Manhã Cripto: Medo de quebra da Genesis joga Bitcoin para o menor preço em dois anos; Lei das Criptomoedas pode ser votada hoje na Câmara

Corretora de ativos digitais não conseguiu receber investimento da Binance; Coinbase e Grayscale sentem efeitos de contágio com a crise
Logotipo da Genesis com seta apontando para baixo

Shutterstock

O mercado de criptomoedas é novamente atingido nesta terça-feira (22) pelo temor de contágio da FTX. A nova vítima pode ser a Genesis Global, corretora de ativos digitais e plataforma de crédito cripto, que não tem conseguido levantar caixa para manter suas operações. 

Como reflexo, o Bitcoin (BTC), que chegou a ser negociado no menor nível em dois anos, recua 1,9% nas últimas 24 horas, para US$ 15.719,66, segundo dados do CoinGecko.  

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No Brasil, as atenções se voltam para a possível votação do projeto de lei que regula o mercado de criptoativos na Câmara de Deputados. Em reais, o Bitcoin tem baixa de 3,4%, negociado a R$ 84.024,66, de acordo com o Índice do Portal do Bitcoin (IPB).  

Já o Ethereum (ETH) registra queda de 3,6%, cotado a US$ 1.083,17 nas últimas 24 horas. A segunda maior criptomoeda acumula perdas de 12,4% em sete dias. 

Dados de blockchain da Etherscan mostram que uma conta cripto associada ao hacker da FTX transferiu um total de 180 mil ETH – no valor de aproximadamente US$ 200 milhões a preços atuais – para 12 carteiras cripto na segunda-feira (21). Cada carteira recebeu 15 mil ETH em questão de minutos.

A terça-feira também é de baixa para as principais altcoins, entre elas Binance Coin (-1,7%), Cardano (-1,2%), Dogecoin (-2,3%), Polygon (-1,4%), Polkadot (-3,5%), Shiba Inu (-3,4%), Solana (-2,8%) e Avalanche (-2,8%). XRP vai na contramão e sobe 1,5%. 

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Falência da Genesis 

A corretora cripto Genesis Global disse na segunda-feira (21) que não tem planos imediatos de pedir recuperação judicial. Na semana passada, a unidade de empréstimos cripto Genesis Global Capital suspendeu resgates de clientes, citando o repentino colapso da FTX, fundada por Sam Bankman-Fried. 

” (…) Nosso objetivo é resolver a situação atual de forma consensual, sem a necessidade de qualquer pedido de recuperação judicial”, disse um porta-voz da Genesis em comunicado enviado por e-mail à Reuters, acrescentando que continua conversando com os credores. 

No entanto, a empresa não convenceu o mercado.Fontes disseram à Bloomberg News que a Genesis enfrenta dificuldades de levantar capital para sua unidade de empréstimos e alertou investidores de que a recuperação judicial seria o caminho caso não consiga financiamento. 

Além disso, também citando fontes, o Wall Street Journal informou que a empresa procurou a Binance em busca de um investimento, mas a maior corretora cripto do mundo teria se recusado em injetar capital, temendo um conflito de interesses no futuro. 

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A Genesis também teria procurado a firma de private equity Apollo Global Management para conseguir dinheiro novo, de acordo com o jornal. 

Grayscale e o maior fundo de Bitcoin 

A Genesis é controlada pelo Digital Currency Group (DCG), que também é dono da Grayscale Invstments, que administra o Grayscale Bitcoin Trust (GBTC), o maior fundo de Bitcoin do mundo, com 635 mil BTC na carteira. 

Com os temores do mercado, o GBTC é negociado com desconto de 45% em relação ao valor do Bitcoin subjacente. Mas relatório do Bernstein divulgado pelo InfoMoney diz que a situação na Genesis não afeta diretamente o GBTC. Mesmo que a empresa não consiga levantar liquidez para sua carteira de empréstimos e peça recuperação judicial, os credores não teriam direito sobre os ativos do GBTC, diz o relatório. 

Impacto da FTX na Coinbase 

As ações da Coinbase Global atingiram uma mínima histórica em meio ao crescente nervosismo dos investidores. Os papéis da maior exchange de criptomoedas dos EUA fecharam em queda de 9% ontem (21). No acumulado do ano, as ações da Coinbase mostram baixa de 80%. 

