Às vezes, o chifre sai pela culatra. Na quarta-feira (6), Miami inaugurou uma estátua parecida com a Charging Bull, de Nova York, mas com aparência robótica. Trata-se do Crypto Bull, inspirado no universo das criptomoedas. No entanto, menos de 24 horas após a inauguração, a estátua do bovino virou motivo de chacota nas redes sociais — um caso que lembra o malfadado touro dourado da B3.
A inauguração do Crypto Bull foi feita na abertura do Bitcoin Miami, um dos maiores eventos do mundo no setor. Foi na edição do ano passado, por exemplo, que o presidente Nayib Bukele anunciou que El Salvador iria adotar o Bitcoin como moeda de curso legal.
Estátuas de touro são um dos principais símbolos de pujança de mercados financeiros. O maior exemplo é a própria escultura Charging Bull, em frente à bolsa de valores de Nova York. Construída em 1989, tornou-se uma das principais atrações da metrópole americana e sinônimo de resiliência nos negócios.
O mundo das criptomoedas tenta se colocar como o futuro e posicionar o mercado financeiro tradicional como ultrapassado. Por isso é significativo o tanto que os novos players emulam os antigos com termos, nomenclaturas e agora até mesmo uma estátua que é quase réplica com outro verniz.
O touro cripto pesa 1.361 quilos e tem 3,35 metros e será posteriormente transferida para o Miami Dade College Campus.
Veja abaixo o momento da inauguração:
Atrás do Touro do Bitcoin
No entanto, bastaram as imagens da inauguração para transformar a estátua em piada em meio ao universo das criptomoedas. Em grande parte, pela escultura não ter a representação de testículos. No original de Nova York, a tradição é que passar as mãos no testículo da estátua traz dinheiro.
O fato despertou um turbilhão de memes, montagens e gracejos nas mídias sociais. Um usuário do Twitter, por exemplo, disse que castrou o touro de Miami e que está vendendo os testículos por 10 bitcoins.
Acabamento contemporâneo e harmonia com objeto
Já escultora Anita Kaufmann, formada pela FAAP em Artes Plásticas, vê com bons olhos a obra de Miami. Ela já teve trabalhos expostos em diversos locais, como Praça da Sé, Avenida Paulista, Parque Ibirapuera, Parque Trianon e Parque do Povo.
“A escultura do Touro colocada defronte ao estabelecimento do evento sobre o Bitcoin tem o acabamento e a finalização da escultura muito contemporânea, dialogando perfeitamente com o produto”, disse ao Portal do Bitcoin.
Touro e vaca da B3
A epopéia do Crypto Bull já teve elementos similares no Brasil. Em novembro do ano passado a B3, bolsa de ações do mercado brasileiro, inaugurou na frente de sua sede em São Paulo o “Touro de Ouro”, também em homenagem ao Charging Bull novaiorquino.
A obra teve como mecenas o apresentador e influenciador digital Pablo Spyer e foi feita pelo artista plástico e arquiteto Rafael Brancatelli.
O touro paulista durou pouco. Após uma enxurrada de críticas e memes, a escultura foi pixada diversas vezes e se transformou até em cenário de um churrasco feito por uma ONG para moradores sem-teto do centro de São Paulo.
Afinal a prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento (SMUL), determinou a retirada, alegando que a empresa não tinha licença para estar no local, e que possuía caráter publicitário.
Mas o episódio não acabou ali. Uma estátua dourada de uma vaca famélica foi colocada na frente da B3 como forma de protesto.
A obra de arte foi produzida pela artista Márcia Pinheiro, que busca ações “com objetivo de fazer refletir, sensibilizar e discutir, aproximando as pessoas da realidade através da arte”, diz em seu site.
Anita Kaufmann, por sua vez, lembra que a “imagem do animal Touro é universal e de fácil leitura e identificação” e que São Paulo poderia ter acolhido a estátua na frente da B3. “Lastimo como escultora a polêmica e a retirada da escultura do Touro em São Paulo”.