O advogado Fernando Baum Salomon, segundo a Polícia Federal, tinha dois lados. Ele é investigado sob a suspeita de ser o líder oculto da Unick Forex e por ter criado um esquema com pessoas influentes para obter informações privilegiadas de investigações.
Do outro lado, como pessoa pública, era um profissional respeitado. Na sua banca de mestrado teve presença do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Edson Fachin, conforme indica seu Currículo Lattes. Tambpem atuou como professor da PUC do Rio Grande do Sul.
O especialista em Direito da Empresa teria ajudado a Leidimar Lopes a ocultar bens, além de montar um esquema envolvendo até mesmo um ex-diretor da PF com objetivo de obter informações sigilosas de investigações contra a Unick Forex.
O profissional do Direito, que em 2006 defendeu a dissertação na PUC do Rio Grande do Sul tratando sobre Responsabilidade Civil aos danos causados em relações contratuais e ao meio ambiente, acabou se tornando suspeito de ver orquestrar a pirâmide financeira.
Considerado pela Polícia Federal o “chefe oculto no esquema”, o advogado gaúcho se especializou em direito empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), em 2000, e em em Direito Civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), no ano seguinte.
Salomon teria contratado um serviço de espionagem clandestina, o qual contaria até com hacker para obter informações sigilosas e que interessasse à Unick Forex. Para isso, o advogado contou com uma peça importante, segundo a investigação.
Unick Forex e o esquema de espionagem
De acordo com o jornal GauchaZH, um policial federal aposentado de nome Ricardo Lerias Caitano, teria sido peça fundamental para que Salomon tivesse acesso às informações sigilosas sobre as investigações em torno da Unick Forex.
O advogado teria contratado a Horus Inteligência Corporativa, empresa de Lerias a fim de acompanhar questões ligadas à Unick. O ex-diretor-geral da PF, Leandro Daiello, é um dos sócios da empresa. A PF, no entanto, acredita que esse acompanhamento tenha a ver com a espionagem e interferência na investigação contra os sócios da Unick.
A Horus prestava também serviços à Indeal com o objetivo de encontrar as pessoas que lhe deviam dinheiro. Há suspeita de que o agente aposentado e um sócio, após encontrar essas pessoas, fariam cobranças de forma ilegal, na base da pressão e ameaças.
Gente influente envolvida
A rede de pessoas influentes envolvidas com a Unick, por meio de Salomon, não paravam por aí, no entanto, e incluía até um ex-diretor geral da PF. Após Leiras ter sido flagrado por meio de escutas telefônicas, em ações que atrapalhariam as operações envolvendo a Unick, se chegou ao nome do delegado aposentado da PF, Leandro Daiello.
Daiello ocupou a chefia da PF nos governos Dilma e Temar. Ele foi apontado pelo próprio Lerias como o homem que teria apresentado à ele o hacker para ser contratado pela empresa que deu o calote em milhares de pessoas.
A relação entre os ex-agentes federais e o advogado não pararam por aí. A investigação descobriu que Lerias havia pedido a Daiello um parecer em um processo envolvendo o advogado gaúcho e a Unick Forex.
Ocultando bens
Salomon, além disso, teria atuado no grupo como um dos colaboradores para que houvesse ocultação de bens do presidente da Unick Forex.
Tanto os bens móveis e imóveis de Leidimar Lopes estavam em nome das empresas Vega, que inicialmente era controlada por Salomon. Essas empresas, então passariam para o nome de Caren Cristiane Graeff, que atua como advogada no escritório de Salomon, a Baum Salomon advogados.
Atualmente essas empresas estão no nome da filha do presidente da Unick Forex: Ana Carolina de Oliveira Lopes.
Graeff, que possui ligação direta com Salomon, compunha o quadro societário da Dox Pay Banco digital, uma das empresas de solução de pagamentos utilizada pela Unick Forex. Por fim, a investigação encontrou indícios de que essa empresa seria efetivamente de Lopes.
Liberdade negada
O advogado fundador de um escritório que lida com causas cíveis, trabalhistas e tributárias, hoje está em prisão domiciliar. Ele chegou alguns Habeas Corpus, mas não obteve sucesso. O Tribunal Federal da 4ª Região (TRF4) negou o pedido em face da sua participação ativa na Unick Forex. O mesmo sucedeu no Superior Tribunal de Justiça (STJ)
O ministro Rogério Schietti Cruz, da 6ª Turma do STJ negou liminar para conceder “a substituição da prisão domiciliar por medidas cautelares diversas” diante da participação relevante na organização criminosa e que sua soltura traria risco à investigação.
Apesar de nunca aparecer em vídeos da empresa ou ter seu nome diretamente ligado à ela, ele conhecia todos os mecanismos da organização, devido a sua posição de destaque na estrutura da Unick Forex, com atuação no exterior e isso na visão de Cruz representa risco à ordem pública, à instrução criminal e à aplicação da lei penal.
Sem contraponto
O Portal do Bitcoin tentou entrar em contato com a defesa de Fernando Salomon. No entanto, os advogados não responderam as chamadas telefônicas feitas pela reportagem.