Ainda assim, Cathie Wood, gestora-estrela de Wall Street, reforça a aposta na corretora. Os fundos de sua empresa, a Ark Investment Management, compraram mais de 1,3 milhão de ações da Coinbase desde o início de novembro, no valor de cerca de US$ 56 milhões com base no preço de negociação de segunda-feira, segundo dados compilados pela Bloomberg. 

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Crise da FTX – Últimas notícias 

Um documento do processo de recuperação judicial da FTX Group mostrou que a exchange cripto e várias afiliadas tinham um saldo de caixa combinado de US$ 1,24 bilhão. A FTX estava no radar dos promotores federais em Manhattan meses antes de seu colapso, informou a Bloomberg News, citando pessoas familiarizadas com a investigação.  

A FTX de Bankman-Fried, seus pais e executivos da exchange compraram pelo menos 19 propriedades no valor de quase US$ 121 milhões nas Bahamas nos últimos dois anos, mostram registros oficiais obtidos pela Reuters

O jogador de futebol americano Tom Brady, ex de Gisele Bündchen, está entre as celebridades na mira de uma agência reguladora do Texas por possíveis violações da lei de valores mobiliários ligadas à promoção da FTX. 

O novo CEO da FTX, John J. Ray III, está recebendo US$ 1.300 por hora. As informações foram apresentadas no domingo (20) em um documento do processo de recuperação judicial, conforme o CoinDesk. Caso Ray cumpra uma jornada de trabalho de 40 horas semanais, seu salário mensal como CEO será de US$ 208 mil (R$ 1,1 milhão). 

Bitcoin hoje  

Alguns investidores têm uma visão bem pessimista para o Bitcoin. Peter Berezin, estrategista-chefe global da BCA Research, vê a maior criptomoeda em US$ 5 mil no longo prazo, segundo apontado em relatório. O derretimento da FTX “se assemelha muito mais ao colapso da Enron do que ao do Lehman (Brothers)”, afirmou. 

Além disso, André Franco, chefe de pesquisa do MB, alerta em artigo no Valor que, nos dados on-chain, a posição dos investidores de longo prazo continua diminuindo, voltando ao patamar de 27 de outubro. 

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O número de detentores de Bitcoin com prejuízo superou 50% pela primeira vez desde março de 2020, de acordo com um estudo da empresa de inteligência de mercado IntoThe Block divulgado pela Exame. Cerca de 52% dos endereços de carteiras digitais que possuem BTC, ou 24,6 milhões, compraram a criptomoeda por um valor maior que o atual em relação ao dólar e perderiam dinheiro caso vendessem. 

A crise causada pela FTX e encerramento das operações da Alameda Research, braço de investimentos e trading da corretora, enxugaram a liquidez do mercado cripto e reduziram a capacidade de comprar grandes volumes de BTC e ETH, de acordo com a provedora de dados Kaiko.  

Com as atenções todas concentradas na solvência de empresas cripto, as notícias no cenário macro vão para segundo plano. No mercado acionário, os índices futuros das bolsas americanas operam em direções opostas nesta terça, com investidores de olho em comentários de autoridades do Federal Reserve, que prometem seguir com o aperto monetário, e no aumento de casos de Covid na China. 

Outros destaques das criptomoedas 

Em mais um passo rumo à democratização da nova economia digital, o MB (Mercado Bitcoin) anunciou a criação de um canal oficial no Discord. O espaço busca reunir a comunidade da Web3 e seus 3,7 milhões de clientes, por meio de conteúdos e benefícios exclusivos, incluindo notícias, bate-papos virtuais com especialistas da organização e oferecimento de cursos da Blockchain Academy. Também haverá pré-venda de tokens selecionados para membros, acesso antecipado a novas ferramentas e relatórios de mercado. 

A BitPreço também vai operar serviços de pagamentos, conta digital e cartão por meio do novo aplicativo BityBank, que funcionará como um criptobanco, segundo o Valor. Para impulsionar o aplicativo, a BitPreço planeja oferecer cashback em criptoativos como Bitcoin, Ethereum, Solana, entre outras moedas negociadas na plataforma. Outro produto nos planos é uma “poupança kids”, com opção de guardar dinheiro em criptomoedas para os filhos. 

