Imagem da matéria: Ross Ulbrich, o pioneiro do Bitcoin condenado a ficar na prisão pelo resto da vida
Ross Ulbirch tinha 140 mil bitcoins quando foi preso (Foto: FREEROSS.ORG)

“O Bitcoin não tem ouvidos. O que dizemos não pode mudá-lo. Salvo uma catástrofe que coloque em risco toda sociedade, o Bitcoin continuará adicionando um bloco a cada dez minutos, para sempre. Esse é o ponto”. A frase poderia vir de qualquer maximalista de Bitcoin com uma foto de anime no perfil no Twitter. Mas a citação tem nome, rosto e endereço: Ross Ulbrich, criador da Silk Road, que cumpre prisão perpétua na cidade de Tucson nos Estados Unidos.

Em outubro do ano passado, Ulbrich completou seu décimo ano atrás das grades. Ele foi condenado por criar e administrar o maior marketplace de drogas e armas da deep web, chamado de Silk Road. Para falar sobre sua experiência com o Bitcoin e como foi a década encarcerado, Ulbrich publicou um artigo na Bitcoin Magazine.

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Os pagamentos da SIlk Road eram feitos em Bitcoin e esse foi um dos primeiros casos no qual uma criptomoeda foi largamente usada como meio de troca. Ao ser preso, Ulbrich tinha 140 mil bitcoins, que em 2017 ele concordou em ceder para o governo dos Estados Unidos – na época a soma de BTC equivalia a US$ 48 milhões.

O criador do site acabou se tornando uma das grandes figuras históricas do Bitcoin.

Ulbricht foi preso em outubro de 2013 em uma biblioteca pública de São Francisco. Logo após, ele foi julgado e condenado à prisão perpétua por lavagem de dinheiro e tráfico de drogas. Ele tentou reverter a pena, mas a Suprema Corte dos Estados Unidos negou.

Bitcoin como fonte de inspiração

Em 2017, Ulbrich concordou em dar as chaves privadas do seu tesouro em troca de mostrar boa vontade com a Justiça. “Ross precisava disso. Ele tem tantas outras batalhas no momento, e é importante tentar diminuir sua sentença”, disse Paul Grant, advogado do condenado.

Em seu artigo, Ulbrich afirma que a resiliência do Bitcoin tem sido uma fonte de inspiração para sua jornada atrás das grades.

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“Passei por muitas fases durante minha prisão: desesperança, medo, culpa, aceitação, tédio e desespero febril. E esse tempo todo o Bitcoin continua. Hoje, eu me inspiro no Bitcoin. Vou continuar, dia após dia, apenas dando o próximo passo repetidamente. Vou continuar adicionando o próximo bloco. Ou recupero minha liberdade ou, no final da vida, posso olhar para trás e dizer: ‘Pelo menos tentei'”.

O criador do Silk Road diz que criar o site foi o maior erro de sua vida e que, ao conviver com dependentes químicos na prisão, passou a entender os danos que causou ao facilitar imensamente o acesso a drogas.

“Só sei que eu nunca mais poderia promover o uso de drogas, sejam elas legais ou ilegais. Como poderia, se eu mesmo nunca toquei em drogas? Como poderia, se ficaria horrorizado ao saber que alguém que amo se tornou viciado?”.

Ross Ulbrich por Hollywood

A história de Ulbrich foi parar em Hollywood. O filme Silk Road, que conta a história do marketplace de drogas de mesmo nome que operava na deep web e aceitava pagamentos em bitcoin, foi lançado em 2021.

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Dirigido e escrito pelo diretor Tiller Russell, o longa foi baseado em uma reportagem publicada em 2014 na revista Rolling Stones. Em resumo, conta a história da ascensão e da queda do site e de seu criador, o norte-americano Ross Ulbricht.

Além disso, o filme também oferece um vislumbre sobre como as criptomoedas eram usadas, segundo o diretor Russell.

“O Silk Road colocou o bitcoin em grande estilo no espírito do tempo. Foi um momento cultural divisor de águas”, disse o diretor ao site Inside Hook.

O site usava a rede Tor, baseada em software de código aberto que permite a comunicação anônima pela Internet. O filme ainda não está disponível nas plataformas brasileiras.

Diário de Ross Ulbrich

O portal da revista Wired publicou em 2015 trechos de um diário que Ross Ulbrich mantinha em seu notebook. Os textos mostram como o Bitcoin teve um papel preponderante no Silk Road desde o início.

Em um trecho de 2011, Ulbrich escreve que o único dinheiro que tinha veio dos Bitcoin que recebeu por vender cogumelos alucinógenos que ele mesmo plantou. Esses BTCs multiplicaram por quatro com uma alta da criptomoeda naquele período.

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“Ainda trabalhando na Good Wagoon [empresa de um amigo] e Silk Road ao mesmo tempo. Programação agora. Retalhos de PHP e MYSQL. Não sei como hospedar meu próprio site. Não sabia como executar o Bitcoin. Tenho o básico do meu site escrito. Anunciou nos fóruns do Bitcointalk”, anotou.

Um trecho de 2010 mostra o momento que Ulbrich resolveu colocar em prátia sua ideia: “Comecei a trabalhar em um projeto que estava em minha mente há mais de um ano. Eu estava chamando de Underground Brokers, mas acabei decidindo pelo Silk Road. A ideia era criar um site onde as pessoas pudessem comprar qualquer coisa anonimamente, sem nenhum rastro que pudesse levar a elas. Eu já estudava a tecnologia há algum tempo, mas precisava de um modelo de negócios e uma estratégia. Finalmente decidi que produziria cogumelos para poder listá-los no site por um preço baixo para atrair as pessoas”.

O FBI encontrou diversas carteiras de identidade com Ross Ulbrich no momento de sua prisão (Foto: U.S. Government, Federal Bureau of Investigation via Wikimedia Commons)
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