Imagem da matéria: Nostr: Conheça o “Twitter” resistente à censura, criado por um brasileiro, que virou febre entre fãs do Bitcoin
O avestruz roxo se tornou o símbolo do Nostr (Imagem: Reprodução/Iris)

O protocolo Nostr, criado por um brasileiro conhecido apenas por seu pseudônimo ‘fiatjaf’, está atraindo a atenção dos bitcoiners que buscam uma alternativa descentralizada ao Twitter, rede social controlada atualmente pelo bilionário Elon Musk e que concentra boa parte da comunidade das criptomoedas.

Nostr é o protocolo de comunicação sem “donos” e resistente à censura, no qual pessoas podem trocar mensagens umas com as outras por meio de clientes — aplicativos que podem ser criados dentro da rede por qualquer desenvolvedor. 

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O cliente mais popular no momento é o Damus, lançado na Apple Store no dia 31 de janeiro. Usuários também podem acessar o Nostr através do Amethyst, disponível na Play Store, e dos clientes web, como Iris, Snort.social, entre outros.

Todos esses aplicativos existem dentro do Nostr. Portanto, uma pessoa que escreve a partir do seu celular usando Damus, pode ter sua mensagem lida e respondida por um usuário que acessa o Snort no computador.

Desde o final do ano passado, o Nostr ganhou apoiadores ferrenhos como o famoso delator da Agência de Segurança Nacional dos EUA, Edward Snowden, o ativista de direitos humanos Alex Gladstein, e o maximalista de Bitcoin e criador do Twitter, Jack Dorsey.

O último, além de incentivar boa parte da sua base de seguidores para usar o Nostr após chamá-lo de um “marco para os protocolos abertos”, também colocou o próprio dinheiro no projeto. No final de 2022, Dorsey doou 14 BTC, cerca de R$ 1,6 milhão na atual cotação do ativo, para ajudar no desenvolvimento do Nostr.

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Criando Nostr

Em conversa com o Portal do Bitcoin, fiatjaf diz que embora o dinheiro doado por Dorsey tenha sido útil para pagar recompensas para pessoas que estão construindo programas sobre o Nostr, o que se tornou “crucial” de verdade foi o apoio do empresário em divulgar o Nostr.

“O negócio mudou da água para o vinho”, diz o desenvolvedor brasileiro que prefere se manter no anonimato, tal como Satoshi Nakamoto. Ele conta que sempre gostou de Bitcoin e começou a contribuir para o código aberto em 2018, criando programas que tentaram ser úteis para a usabilidade da criptomoeda, como a Lightning Network.

Já o Nostr foi a sua tentativa de criar uma espécie de Twitter descentralizado, onde todos podem expressar livremente, independente do que pensam e de onde estão baseados, sem o medo de serem excluídos daquele espaço, como acontece no Twitter. “Acho que o Nostr chegou na hora certa”, avalia. 

Ele conta que suas inspirações para criar o Nostr vieram desde a ideia “simples” dos trackers do BitTorrent (servidores “centralizados” sem os quais o protocolo “descentralizado” não funcionaria), o SSB e um projeto “perdido” do desenvolvedor Ben Arc, chamado Diagon Alley.

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O sucesso do Nostr pode ser visto através do seu principal cliente no momento, o Damus, criado pelo desenvolvedor William Casarin. Assim que o aplicativo foi lançado na Apple Store no final de janeiro, recebeu uma avalanche de downloads e, em menos de 48 horas, foi banido da China.

Fiatjaf comemora o fato do protocolo que criou estar ganhando tanta atenção atualmente, tanto de desenvolvedores que criam aplicativos sobre ele, como de usuários em geral.

“Estou achando muito legal, nunca esperei que isso fosse acontecer assim tão de repente, é uma experiência meio louca. Mas há desvantagens: diminuiu muito a minha produtividade. Fico constantemente preocupado com várias coisas que podem dar errado no desenvolvimento do protocolo.”

Mas afinal, como o Nostr funciona e o que há de tão revolucionário nisso tudo?

Entenda como Nostr funciona 

Embora o Nostr seja comparado com o Twitter, há diferenças fundamentais na forma como os dois projetos operam. 

Para acessar o Twitter, o usuário cria uma conta usando um e-mail, sua data de nascimento, uma senha e nome de usuário. Uma vez logado, escreve suas mensagens, que são armazenadas em um servidor sob o controle do Twitter e retransmitidas para outros usuários da rede social. Se publicar algo que viole as políticas na plataforma, ele tem a conta banida e seu histórico de mensagens oculto na plataforma.