A Binance Labs, braço de venture capital da Binancefez um investimento estratégico na fabricante de carteiras de hardware Ngrave. O investimento faz parte da rodada de financiamento da série A da Ngrave que a Binance Labs vai liderar, disse um porta-voz da Ngrave. O valor do financiamento não foi divulgado. 

No Reino Unido, o vice-presidente do Banco da Inglaterra, Jon Cunliffe, chamou a atenção para a necessidade de regulação devido ao colapso da FTX. Tokens de criptoativos emitidos por exchanges, como o FTT da FTX, podem representar riscos “extremos” quando aceitos por seus emissores como garantia, disse Cunliffe em discurso na segunda-feira (21).  

O vice-presidente do BoE também afirmou que o ocorrido com a FTX pode influenciar o prazo de uma libra digital: “Nosso objetivo é garantir que a inovação ocorra, mas dentro de uma estrutura na qual os riscos sejam gerenciados adequadamente.” 

Dois cidadãos estonianos foram presos em Tallinn, na Estônia, sob 18 acusações por suposto envolvimento em uma fraude com criptomoedas estimada em US$ 575 milhões e conspiração de lavagem de dinheiro, disse o Departamento de Justiça dos EUA na segunda-feira (21). Sergei Potapenko e Ivan Turõgin, ambos de 37 anos, supostamente fraudaram centenas de milhares de vítimas por meio de contratos falsos de aluguel de equipamentos com seu serviço de mineração cripto HashFlare. 

Lei das Criptomoedas no Brasil   

O Projeto de Lei 4.401/2021, que regula o mercado de criptoativos no Brasilfoi incluído na pauta do Plenário da Câmara dos Deputados desta semana. Para especialistas ouvidos pelo E-Investidor, a definição de regras vai criar um caminho mais próspero para investimentos. “A pessoa física poderá escolher melhor sua forma de custódia predileta com o apoio de infraestruturas auditadas. Isso gera previsibilidade para a indústria como um todo”, disse Julien Dutra, diretor de relações governamentais da 2TM, dona do MB. 

Tatiana Revoredo, professora do Insper e especialista em blockchain e criptoativos, diz que a lei brasileira deve elevar o número de investidores que existem no Brasil. “Muitas pessoas que não operam por medo de estar em um universo não regulado x migrarão para o setor [o que pode aumentar a negociação dos ativos e facilitar a compra e venda de diversas criptomoedas]”, afirma a especialista.

O projeto de lei que regulamenta as responsabilidades dos intermediários de negociação com criptoativos chega à Câmara sem acordo sobre a chamada segregação patrimonial, que disciplina a separação entre ativos da corretora e dos clientes, aponta o Valor

Para o advogado Marcelo Vicentini, diretor da área tributária do escritório Madrona Advogados, casos como o da FTX mostram a importância de criar regras específicas para o setor de criptoativos. Em entrevista à Exame, Vicentini disse que investidores brasileiros com criptomoedas na FTX dificilmente vão conseguir receber seu capital de volta.  

A FTX é sediada nas Bahamas, e não possui CNPJ brasileiro cadastrado. “Um dos principais motivos das sedes serem em locais como Bahamas é a flexibilidade da legislação, e são locais que dão mais proteção aos nomes dos investidores”, explicou Vicentini. 

Metaverso, Games e NFTs 

Patrocinadora regional da Copa do Mundo do Catar, a operadora Claro vai oferecer uma coleção exclusiva de tokens não fungíveis para clientes, de acordo com a Exame, com sete modelos de NFTs temáticos, um para cada rodada da competição. Os NFTs também garantem um par de ingressos para a festa da Budweiser, a BUDX, evento em que a marca de cerveja transmite os jogos.  

Após a Mercedes anunciar o cancelamento do contrato com a FTX, especialistas ouvidos pelo Globo avaliam que a quebra da exchange pode impactar a credibilidade das demais empresas de criptoativos e, consequentemente, diminuir os patrocínios do campeonato de Fórmula 1. “Pelo alto custo do patrocínio, só marcas com muita musculatura conseguem investir, e isso é percebido pela audiência. O segmento cripto investiu pesado no esporte, pagando valores acima do que o mercado pagava”, diz Armênio Neto, especialista em novos negócios.