Com toda a discussão sobre como a legislação de stablecoins nos Estados Unidos pode ou não impactar negativamente emissores estrangeiros, você poderia esperar que o maior (e mais controverso) emissor do planeta estivesse sentindo a pressão. Mas esse não é o caso, segundo Paolo Ardoino, CEO da Tether.
Na verdade, a Tether não tem grandes problemas com a possibilidade de sua stablecoin principal, a USDT, ser banida nos Estados Unidos por uma nova legislação regulatória, disse Ardoino ao Decrypt na sexta-feira (4).
Para contornar essa possível questão, a Tether está considerando criar uma nova stablecoin domiciliada nos EUA que esteja em conformidade com as futuras leis americanas sobre stablecoins, afirmou Ardoino.
“Acreditamos que nossa principal stablecoin é perfeita para mercados emergentes, mas podemos criar uma stablecoin de pagamento que funcione para os EUA”, disse Ardoino. “Precisamos ter dois produtos com duas propostas de valor diferentes.”
Stablecoins são ativos digitais geralmente atrelados ao dólar americano, projetados para manter um valor estável e permitir que os traders de criptomoedas entrem e saiam de posições sem acessarem dólares diretamente. Elas são, de longe, os ativos digitais mais negociados no mercado, movimentando dezenas de bilhões de dólares em volume todos os dias.
Com projetos de lei paralelos sobre stablecoins avançando na Câmara e no Senado dos EUA, surgiram muitas dúvidas sobre o destino da Tether, de longe a maior participante do mercado.
Tal como estão escritos atualmente, tanto o projeto STABLE da Câmara quanto o projeto GENIUS do Senado exigiriam que emissores estrangeiros de stablecoins, como a Tether — sediada em El Salvador —, cumpram os rigorosos requisitos contra lavagem de dinheiro da Lei de Sigilo Bancário e passem por auditorias rigorosas de suas reservas.
A Tether, gigante das stablecoins com US$ 144 bilhões em circulação, nunca se submeteu a uma auditoria financeira completa, e críticos e concorrentes argumentam que a empresa deixaria completamente os EUA se fosse obrigada a cumprir regras detalhadas contra o terrorismo e lavagem de dinheiro. Há anos, também se questiona se a Tether realmente possui o dinheiro que afirma ter para garantir cada token USDT — uma crítica que a empresa tem combatido vigorosamente repetidas vezes.
Ardoino afirma que a Tether tem “o mais alto nível de conformidade” entre seus concorrentes no que diz respeito à cooperação com as autoridades. Ele acrescentou que a empresa está atualmente em conversas com várias das “Big Four” (quatro maiores empresas de auditoria do mundo) sobre uma auditoria completa, mas que essas empresas têm sido, até agora, “com razão” cautelosas em se envolver com o novo mercado de stablecoins.
E quanto às teorias de que a Tether ficaria fora dos EUA por causa das novas leis sobre stablecoins? Ardoino diz que essas ideias têm “cheiro de desespero” dos concorrentes da Tether, que “apostaram tudo” que a empresa não participaria do mercado norte-americano.
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“Aqui estou eu”, disse Ardoino na sexta-feira, do escritório nova-iorquino da Cantor Fitzgerald. A firma de Wall Street, dirigida pelo Secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, e sua família, é a custodiante de grande parte das reservas da Tether em títulos do Tesouro dos EUA.
E ainda assim, apesar dessa demonstração recente de força nos EUA, Ardoino não parece interessado em fazer os ajustes necessários para permitir que a USDT seja emitida livremente no país. No geral, o CEO da Tether não parece muito preocupado com o estado atual da legislação americana sobre stablecoins. Ele diz estar mais focado nos mercados emergentes, onde a USDT se tornou uma potência nos últimos anos.
“Não achamos que haja nada particularmente problemático”, disse Ardoino sobre o conteúdo atual da legislação pendente dos EUA sobre stablecoins.
O CEO da Tether afirmou que é otimista quanto à possibilidade de a USDT continuar listada em mercados secundários dos EUA. Acrescentou que acredita que o acesso global à USDT é “muito importante para remessas”. Como está escrito atualmente, o projeto de lei do Senado sobre stablecoins apenas proibiria emissores não conformes de oferecerem tokens diretamente aos usuários americanos. O projeto da Câmara vai além, proibindo a negociação desses tokens por intermediários custodiais como a Coinbase dois anos após a entrada em vigor da lei.
Em algum momento nos próximos meses, essas diferenças terão que ser conciliadas antes que um projeto final — caso receba os votos necessários — seja encaminhado à mesa do presidente Donald Trump para assinatura.
Parece, no entanto, que nenhum dos projetos, tal como redigidos, proibiria explicitamente a negociação de USDT em exchanges DeFi (finanças descentralizadas) não custodiais como a Uniswap ou a Jupiter.
À medida que jurisdições ao redor do mundo começam a instituir regulamentações específicas para stablecoins, os negócios da Tether têm sido impactados em certos mercados. No início desta semana, a Binance removeu a USDT de seus sites europeus, uma vez que o token não está em conformidade com os novos requisitos da União Europeia para emissores de stablecoins.
Ardoino disse que, de forma semelhante à sua estratégia nascente nos EUA, a Tether investiu em várias empresas europeias que estão lançando stablecoins lastreadas em dólar e euro em conformidade com os regulamentos da UE.
Mas o executivo afirmou que enxerga um futuro de longo prazo em que a USDT não será uma grande participante nem nos Estados Unidos nem na Europa.
* Traduzido e editado com autorização do Decrypt.
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