O Departamento do Tesouro dos EUA está preocupado com o crescimento do mercado de stablecoins e acredita que as stablecoins de emissão privada devem ser substituídas por uma moeda digital do banco central (CBDC) apoiada pelo Estado, de acordo com um relatório do Tesouro divulgado na quarta-feira (30).
“De maneira semelhante a como as moedas ‘selvagens’ de emissão privada foram substituídas por moedas centrais apoiadas pelo governo no final dos anos 1800, as CBDCs provavelmente precisarão substituir as stablecoins como a principal forma de moeda digital que sustenta as transações tokenizadas”, disse o relatório, que foi preparado pelo Escritório de Gestão da Dívida do Tesouro.
As stablecoins dominaram grande parte do relatório de 132 páginas sobre o estado das finanças do Tesouro no quarto trimestre de 2024. Muito foi dito sobre a quantidade significativa de títulos do Tesouro dos EUA, também conhecidos como T-bills, que foram comprados por emissores de stablecoin, como Tether e Circle.
O Tesouro estima que US$ 120 bilhões em T-bills foram comprados para servir como garantia de stablecoin com rendimento. A maior parte dessa soma — quase US$ 81 bilhões — foi comprada pela Tether, a empresa por trás da maior stablecoin do mercado cripto, USDT.
Embora muitos defensores das stablecoins tenham argumentado que as stablecoins lastreadas em dólares dos EUA ampliam a força do dólar ao aumentar a demanda por T-bills, o Departamento do Tesouro parece não estar convencido.
O relatório de quarta-feira se concentrou na “ocorrência comum” de stablecoins que se desvalorizaram ou entraram em colapso total nos últimos anos, uma situação que o Tesouro acredita que pode levar a um desastre se as T-bills se tornarem cada vez mais integradas ao setor de stablecoins.
As stablecoins são um componente crucial do setor cripto. Ao manter um valor estável, elas permitem que os traders de criptomoedas entrem e saiam de posições sem tocar em uma moeda fiduciária como o dólar americano. As stablecoins também funcionam como equivalentes ao dólar em mercados onde é difícil obter dólares.
O Departamento do Tesouro estima que mais de 80% de todas as transações de criptoativos envolvem uma stablecoin. O USDT da Tether é, de longe, a criptomoeda mais negociada, gerando US$ 53 bilhões em volume de negociação somente nas últimas 24 horas.
E a crescente interconectividade de stablecoins e mercados financeiros tradicionais por meio de T-bills é motivo de preocupação, de acordo com o Departamento.
“Um colapso de uma stablecoin importante como a Tether poderia resultar em uma ‘venda a descoberto’ de seus títulos do Tesouro dos EUA”, disse o relatório. “Embora as stablecoins representem atualmente um segmento marginal do mercado de títulos do Tesouro, o crescimento ao longo do tempo pode expor esse mercado a um risco maior de vendas em massa devido a corridas no mercado de stablecoins.”
Assim, o relatório recomendou que o governo dos EUA eventualmente interviesse para substituir as stablecoins privadas por uma CBDC presumivelmente emitida pelo Federal Reserve.
Nos últimos dois anos, as CBDCs se tornaram cada vez mais polêmicas na política norte-americana. Vários legisladores republicanos proeminentes se comprometeram a impedir seu desenvolvimento, criticando uma stablecoin emitida pelo governo dos EUA como “o dólar digital do Big Brother” (em referência ao romance “1984” de George Orwell).
O ex-presidente Donald Trump também surgiu como um crítico vocal da CBDC enquanto fazia campanha para a reeleição este ano. Apesar dessa posição, o projeto cripto de Trump, o World Liberty Financial, planeja emitir sua própria stablecoin, como relatamos no início desta semana.
Trump e seus parceiros de negócios têm, há meses, enquadrado stablecoins privadas como um meio eficaz de promover a compra de T-bills e, portanto, o domínio do dólar americano em todo o mundo.
Esse plano pode ter seus adeptos, mas parece que o Tesouro dos EUA não é um deles.
*Traduzido por Gustavo Martins com autorização do Decrypt.
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