Imagem da matéria: Quais aspectos fazem “comunidades Web 3” serem mais do que grupos de meme? | Opinião
(Foto: Shutterstock)

Dizem que o mundo das criptomoedas é repleto de “comunidades”.

Existem “bitcoiners”, “ethereans”, “dogecoin army” e “LINK marines”. Existem comunidades em tornos de tokens não fungíveis (ou NFTs, na sigla em inglês), como Bored Apes, CrypToadz e JPEGs de rochas.

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Existem comunidades em torno de complexos instrumentos financeiros, como Compound, Aave e a stablecoin algorítmica Terra. Existe até, de alguma maneira, uma “comunidade” em torno da Tether, possivelmente para fãs da stablecoin USDT e suas dúbias reservas em dólar.

À primeira vista, é difícil encaixar essas “comunidades” na definição mais aceita de “comunidade” – um grupo de pessoas unidas por algo tangível e contínuo: valores compartilhados, crenças políticas, herança, idioma, hobby ou habilidade.

Pense em zoroastristas, falantes de esperanto, jogadores competitivos de Starcraft II, trombonistas, crentes devotos do demiurgo no pensamento gnóstico. Essas são as verdadeiras comunidades cujas ligações vão resistir ao teste do tempo.

Por outro lado, a reação instintiva de Ben Munster, colunista do Decrypt, em relação a “comunidades” cripto é que são ilusórias e vazias, que surgem de forma cínica para colocar um santuário de tantas quantias para cultos de investimento transitórios e que as ligações entre membros são expressões de nada além de um interesse financeiro compartilhado.

Observe qualquer grupo de Telegram criado em torno de uma criptomoeda de pequena capitalização e verá que a “comunidade” é pequena, mas é uma coleção de pessoas desesperadas que estão promovendo seu token de rápida desvalorização.

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Quase todo o “vai e vem” toma a forma de demandas frenéticas por roteiros de desenvolvimento (ou “roadmaps”) e positivas previsões de preço.

O mesmo acontece com muitas comunidades desenvolvidas em torno de NFTs, em que mantras repetitivos, como “WAGMI”  (ou “todos nós vamos conseguir”, em português) e “looks rare!” (ou “parece raro!”), surgem como substitutos para a conexão humana.

Talvez essa seja uma opinião injusta. Nesta ampla e diversa indústria, deve existir algo que se pareça com uma comunidade genuína?

Esperando acabar com seus preconceitos e falar com alguém que pudesse fornecer uma perspectiva melhor a ele, Ben falou com TropoFarmer, um pseudônimo e influente entusiasta e holder de um NFT Bored Ape Yacht Club (cujos milhares de seguidores já haviam perturbado o jornalista via Twitter).

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Ben começou a apresentar sua opinião de ódio e TropoFarmer foi bem compreensivo.

“Você não está errado”, disse Tropo. “Mas quando isso transcende, você chega em um lugar bem incrível. É por isso que as pessoas [no Bored Ape Yacht Club] não vendem [seus NFTs] por centenas de milhares de dólares.”

Ben perguntou a Tropo o que tem de tão “incrível” sobre o projeto.

“É apenas divertido”, respondeu.

“Divertido como!?”, chiou Ben.

“Só besteira”, disse Tropo.

A timeline do Twitter de Tropo é repleta de publicações inúteis, memes e alertas sobre fraudes. Ben perguntou se essa era a “diversão” à qual ele se referia e por que ele precisava de um pretexto de um avatar Bored Ape para interagir com essas coisas.

“Parece que a comunidade é uma construção em torno de algo que você poderia fazer de qualquer forma”, destacou Ben.

Ainda assim, segundo Tropo, pessoas estão dispostas a pagar centenas de milhares de dólares em ether por afiliação com esse tipo de coisa, bem como acesso aos diversos Discords de BAYC.

Ele disse que são os puros e simples benefícios. “Além do status social, você recebe produtos físicos, eventos e acesso, conexões e airdrops.”

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Mas existem comunidades forjadas por mais do que produtos?

Uma resposta veio de Elco, um membro pseudônimo do grupo DAOist que ensinou sobre o problema de pessoas em cripto usarem falsas narrativas de comunidade para promover objetivos financeiros. Ben entrou em contato com Elco via Telegram e disse que iria além: argumentar que todo o estilo de vida cripto é vazio.

Gentilmente, Elco explicou que, embora realmente existam certos grupos cripto ligados apenas por tokeconomia, muitos, como Ethereum e Bitcoin, são apoiados por sistemas completos de crença.

