Chuva de criptomoedas
Foto: Shutterstock

Todos os dias são criadas e lançadas novas criptomoedas no mercado, sejam elas nativas de novos projetos blockchain ou provenientes de hard forks. As plataformas de dados Coinmarketcap (CMC) e Coingecko, algumas das mais acessadas no universo cripto, rastreiam atualmente o preço de 19,8 mil e 13,4 mil moedas virtuais, respectivamente, mas nem todas que já foram criadas estão por lá.

Isso acontece porque, de um lado, novos projetos precisam entrar em uma fila para serem analisados por uma equipe técnica, responsável por dar o sinal verde à sua entrada na lista. Portanto, se um token, por exemplo, está listado no CMC, é porque ele já possui um certo histórico, mesmo que de alguns dias, de preço e de volume de negociação.

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Vale ressaltar ainda que muitos tokens são abandonados e viram pó e, por consequência, são deslistados dessas plataformas. Uma estimativa feita pelo portal CryptoBriefing, citando o agregador de preços CoinGoLive, diz que 95% das milhares de criptos já perderam 99,99% de seu valor desde o seu recorde de alta de preço (all-time high). Na prática, elas morreram, com o preço sendo reduzido próximo ao zero.

Por conta disso, é possível supor que já existiram muito mais criptomoedas do que as listadas atualmente em portais como o CMC. Mas por que, em meio a essa alta “taxa de mortalidade”, as criptomoedas continuam a se reproduzir no mercado? Veja o que disseram esses especialistas.

Facilidade de criação 

Para Bruno Milanello, executivo de novos negócios do Mercado Bitcoin, trata-se de uma pergunta que intriga até quem trabalha no setor cripto profissionalmente. Segundo ele, diversos aspectos poderiam ser considerados, tamanha quantidade de criptoativos existentes.

Milanello destacou alguns pontos que podem justificar a premissa.

Em primeiro lugar, ele destacou a baixa barreira tecnológica de se criar uma token ou qualquer outro tipo de criptoativo. “Não é preciso nenhum conhecimento muito aprofundado e inúmeros são os tutoriais online e as plataformas de self service (adaptando um termo conhecido de outra indústria para o segmento)”, disse ele à reportagem.

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Na sequência, o especialista falou sobre as facilidades na criação de tokens.

“Como se trata de uma classe de ativos relativamente nova, de apenas 13 anos, a evolução é constante e há muitos problemas a serem endereçados. Como a barreira é baixa e as oportunidades são inúmeras, é mais fácil criar um novo ativo do que tentar melhorar um protocolo já existente”, disse. Ele acrescentou:

“Todo mundo quer criar o próximo BTC, o próximo Ethereum Killer, o próximo token indispensável — baixa barreira de entrada + diversos problemas a serem resolvidos + possibilidade de mudar de patamar financeiro num curtíssimo espaço de tempo = 20 mil tokens conhecidos, de acordo com agregadores de mercado. Falo ‘conhecidas’ porque estima-se que esse número possa ser de 3 a 5 vezes maior, se contarmos projetos ainda bem incipientes”.

Milanello disse também que vale destacar que isso acaba sendo um prato cheio para golpistas, pois a facilidade de criação, a descentralização e a não regulação permitem que projetos levantem dinheiro com pouca ou quase nenhuma obrigação de entregar qualquer coisa, sem consequência nenhuma para os envolvidos, ficando somente ao investidor desinformado pagar a conta. Ele concluiu:

“Não há espaço para tudo isso. Certamente passaremos por uma seleção natural onde os projetos mais sólidos serão absolutamente dominantes”.

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“Incentivo perverso”

O analista de criptomoedas e trader Marcel Pechman disse ao Portal do Bitcoin que a emissão de novas criptomoedas ainda vai perdurar por muito tempo. Ele explicou que existe uma grande diferença entre criptomoeda e criptoativo (tokens), mas, obviamente, há empresas e pessoas interessadas em ocultar isso.

“O motivo? Simples: criar e listar um ativo digital ‘pendurado’ em uma rede blockchain já existente custa 0 e leva menos de 3 minutos. É óbvio que as exchanges, e os promotores de shitcoins querem fingir que é tudo a mesma coisa, mas não é”, disse Pechman. Ele acrescentou:

“Uma criptomoeda possui seu próprio banco de dados blockchain, e isso demanda uma rede de validadores e usuários próprios. Por mais que o Dogecoin, por exemplo, não tenha grande utilidade, são seus usuários, as pessoas rodando o software, que armazenam o registro histórico e verificam se os mineradores estão sendo honestos. O mesmo pode ser dito sobre Ethereum, Litecoin, Cardano, Solana e Monero, enfim, nenhuma dessas depende da rede de usuários e validadores de outra criptomoeda”.

Pechman também comenta que existe um “incentivo perverso” no mercado.

“Dito isso, existe um incentivo perverso para os emissores de shitcoins firmarem parcerias com os fundos de risco (venture capital), influencers, e as próprias exchanges, para afirmar que seu projeto “resolve” determinado problema, ou que o token é extremamente necessário em determinado ecossistema, tipo um vale BigMac. Sim, de fato eu pagaria R$ 12 no vale BigMac, porque o lanche custa R$ 13, mas qual a necessidade de tokenizar isso? E por que alguém guardaria esse ativo digital ao invés de converter por uma moeda forte?”, explicou o analista.

Ele concluiu: “Enfim, enquanto o incentivo for desbalanceado, leia-se, houver comprador final para ICOs, ou mesmo negociar airdrops, vão surgir novas shitcoins. Ou seja, isso não deve acabar nos próximos 8 anos, pois o mercado ainda é imaturo e as pessoas são gananciosas”.

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Esperança de um “novo bitcoin”

Para o especialista em smart contracts e desenvolvedor full stack Gustavo Toledo, um dos motivos de tanta moeda virtual é também a esperança de se criar um “novo bitcoin”.

“Creio que o que levou a criação de tantas moedas e tokens foi a união da esperança de criar um “novo bitcoin” com a facilidade de criar um novo token”, disse Toledo, que também criou a startup Coinsamba. Ele acrescentou:

“A esperança de comprar uma moeda pouco conhecida e ver seu capital multiplicando dezenas de vezes é o combustível para oportunistas criarem moedas sem nenhuma utilidade ou fundamento e despejarem essas no mercado”.

Por outro lado, continuou Toledo, no início do mercado era muito mais trabalhoso a criação de uma nova moeda, já que o proponente deveria modificar o código de uma blockchain já existente, configurar mineradores, criar carteiras específicas entre outras tarefas custosas. 

Já de uns anos pra cá qualquer pessoa com uma MetaMask instalada em seu navegador preferido consegue criar um token em menos de 5 minutos gastando, às vezes, nem mesmo 1 dólar, e sem ter nenhum conhecimento sobre blockchain.

Em resumo, há várias premissas que podem ser discutidas quando o assunto é a emissão desenfreada de moedas virtuais, como foram explicadas com os termos incentivo, oportunismo e facilidades pelos especialistas. Portanto, em qualquer momento, um novo token pode surgir no universo cripto.

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