ramires Rio”, por exemplo, fechou o mês de outubro com prejuízo de 49,50%, totalizando R$ 16.039 de prejuízo. O mesmo trader em outra conta teve lucro de 171%, somando R$ 30.459,30.
Promessa impossível
O ponto é que, mesmo que todos os traders tivessem lucro, com o capital que eles operavam era impossível manter a rentabilidade fixa que eles prometiam aos investidores. A Unick oferecia dobrar o capital dos clientes em seis meses.
Esse fato, inclusive, de a Unick Forex prometer mundos e fundos foi o que causou mal estar entre ela e a corretora de forex australiana Pepperstone pela qual a empresa operava.
Em junho de 2019, um dos diretores de nome Andrew chegou a enviar um e-mail questionando Leidimar Lopes sobre a promessa de rentabilidade de 3% ao dia. O presidente da Unick Forex, então, foi alertado que tal conduta poderia levar ao encerramento das negociações entre as duas empresas.
“O nosso tradutor de português mencionou que você tem anunciado a duplicação do capital em 6 meses, além de ganhar 1,5 a 3% diariamente? Infelizmente, isso vai contra nossas Diretrizes de marketing e pedimos que você adicione uma representação mais equilibrada de risco/recompensa quando se trata de anunciar seus serviços”.
Sem valor legal
Esse e-mail foi enviado antes de LEI (Legal Entity Identifier) estar prestes a ser vencida. O tão comentado registro de legalidade da Unick Forex, porém, não passava de uma certificação da Bloomberg para mostrar a existência da empresa. Esse registo, por outro lado, era importante para que ela continuasse a operar na Pepperstone.
Apesar de não possuir valor legal algum, Lopes questionou a Kronhardt, por meio de WhatsApp, se valeria a pena renovar esse registro que venceria em novembro de 2019, ou se deixaria para lá e não operar mais com a Pepperstone:
“ Eu acho que vamos renovar, né? Ou você acha que não vamos mais operar com ela? Se não vamos mais operar com ela… não operamos”, disse Lopes.
Kronhardt, o trader da Unick Forex
O dono da MSK não era um mero trader. Ele era um parceiro de Lopes na suposta organização criminosa. A disparidade entre os ganhos dele e dos outros traders se explicava pelo fato de ele seguir, além do Forex, operando com criptomoedas. A negociação com criptomoedas, apontou a PF, era segunda fonte de renda da empresa de Leidimar Lopes.
A PF, porém, afirmou que “há indicativos de que a Unick, por meio de Marcos da Silva Kronhardt, operasse com volumes considerados baixos frente aos valores mencionados no decorrer da investigação”.
Segundo a investigação, Lopes teria dito que estava quase enriquecendo, “uma vez que teriam mais de ‘um milhão’, o que se sugere ser mais de um milhão de dólares estadunidenses na plataforma”.
Esse valor, no entanto, era “diminuto, face ao patamar daquilo que teria sido captado pela organização”. A Polícia Federal concluiu por suas investigações que “não é possível, com o rendimento de um valor deste patamar investido, remunerar o retorno prometido aos investidores”.
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