Depois de ultrapassar US$ 25 mil no sábado, o Bitcoin e outras criptomoedas recuam nesta segunda-feira (15) acompanhando as perdas dos índices futuros americanos. Os investidores sentem o peso de dados econômicos abaixo do esperado na China, que também surpreendeu com um corte de juros.
O Bitcoin (BTC) é negociado em baixa de 3% nas últimas 24 horas, cotado a US$ 24.120,56, segundo dados do CoinGecko. O Ethereum (ETH), que chegou a tocar em US$ 2 mil na sexta-feira (12), recua 5,5%, negociado a US$ 1.906,76.
No Brasil, o Bitcoin amanhece em queda de 3%, para R$ 122.798,66, segundo o Índice do Portal do Bitcoin (IPB).
As altcoins também revertem os ganhos e operam no vermelho, entre elas Binance Coin (-3,7%), Cardano (-6,3%), XRP (-4,7%), Solana (-7,1%), Dogecoin (-2,2%), Polkadot (-7%) e Alavanche (-5,9%). Shiba Inu vai na contramão e ainda sobe 0,5%.
A stablecoin aUSD, token nativo da Acala, plataforma de finanças descentralizadas (DeFi) baseada na rede Polkadot, perdeu a paridade ao dólar no domingo (14), com queda de 99% depois que hackers exploraram uma falha e emitiram 1,28 bilhão de tokens, de acordo com o CoinDesk.
Bitcoin hoje
A semana passada foi marcada por ganhos tanto para ações quanto para criptomoedas, embaladas pela perspectiva de aperto monetário mais brando nos Estados Unidos. A atualização da blockchain Ethereum, prevista para setembro, também ajudou a impulsionar o ETH e outros tokens.
Enquanto investidores de renda variável reforçavam expectativas de juros mais baixos nos EUA, o mercado de renda fixa apostava o contrário, em um sinal de que a inflação no país não teria atingido o pico. O aumento dos rendimentos dos títulos do Tesouro americano significa que investidores estão vendendo os chamados Treasuries, cujos preços operam em direção inversa aos juros dos papéis.
E nesta segunda, dados de varejo, investimento e produção industrial da China em julho vieram abaixo das estimativas de analistas, um reflexo do desaquecimento do mercado imobiliário e lockdowns para frear a Covid. Uma desaceleração da segunda maior economia do mundo também afetaria a economia global, reduzindo a liquidez e o apetite por ativos de risco, como ações e criptomoedas.
“Os dados econômicos de julho são muito alarmantes”, disse à Bloomberg Raymond Yeung, economista para Grande China do Australia & New Zealand Banking Group, destacando que o governo chinês precisa fortalecer medidas para evitar que a economia se deteriore ainda mais.
As relações entre EUA e China também podem azedar ainda mais. Cinco parlamentares americanos desembarcaram em Taiwan no domingo (14), 12 dias após a visita da presidente da Câmara, Nancy Pelosi, à ilha, vista pela China como parte de seu território, segundo informações do jornal O Globo e New York Times.
Notícias das criptomoedas
Com a plataforma Xtage, a XP entra oficialmente nesta segunda-feira (15) no mercado de criptoativos, de olho em investidores interessados no segmento. Lucas Rabechini, diretor de produtos financeiros da XP, contou ao Valor Investe que a projeção é chegar a 500 mil clientes cadastrados na plataforma e 200 mil com pelo menos uma ordem de compra realizada até o fim do ano.
A Tezos, fundada na França em 2014, vai ter representação comercial no Brasil, no Porto Maravilha, conforme o Globo. A rede de código aberto, baseada em contratos inteligentes e na criptomoeda XTZ, permite uma série de aplicações com criptoativos.
Steve Cohen, o bilionário por trás do fundo de hedge Point72 Asset Management, decidiu lançar uma gestora de ativos específica para criptoativos, segundo o Blockworks, que cita pessoas a par do assunto. Cohen começou a investir em criptomoedas em 2018.
