Não sei se alguma vez você já parou para pensar no que realmente é o sistema bancário. Vou trazer aqui uma reflexão sobre o tema. Não estou sendo o rebelde nem anarquista. Quero apenas ilustrar alguns fatos.
De ondem nascem os bancos?
Você tem o seu dinheiro, ganho por qualquer o seja o motivo (lícito, claro), e disto surge a necessidade de guardar em algum lugar, por razoes obvias de segurança e comodidade em transportá-lo. Isto pode ser o seu colchão, um baú, a casa do pai, amigo, qualquer lugar que seja que você sinta-se mais seguro.
Para atender a esta necessidade, alguém teve a ótima ideia de prestar um serviço, de garantir a custódia deste dinheiro, garantido que sempre que você precise depositar, resgatar ou transferir este dinheiro a alguém, a tarefa seria feita. Este é o banco. E aqui começa uma longa história.
Na minha opinião, quando você entrega o seu dinheiro a um terceiro, este dinheiro não é mais seu. Claro, você tem a garantia legal de que este terceiro irá te devolver a quantia assim que você precisar. Seria ótimo se fosse verdade, se não existisse o sistema de reservas fracionárias.
Uma vez entregue ao banco, ele pode usar este dinheiro para outros fins. Basicamente ele investe ou entrega a outras pessoas, via serviços bancários que conhecemos, com o mais clássico sendo o empréstimo. Novamente, em teoria isto não tem problema, porque quem recebeu parte do seu dinheiro tem a obrigação de devolver e o banco tem a obrigação máxima de te devolver tudo aquilo que você o confiou.
Mas, espere um momento: o que acontece se alguém não pagar o empréstimo que o banco fez com o meu dinheiro? Eu perco? A resposta é sim. Seja bem-vindo ao sistema de reservas fracionárias.
O banco está correndo um duplo risco: ele empresta, espera que o empréstimo seja pago para que você, no momento que bem entender, possa ter acesso ao dinheiro a ele confiado.
Para defender-se destes riscos (existem outros, mas por favor entenda o caráter simplificado do exemplo) ele cobra juros sobre aqueles empréstimos com a expectativa de que estes mesmo juros venham a cobrir os custos operacionais (funcionários, instalações, impostos, etc.), a falta do dinheiro não pago e o lucro, que é a recompensa por correr estes riscos.
De um modo simples as linhas acima descrevem como funciona o sistema bancário e o porquê ele é muito lucrativo. E eu acho muito justo. Não é um trabalho nada fácil.
Mas você percebeu o problema?
Pode ser que você um dia volte ao banco e ele não tenha como te devolver o dinheiro que você depositou, e é óbvio que existem medidas de segurança que bancos e governos tomam para tentar assegurar que isto não aconteça.
Essas são as conhecidas medidas para assegurar a liquidez bancária. Você certamente já ouviu isso alguma vez na sua vida. Entretanto, mesmo com todas essas medidas, se todas as pessoas que possuem algum dinheiro no banco quiserem sacá-lo, não há em nenhum banco – repito, nenhum banco – liquidez suficiente para todo mundo. Isto não é alarmismo, não é terror escrito. Isto é um fato.
O que tecnicamente evita um colapso é que a probabilidade de que todos os correntistas de um banco queiram sacar todo o dinheiro ao mesmo tempo é extremamente baixa, muito baixa. Logo você não precisa interromper a leitura deste artigo para ir sacar o seu dinheiro. Porém, as vezes isto acontece.
Muito recentemente tivemos a crise do governo socialista grego. Para evitar o colapso do sistema bancário, em 2015 foram implementados rigorosos controles de capital para evitar a quebra em massa dos bancos e do país. Não importa quanto dinheiro você tinha no banco, você só poderia sacar 60 euros por dia.
Até mesmo para empresas, que naturalmente movimentam quantias muito maiores, o limite foi implementado em cerca de 40 mil euros por dia. E exemplos como este episódio grego acontecem com uma frequência muito alta, dada a magnitude do problema.
Dito isto, assim como eu concluí o parágrafo do lucro escrevendo “acho muito justo”, em teoria eu terminaria este aqui escrevendo “e eu acho isso muito injusto”. Mas não é exatamente assim. Ninguém te obrigou a colocar o dinheiro no banco, certo? Você pode escolher não colocar.
E, se escolher colocar, tem que estar ciente dos riscos que existem e se algo de ruim acontecer o problema também é seu. Porém, vamos ser muito justos e falar a verdade: sabemos que não é bem assim. Tudo bem, você até poderia escolher viver sem bancos, mas estaria à margem da sociedade, com um acesso extremante limitado aos recursos e serviços por ela oferecidos.
Dos problemas nascem as soluções
Assim como os bancos surgiram para resolver um problema em relação ao armazenamento, transporte e transferência da riqueza, para parte da resolução deste problema das reservas fracionárias e da inflação da base monetária tivemos o surgimento das criptomoedas.
Preste bastante atenção que não estou condenando os bancos. Apontar dedos é coisa de criança. Porém existe um problema muito grande que é a escarça presença de opções solucionar este tema: até o surgimento das criptomoedas.
Elas ainda são bem imperfeitas, mas já apontaram um caminho para a solução. Hoje até mesmo os bancos já olham para esta tecnologia uma vez que eles, melhor do que ninguém, sabem o problema enorme que carregam nas costas.