O presidente Jair Bolsonaro voltou a falar sobre bitcoin na entrevista de mais de cinco horas que concedeu ao podcast Flow na segunda-feira (8), para mais uma vez atacar a antiga gestão da Funai e o polêmico projeto de criptomoeda indígena.
Quando questionado pelo apresentador sobre o que ele achava de bitcoin, Bolsonaro confessou não conhecer nada sobre a criptomoeda. “Eu nunca mexi com isso. Não sei o que é bitcoin e acho que a maioria da população não sabe”, afirmou.
O apresentador também questionou se Bolsonaro tomaria alguma ação para regular o mercado brasileiro de criptomoedas, mas ele disse que sobre esse assunto, teria que perguntar para o Ministro da Economia, Paulo Guedes.
O que Bolsonaro disse sobre #bitcoin e a criptomoeda indígena no Flow: pic.twitter.com/bSRqy2YzSg
— Portal do Bitcoin (@portaldobitcoin) August 9, 2022
Como já fez várias vezes no passado, Bolsonaro trouxe à tona a discussão sobre bitcoin para distorcer um projeto da Funai que nunca saiu do papel e afirmar que impediu sua continuidade.
“Descobri que Funai tinha um contrato de R$ 50 milhões para ensinar índio mexer com bitcoin. Na transição, vamo [sic] cancelar isso aí. […] É sacanagem”, disse o presidente eleito em 2018 com a defesa de pautas anti-povos originários.
A polêmica criptomoeda indígena
Ao que Bolsonaro se refere na sua fala não tem qualquer relação real com bitcoin, mas sim um projeto do final de 2018, época em que Michel Temer (MDB) estava na presidência, em que o Funai firmou um contrato de R$ 44 milhões com a Universidade Federal Fluminense (UFF) que previa, entre outras medidas, a criação de uma criptomoeda dos povos indígenas.
O dinheiro seria usado para financiar outros 16 serviços, entre eles o mapeamento e a criação de um banco de dados das terras indígenas.
Em janeiro de 2019, a ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) já havia barrado a licitação e em setembro de 2020, a Funai deu fim definitivo à parceria.
O caso tomou grandes proporções na primeira semana de Bolsonaro na presidência e representou a primeira vez que o político fez uma menção ao universo das criptomoedas.
Desde então, o assunto volta a ganhar atenção toda vez que Bolsonaro o utiliza para criticar gestões anteriores. Outros parceiros do governo também usam a história com a mesma finalidade.
Recentemente, o presidente da Funai, Marcelo Xavier, usou a criptomoeda indígena para responder às críticas que vinha recebendo pela falta de esforços da entidade nas buscas do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, desaparecidos no Vale do Javari (AM).
Em carta publicada em 13 de junho, Xavier afirmou que a Funai enfrentava uma série de problemas crônicos na região, que supostamente seriam uma herança deixada por gestões anteriores. Entre os fracassos do passado, ele cita a criptomoeda do índio.
“O que havia era malversação dos recursos, que nunca eram aplicados da forma adequada, vide o caso da criação de uma criptomoeda indígena, cujo contrato foi cancelado na nossa gestão e que, se fosse adiante, causaria um prejuízo de R$ 45 milhões aos cofres públicos”, escreveu Xavier na época.