Bitcoiners acreditam em coisas, como moedas fortes e anarcocapitalismo, por exemplo, enquanto a galera do Ethereum está motivada, dizem, pela iniciativa de desmantelar os sistemas de caça-renda da Web 2.

Elco também notou que a presença de apenas incentivos financeiros não é suficiente para tirar o crédito da ideia de comunidade.

“Todo o ecossistema blockchain é, no cerne, uma conspiração de token, como um país que compartilha uma moeda”, explicou Elco.

Eva Beylin, investidora em Web 3 que também é um membro influente da ampla “comunidade CriptoTwitter”, também notou que é possível distinguir as genuínas comunidades cripto das efêmeras ao analisar quais se desfazem em meio a um mercado de baixa.

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“Você sabe que um projeto é bom se a comunidade continuar existindo além dos incentivos financeiros”, disse ela. “Os múltiplos ciclos de mercado de baixa do Ethereum meio que comprovam que existe mais ali do que apenas finanças.”

Isso se une ao argumento feito pelo escritor de cultura pop David Chapman em seu popular artigo: “Geeks, esfregões e sociopatas”, que divide a estrutura de comuns subculturas em geeks (criadores e superfãs que formam um núcleo resiliente), esfregões (fãs casuais da noite para o dia que dão influência social à subcultura) e sociopatas (intrusos corporativos que monetizam a subcultura enquanto alienam, de forma inevitável, a velha guarda).

Isso funciona bem com o Ethereum e o Bitcoin: Existem geeks o suficiente em ambos os grupos para que as comunidades resistissem a muitos mercados de baixa.

Ainda assim, mesmo nessas duas supostas comunidades, é difícil dizer até que ponto a aparente devoção genuína de investidores à causa é contaminada por seus investimentos.

Bitcoiners ainda iriam apoiar a criptomoeda tão fervorosamente se o mercado a derrubasse para zero ou só iriam se tornar libertários-padrão (e empobrecidos)?

Talvez não chegue a zero porque a comunidade é bem forte, mas é fácil renunciar a uma crença política e remover seu dinheiro do que obedecer a crença e ir à falência.

Sem dúvidas, existe um caminho melhor!

Buscando por uma espécie de alternativa, Ben falou com Spencer Graham, membro de uma plataforma chamada DAOhaus que desenvolve organizações autônomas descentralizadas (ou DAOs) personalizadas para pessoas no mundo da Web 3.

Graham e seus colegas passaram muito tempo desenvolvendo formas de tornar os laços entre participantes de DAOs mais resilientes às oscilações dos mercados cripto.

Embora “tokens sejam fantásticos para gerar força por trás de uma ideia, incentivos financeiros geralmente excluem ‘incentivos’ sociais mais enriquecedores, como a construção de relações verdadeiras com pessoas. É desafiador que uma relação que começa como transicional evolua para uma relação mais profunda”, disse Graham.

DAOhaus obtém sua estrutura da MolochDAO, uma estrutura que muitas grandes DAOs seguem e criada para implementar a teoria de jogos a grupos cripto.

Graham destaca duas inovações específicas da MolochDAO que ele acredita terem ajudado a produzir verdadeiras conexões entre membros de DAOs.

A primeira é o que ele descreve como a “não transferibilidade” dos tokens que membros das MolochDAOs devem adquirir. Os tokens não podem ser negociados em mercados secundários, ou seja, não são ativos financeiros especulativos como outros tokens.

“Outros membros de MolochDAOs compartilham a propriedade da DAO e seu tesouro, mas essa propriedade não é definida de forma financeira”, disse Graham. Isso quer dizer que ninguém está tentando inflacionar seu preço.

O segundo benefício é o design da MolochDAO, pois suas DAOs não são “apermissionadas” como outros grupos cripto. Embora qualquer um pode comprar, digamos, PICKLE e se unir ao coro de cretinos no grupo PICKLE no Telegram, membros da MolochDAO são meticulosamente avaliados.

Por mais legal que seja essa ideia, ainda existe o pequeno problema de quando alguém desinveste de uma “comunidade” tão permissionada, não estão mais nela.

As comunidades criadas em torno de DAOs podem ser, de forma crua, menos especulativas, mas ainda são mantidas unidas por uma relação econômica transiente.

Talvez o termo “comunidade” seja o problema.

*Artigo por Ben Munster, ex-redator do Decrypt e responsável pela coluna “Zero Knowledge” (ou “zero conhecimento”) e que fala sobre o mercado cripto a partir de uma perspectiva de leigo.

**Traduzido por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.

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