Já no Nostr as coisas funcionam de forma diferente desde o momento de “criar uma conta”. O protocolo não quer saber nenhum dado pessoal do usuário, sequer seu e-mail. Para acessar o ecossistema do Nostr, é necessário apenas gerar uma combinação de chaves criptográficas, uma pública e uma privada.

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A chave pública funciona como o nome de usuário e é a forma como as pessoas se encontram e interagem no Nostr. A chave privada, por sua vez, funciona como uma senha e é necessária para logar nos clientes. Por funcionar como uma senha “vitalícia”, deve ser guardada com a máxima proteção e privacidade.

Uma vez dentro do Nostr através do cliente de escolha, o usuário pode escrever mensagens que, ao invés de serem transmitidas para um servidor central (como seria no Twitter), são enviadas para as chamadas relays.

São essas relays, que podem ser rodadas e integradas ao Nostr por qualquer pessoa, que tem a tarefa de armazenar e transmitir as mensagens do usuário.

As relays não dialogam umas com as outras no ecossistema, apenas com os usuários através dos aplicativos que utilizam. Portanto, para que as mensagens sejam expostas na rede social, o cliente busca os dados das relays que as pessoas que se seguem têm em comum. 

A forma prática como uma relay funciona é explicada no GitHub do Nostr:

“Para ‘seguir’ alguém, um usuário apenas instrui seu cliente a consultar as relays que conhece por postagens daquela chave pública. Na inicialização, um cliente consulta os dados de todas as relays que conhece para todos os usuários que segue (por exemplo, todas as atualizações do último dia) e exibe esses dados para o usuário em ordem cronológica.”

Nostr, portanto, é formado por dois componentes básicos: clientes (os aplicativos) e relays (os servidores). Em resumo, o protocolo Nostr funciona da seguinte maneira: 

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“Todo mundo tem um cliente. Pode ser um cliente nativo, um cliente web, etc. Para publicar algo, você escreve uma postagem, assina com sua chave e envia para várias relays (servidores hospedados por outra pessoa ou você mesmo). Para obter atualizações de outras pessoas, você pergunta a várias relays se elas sabem alguma coisa sobre essas outras pessoas. Qualquer um pode executar um relay. Um relay é muito simples e estúpido. Não faz nada além de aceitar postagens de algumas pessoas e encaminhar para outras. Os relays não precisam ser confiáveis. As assinaturas são verificadas no lado do cliente.”

E o Bitcoin?

Apesar de sua conexão com o mundo cripto, a descrição acima mostra que Nostr não é um protocolo construído em uma blockchain. Por isso, a sinergia com a comunidade cripto é muito mais ideológica do que tecnológica, especialmente na questão da descentralização e da resistência à censura.

Isso não significa, contudo, que Bitcoin não exista no ecossistema do Nostr. No Damus, o cliente mais popular do protocolo, usuários podem vincular suas contas com endereços de Bitcoin e enviar gorjetas uns aos outros através da Lightning Network.  

O Bitcoin também é usado pelos usuários que querem pagar por recursos que melhoram a experiência no Nostr, seja comprando um NIP-05, que é um identificador para a chave pública que garante um selo de verificação ao usuário, ou o acesso a uma relay que acelera o recebimento das mensagens.

De todo modo, o Nostr segue as mesmas inspirações do Bitcoin como a proposta de ser uma rede social descentralizada a qual qualquer pessoa no mundo pode ter acesso.

Neste protocolo de comunicação, portanto, não há qualquer tipo de controle de conteúdo que pode circular.

“Todo o conteúdo fica nesses servidores chamados relays, então fica a critério deles colocar qualquer restrição. A resistência à censura vem do fato de que é possível e fácil para qualquer um rodar um desses”, explica fiatjaf.

Ou seja, o Nostr é um protocolo que apenas permite a comunicação entre as pessoas, mas fica por conta do usuário a responsabilidade de escolher a partir de quais relays pretende  enviar e receber mensagens.

“Há várias coisas que podem acontecer que podem tornar o Nostr mais centralizado, menos aberto, mais complexo do que deveria, e essas coisas não estão muito sobre o meu controle. Mas, surpreendente, até agora tudo está indo bem”, avalia o brasileiro.

Fiatjaf diz que, embora hoje o Nostr esteja bem próximo do ideal para uma ‘rede social descentralizada’, ainda é preciso que os programas construídos sobre o protocolo sejam aprimorados. No momento, um problema que ele aponta é a forma como os clientes se comunicam com as relays.

“Os programas atuais (exceto talvez o Gossip e o Coracle) não estão equipados para se comunicar de maneira eficiente com relays. Eles estão sempre esperando encontrar todos os posts de todas as pessoas num conjunto restrito de relays, mas esse conjunto precisa ser mais dinâmico e mais inteligente. Há várias maneiras de fazer isso, espero que cada programa encontre a sua.”

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