Mesmo com movimentos recentes do setor de fintechs e dos primeiros acenos do governo federal, o cenário para essas empresas ainda está longe de ser animador. Com o crédito mais escasso e a atividade econômica desacelerada devido ao Covid-19, o maior desafio atualmente será manter as operações e atravessar a atual crise da melhor maneira possível.
“Sobreviver é o mantra”, resume Rodrigo Quinalha, CEO da Kick Ventures, considerada pelo mercado uma das maiores e mais qualificadas Venture Builder Capital da América Latina em Startups.
Em entrevista ao Portal do Bitcoin, Quinalha disse ainda que, apesar do cenário econômico desfavorável, a atual crise pode gerar oportunidades a serem exploradas pelas fintechs que conseguirem se adaptar.
Portal do Bitcoin — Do ponto de vista do investidor, qual o cenário que se desenha devido a essa crise?
Rodrigo Quinalha — Acho que o grande desafio agora é entender como o mundo ficará após a crise. Terão certamente desdobramentos políticos, sociais, econômicos. Uma mudança fortíssima no comportamento econômico e consumismo das pessoas. Talvez uma mudança na mentalidade sobre trabalho remoto (empresas mais tradicionais cedendo um pouco) que pode impactar o setor imobiliário e econômico. Além disso, deve aumentar as discussões sobre renda básica universal, saúde para todos, entre outras iniciativas — mesmo nos países mais capitalistas, o que deve impor pressão nos níveis de endividamento e estrutura fiscal dos países.
Quais as principais dificuldades que as fintechs vêm relatando atualmente, de acordo com seu conhecimento?
Fintechs que sejam baseadas em receitas transacionais e B2C tendem a ter maiores dificuldades de se manterem competitivas e com caixa durante essa crise. Muitas deles tem buscado meios para proteger o caixa e ter liquidez para honrar seus compromissos. Sobrevivência é o mantra, agora.
Há uma possibilidade real de fintechs, tanto as de pequeno como de médio porte, quebrarem em virtude do atual cenário econômico?
Sim, sem dúvida alguma, precisamos ter em mente que temos por volta de 48 milhões de autônomos e micro-empreendedores serão impactados. E startups e fintechs de pequeno e médio porte possuem caixa normalmente restritivo e não tão extenso, com runway geralmente para apenas 6 a 18 meses, sofrerão grandes impactos.
Muitas fintechs cresceram em um contexto no qual podiam captar recursos e se expandir até obterem o chamado breakeven. Essa atual crise coloca em xeque esse modelo, na sua opinião?
Certamente, já está colocado o risco. A disponibilidade crédito e capital de risco (teses de investimento) serão revistos, por isso nesse momento fazer mais com menos será mantra principal. Proteger caixa existente de qualquer forma.
É possível dizer ou supor que havia uma “bolha” de fintechs, que talvez o mercado tenha crescido de forma pouco sustentável, e que essa crise tenha precipitado o estouro dessa “bolha”?
Não acredito em “bolha”, mas sim em um mercado gerado pelo fruto de atratividade e alavancagem natural a negócios de alta competividade e voláteis, como startups, onde o crescimento era mais importante que consolidação/breaking-even em alguns modelos.
E acredito, sim, que tivemos uma antecipação pelo Covid-19 de uma crise econômica global que já vinha se desenhando pelas máximas históricas atingidas. Teria uma correção provável que ocorreria mais cedo ou mais tarde.
As fintechs ganharam força ao explorar nichos de mercado deixados pelos bancos, especialmente após a crise de 2008. Você crê que o atual cenário, por outro lado, pode também gerar oportunidades a serem exploradas pelas fintechs?
Creio, sim, em novas oportunidades. Porém, as fintechs devem se atentar que os incentivos dos bancos de grande porte e de governos têm facilitado uma série de serviços aos clientes. Ser diferenciado e agregar valor será muito difícil às instituições financeiras de menor porte ou fintechs.
O que a situação enfrentada por fintechs no exterior, bem como eventuais respostas, têm mostrado para o setor no país?
Muitas fintechs de outros países cortaram novos investimentos e projetos, estão centrando em suas ofertas lucrativas e existentes, evitando novas experimentações. Elas já estão antevendo que precisarão de capital para passar pela tormenta, até mesmo sem a existência de rounds/aportes externos tão breves.
As fintechs costumam ter estruturas enxutas, que as ajudam a se moldar às novas tecnologias. Essa característica pode ser um diferencial às fintechs para lidar com esse cenário? Ou essa estrutura menos robusta é justamente uma desvantagem nesse contexto?
Tecnologia é a grande aliada a redução de custos e flexibilidade, um grande diferencial. Vejo somente como ponto positivo. Nesses momentos ser um jet-ski ou uma lancha ao invés de um transatlântico pode facilitar manobras e ajustes mais ágeis com menores passivos a curto prazo. A questão maior é que são mais frágeis quando tratamos de caixa e reserva de emergência — e nesse ponto [as fintechs] devem sentir fortemente.
Qual sua avaliação para as medidas recentes do governo federal para injetar recursos na economia e mitigar os efeitos do coronavírus?
Acho que foram importantes, mas são insuficientes frente a magnitude dessa crise instaurada. Precisaremos aumentar a dose e complementar com outras ações correlatas. Temos que entender que não é o lockdown temporário apenas (perda de receita imediata), é o impacto pós-crise: desconfiança, desemprego, retração econômica…
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