Michael Nicklas sócio-diretor do Valor Group
Foto: Divulgação

“Estamos estrategicamente posicionados para conectar mercados”. A frase é de Michael Nicklas, sócio-diretor do Valor Capital Group, empresa de capital de risco com escritórios em Nova York e São Paulo. O grupo, que possui investimento em mais de 100 companhias pelo mundo, com nove unicórnios apenas no Brasil em um portfólio com 65 empresas, está há muito tempo engajado no setor de criptomoedas, inclusive como pioneiro.

Basta considerar o investimento feito pela companhia em 2014 na Coinbase, considerada hoje a maior corretora de criptomoedas dos EUA, e aportes em outras empresas da área, como Bitso, BlockFi.

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Para entender melhor as operações do Valor Capital Group, o Portal do Bitcoin conversou por telefone com Nicklas na metade do mês. O executivo contou um pouco sobre como funcionam as estratégias da companhia, comentou o momento de crise no mercado de criptomoedas, e também as expectativas da empresa diante de um futuro cenário regulatório para o setor cripto. Confira abaixo a entrevista completa:

Portal do Bitcoin – Onde o Valor Group está se posicionando dentro do mercado de criptomoedas?

Michael Niklas – Somos líderes em investimento cripto na América Latina, com mais de 20 investimentos, desde 2014, quando começamos a investir primeiro na Coinbase, na série B. Desde então, temos uma estratégia bem específica. Nós somos um fundo cross border norte-americano, trabalhando nos dois ecossistemas, Brasil e Estados Unidos.

Desde 2019, procuramos adquirir dois fundos, sempre um em early stage e outro growth stage. Somos tradicionais. Investimos em fintechs de saúde, mobilidade, logística, SAS, as coisas básicas. Nós temos ao todo mais de 100 empresas, sendo 65 delas aqui no Brasil, sendo nove unicórnios no portfólio. Estamos bem estabelecidos.

Mas no mundo cripto começamos pela Coinbase, que foi onde aprendemos um pouco mais sobre blockchain e digital assets. Fomos convidados a investir junto com a A16z (do empresário Andreessen Horowitz) e outras empresas que investiram na exchange. Na época, os representantes dessas empresas fizeram uma pesquisa e viram que Japão e Brasil viriam a ser dois mercados relevantes para o futuro da Coinbase.

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Depois disso iniciamos uma jornada para acompanhar esse todo esse setor, e chegamos até outras exchanges como a Bitso. No fim, é isso, nós podemos investir até cinco por cento do fundo em ativos digitais ou tokens. 

Então vocês criaram uma expertise de como investir em startups de criptomoedas correndo risco. Analisando o portfólio de vocês, e tomando as devidas proporções, vocês competem com o Soft Bank?

Mais ou menos. Eles investem em fundos nossos, então nós olhamos muitas coisas juntos. Nossa história com a SoftBank é de longa data, uma vez que o Clifford e Scot já fizeram uma ligação com eles ainda na Web 1.0. 

Quando há interesse em investir em uma nova empresa, qual é o principal cuidado de vocês?

Nada impede. Mas o método de avaliação passa primeiro pela equipe que almejamos adquirir, ainda mais no mundo cripto. Até porque, se a equipe inicial não é muito boa, você não consegue atrair novos talentos. Então precisamos encontrar um time forte, que seja promissor — uma alta credibilidade dos fundadores conta muito. Nós valorizamos muito o time.

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Falando em direcionamento, levando em consideração as aquisições que vocês já possuem no portfólio. Para onde exatamente está apontado o radar de vocês?

Acreditamos estar bem no início do movimento da web3 — e é uma corrida de ouro!

Nossa primeira estratégia é investir nas melhores pessoas. Nós olhamos a empresa, mas podemos ser convencidos pelas pessoas que lideram um projeto. A segunda parte é procurar projetos que tenham acesso ao mundo cripto como exchanges, crypto banks, o mundo DeFi, NFTs, Gaming, e, por fim, olhamos para as DAOs também. Nós chegamos a investir em um protocolo de filantropia de Brasília, por exemplo.

Comparando lá no início de 2014, atualmente o mundo cripto vive uma grande crise, com muitas demissões. Como o Valor fica nesse cenário? Vocês perderam muito dinheiro? E como você avalia esse cenário de alta taxa de juros?

Problemas vão surgir; faz parte da gestão de risco. Por exemplo, nós fizemos um investimento — não vou falar qual — onde colocamos US$ 1 milhão em 10 milhões de tokens. O preço do token subiu para US$ 30 dólares por unidade, e ainda vendemos esses tokens. Então funciona assim, vamos nos momentos de alta e baixa. Mas acredito ser um bom momento para abocanhar mercado, comprando pequenos players.

O segredo é extrair o melhor de dentro deste cenário que vivemos hoje. A ideia é que as empresas que nós possuímos não quebrem no meio do caminho. Claro que vai acontecer em alguns casos, mas as outras que passarem por isso vão sair mais fortes e provavelmente terão sucesso lá na frente. 

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Você acha que a Coinbase vai sair forte dessa?

Tem aquele ditado: o que não te mata te fortalece. Eles têm uma base de usuários muito forte. Nesse meio tempo eles vão conseguir fidelizar o cliente e trazer novos produtos, como o NFT marketplace.

Aqui no Brasil, temos alguns conflitos entre corretoras que não possuem CNPJ e outras que operam num caminho regulatório mais estabelecido. Como você vê a disputa entre esses dois modelos?

É inegável que funciona. Por exemplo: a Binance tem 60% de market share, mas ao longo prazo, nós apostamos nos players que seguem as normas regulatórias. Com a Coinbase, nós acreditamos que dá certo justamente ela andar de forma certa.

Gostamos de pensar que uma empresa não vai ter uma virada regulatória.  O modelo para esse tipo de regularização talvez seja um pouco bagunçado, ainda que no Brasil seja um pouco melhor. Acredito que aqui há mais vontade e disposição em trabalhar com o mercado criando segurança.

Quem é Michael Nicklas

Michael Nicklas, que atua como investidor anjo e VC na América Latina, esteve envolvido com startups de Internet nos últimos 15 anos como empresário, executivo e investidor, liderando iniciativas de Internet em empresas da Fortune 500, incluindo Viacom e Univision. Lançou duas startups, The Gryphon Group e Thirst, no Silicon Alley de Nova York. Antes de ingressar no Valor Capital Group, foi Diretor Geral da Ideiasnet e fez parte dos conselhos de várias empresas de tecnologia no Brasil.

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