O governo chinês iniciou uma nova onda de repressão às criptomoedas no país, dando continuidade às proibições que já impôs ao setor no passado, em 2013, 2017 e maio de 2021.
O Banco Popular da China em conjunto com os principais reguladores financeiros do país divulgou nesta sexta-feira (24) um documento chamado “Aviso sobre Prevenção e Eliminação de Riscos em Transações de Moeda Virtual” em que anuncia o endurecimento das medidas para reprimir as negociações de Bitcoin e outras criptomoedas no país asiático.
O ponto que chama mais atenção no documento é um novo entendimento de que qualquer pessoa ou empresa que facilite a negociação de bitcoin e outras criptomoedas no país, está infringindo a lei.
O texto afirma que “a prestação de serviços para exchanges do exterior para residentes chineses por meio da internet é uma atividade financeira ilegal” e aqueles que engajam nesta atividade serão investigados de acordo com a lei.
O Banco Central disse explicitamente que criptomoedas como Bitcoin, Ethereum (ETH) e Tether (USDT) “não são legais, não devem e não podem ser usados como moeda no mercado”, afirmando que toda “atividade comercial relacionada à moeda virtual é ilegal”.
O órgão mais uma vez reforçou um pedido que já havia feito em junho para que as instituições financeiras do país ajudem no combate às criptomoedas, impedindo que seus clientes façam transações para exchanges estrangeiras e mercado de balcão (OTC).
A China atribuiu ao endurecimento das medidas o aumento da popularidade das criptomoedas no país, que coloca “seriamente em risco a segurança da propriedade das pessoas” e “faz crescer atividades criminosas como jogos de azar, arrecadação de fundos ilegais, fraude, esquemas de pirâmide e lavagem de dinheiro”.
Neste ritmo, o documento indica que as pessoas comuns que perderem dinheiro em investimento em criptomoedas não serão mais protegidas pela lei.
De olho nas exchanges
O jornalista chinês Colin Wu, uma das maiores referências na cobertura do mercado de criptomoedas no país, disse ao Portal do Bitcoin que ainda é difícil visualizar na prática o que muda no mercado de criptomoedas com a nova onda de repressão da China.
“Precisamos esperar, é difícil dizer agora. A expectativa é descobrir como as grandes exchanges como Huobi e OKEx vão enfrentar isso, já que elas ainda operam mesas OTC no aqui. Elas têm uma forte relação governamental e farão uma escolha racional”, explicou.
Ele ressaltou que já é possível identificar que a maioria das empresas chinesas que atuam no setor dos criptoativos estão em busca de jurisdições mais amigáveis para basear suas operações, como a Singapura.
“Singapura é aberta e tolerante às criptomoedas, não apenas às empresas chinesas, mas muitas companhias internacionais da área também estão se mudando para lá, como a 3ac”, explicou Wu. “Outra razão é que a cultura de Singapura é semelhante à da China”.
O endurecimento do governo já foi capaz de assustar alguns participantes do mercado. O maior pool de mineração de Ethereum do mundo, o Spark Pool, anunciou hoje que não vai mais fornecer seus serviços a usuários da China continental, como forma de “cumprir as mais recentes políticas regulatórias da indústria”.
Segundo Wu, o popular software de mineração NBMiner também confirmou que deixará de oferecer serviços de suporte técnico para clientes chineses.
Ataque aos mineradores se intensifica
Ao mesmo tempo que o Banco Central publicou as novas restrições, o órgão de planejamento estatal da China, o NDRC, também publicou um “Aviso sobre Retificação de Mineração de Moeda Virtual” que foca no combate à mineração.
O texto ordena que fornecedores de eletricidade parem de atender mineradores por meio de linhas diretas e aumente para o custo da energia para US$ 0,05 por quilowatt-hora aos mineradores identificados.
O NDRC pede ainda que autoridades locais aumentem a busca por fazendas ilegais de mineração e reprimam de forma geral as atividades em seus territórios como forma de eliminar gradualmente a indústria.
De acordo com o Colin Wu, os mineradores maiores devem continuar a tendência iniciada durante as repressões de maio e deixar a China para operar em outros países, como os Estados Unidos.
“Enquanto isso, os pequenos mineradores devem encontrar algumas fábricas para minerar de forma secreta. Se não conseguirem encontrar um local seguro, eles provavelmente deverão vender suas máquinas”, disse à reportagem.
Bitcoin segue resiliente a longo prazo
O preço do bitcoin não ficou imune às notícias negativas desta sexta-feira que partiram da China. Segundo o CoinMarketCap, a moeda desvaloriza 3,6% nas últimas 24 horas, sendo negociada a US$ 42.220.
Apesar de já ser comum o preço do bitcoin reagir de forma negativa às declarações do governo chinês, a queda tende a ser um evento passageiro, com o criptoativo sendo capaz de recuperar o prejuízo ao longo prazo.
Conforme dados da Kraken divulgados pelo analista Pete Humiston, o bitcoin costuma valorizar em média 53% cerca de 90 dias após as notícias de FUD — medo, incerteza e dúvida — que partem da China.