Nesta quinta-feira (12), Janet Yellen, secretária do Tesouro Americano, afirmou a integrantes do Congresso dos EUA que não acredita que o mercado de criptomoedas já tenha crescido a um nível que apresente um “risco sistêmico” para o sistema financeiro do país — uma denominação que poderia desencadear uma série de novas medidas regulatórias.
Yellen fez os comentários para membros Comitê de Serviços Financeiros da Câmara, onde deputados a pressionaram sobre questões macroeconômicas, mas também falaram sobre o assunto de stablecoins — os tokens cripto que devem manter o lastro em uma moeda fiat (fiduciária) — e a atual crise do mercado cripto.
“Não posso dizer que [stablecoins] chegaram a um nível em que sejam [passíveis de se tornar] preocupações de estabilidade financeira”, disse Yellen.
Sua observação foi uma resposta ao deputado Jim Himes, que notou que, por ser veterano da crise financeira de 2008, ele não acreditava que um mercado cripto de US$ 2 trilhões era grande o suficiente para desencadear a denominação de risco sistêmico. Himes acrescentou que a quantia de US$ 2 trilhões agora estava menor por conta da queda no preço das criptomoedas ao longo desta semana.
Embora Yellen tenha concordado com a afirmação de Himes de que uma capitalização de mercado de US$ 2 trilhões não era suficiente para desencadear a denominação de um risco sistêmico, ela se negou a dizer para qual nível — US$ 5 trilhões ou US$ 6 trilhões, por exemplo — a denominação se aplicaria.
Regras
Após a crise de 2008, o Congresso apresentou uma legislação que reconhecia que determinadas entidades financeiras enormes — incluindo bancos e a seguradora AIG — apresentavam um “risco sistêmico” à economia americana e implementou uma série de fiscalizações, incluindo reservas mais altas de capital, às suas operações comerciais.
Yellen também notou que, embora criptomoedas e stablecoins ainda não atendam a esse limite sistêmico, isso pode mudar no futuro.
“Eu não [os] caracterizaria como uma verdadeira ameaça à estabilidade financeira, mas estão crescendo muito rapidamente e apresentam o mesmo tipo de riscos que conhecemos há séculos de corridas bancárias”, explicou.
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Token derretido
A audiência também abordou o derretimento do token UST uma stablecoin que, até esta semana, era a terceira maior do mercado cripto.
Yellen afirmou que UST – que deveria ser lastreada em US$ 1, mas está sendo negociada a US$ 0,48 – “quebrou” e que tether (USDT), a maior stablecoin, fez o mesmo na manhã desta quinta-feira. Tether chegou a US$ 0,95, mas voltou a ser negociada a US$ 1.
No início desta semana, Yellen havia citado os problemas nas criptomoedas do Terra como uma justificativa para defender a regulamentação das stablecoins.
A secretária do Tesouro, em resposta a uma pergunta do deputado Himes, também declarou que estava ciente da distinção entre stablecoins algorítmicas, como UST (que dependem de incentivos financeiros para preservar seu lastro ao dólar), e outras stablecoins, que são lastreadas em uma reserva de dólares.
O deputado Stephen Lynch também abordou a questão das stablecoins, destacando que existem mais de 200 delas, sugerindo que a emissão de uma stablecoin pelo banco central americano poderia eliminar grande parte delas.
Yellen notou que reguladores financeiros estão estudando a viabilidade de lançar uma moeda digital de banco central (ou CBDC, na sigla em inglês), mas afirmou que tal moeda apresentaria um risco à privacidade se permitisse que o governo monitorasse as despesas da população.
As perguntas sobre stablecoins durante a audiência desta quinta-feira refletem um grande avanço do Congresso Americano e da Casa Branca em impor novas regulações à indústria cripto.
Em março, o presidente Biden havia emitido uma ordem executiva, pedindo por uma melhor coordenação entre agências quando o assunto é cripto e existem diversos projetos de lei no Congresso que visam fornecer normas mais claras para a indústria.
*Traduzido por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.