A República Democrática do Congo abriu uma rodada de leilões de petróleo e gás para grupos de crédito de carbono e empresas cripto, de acordo com o Financial Times. Em vez de perfurar florestas tropicais, por exemplo, esses grupos aumentariam a receita vendendo créditos de carbono.
Apesar das perdas devido ao mercado baixista, fundos de pensão na América do Norte seguem otimistas em relação aos criptoativos, de acordo com o Wall Street Journal. O fundo de pensão de bombeiros de Houston, nos EUA, investiu US$ 25 milhões em Bitcoin e Ethereum em outubro passado, mas perdeu mais da metade do valor desde então. No entanto, o Houston Firefighters’ Relief and Retirement Fund investment, com US$ 5 bilhões em ativos, diz que a “volatilidade e grandes oscilações são esperadas”.
Crise das criptomoedas
A exchange de criptomoedas Zipmex, que suspendeu saques de clientes no mês passado e buscou proteção contra credores, ganhou mais três meses para resolver seus problemas de liquidez, disse uma fonte com conhecimento direto do assunto ao The Block.
Alguns acionistas e potenciais investidores da Zipmex pressionam pela renúncia do CEO Marcus Lim devido às medidas tomadas sob sua gestão, de acordo com a Bloomberg.
A plataforma de crédito cripto Vauld diz que “respeitosamente discorda” do recente bloqueio de parte de seus ativos por autoridades indianas, disse a empresa em comunicado no sábado (13). Uma agência reguladora da Índia congelou 3,7 bilhões de rupias indianas (US$ 46 milhões) dos ativos da companhia, conforme o The Block.
Leia Também
Reddit, Telegram e Twitter, que ajudaram a impulsionar a onda das ações-meme, agora são usadas para a mobilização de credores de plataformas cripto em recuperação judicial, como Celsius e Voyager. Usuários têm escrito cartas a juízes e lançado campanhas para levantar recursos para as batalhas nos tribunais, destacou a Bloomberg.
Regulação e CBDCs
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, defende uma regulação dos criptoativos que não sufoque a inovação. “Eu acho que a gente vai acabar indo por um caminho um pouco diferente dos outros países”, disse na conferência online “O Futuro da Regulamentação dos Criptoativos no Brasil”, realizada na sexta-feira (12).
Segundo Campos Neto, uma regulação de “mão pesada” poderia empurrar investidores para o mercado não regulado e, por isso, sua prioridade é garantir a transparência de ativos digitais, e não definir “se o produto é bom para você ou não”. Com a regulamentação, o BC quer garantir que as operações com criptoativos tenham lastro.
O presidente do BC também acredita que os cartões de crédito deixarão de existir “em algum momento em breve” com a expansão do chamado “open finance”, que permite o compartilhamento de dados de clientes entre instituições financeiras.
No mesmo evento, o novo presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), João Pedro Nascimento, disse que a agência já elaborou um parecer de orientação, em fase de revisão, para dar mais segurança ao mercado cripto enquanto o projeto de lei não é aprovado pela Câmara.
“Proibir uma revolução não é algo que faremos”, afirmou Nascimento, que em entrevista recente ao InfoMoney reforçou o papel da CVM em criar uma regulação que não seja “invasiva” ao mercado cripto.
A advogada Julia Franco, do escritório Cescon Barrieu, concorda que pode haver um meio-termo. Uma regulação que traga segurança jurídica sem inibir a inovação e arranjos contratuais legítimos, disse ao Estadão.
Sobre a integração com o sistema tradicional, Reinaldo Rabelo, CEO do MB, destacou em entrevista ao Cointelegraph que “no início, cripto era algo totalmente apartado e hoje, cada vez mais, é algo que vem modificando o mercado financeiro e de capitais”, com propostas que já começam a ser incorporadas, como a tokenização de ativos. “Essa conexão vai certamente ser positiva para quem atua com cripto, que de fato vai poder alcançar um público ainda maior do que foi atraído pela curiosidade tecnológica”, disse.
O executivo também afirmou que o MB está no processo “quase final” para receber aprovação junto ao BC como instituição de pagamento, o que permitirá ampliar a oferta da exchange, como produtos bancários que conectam o mundo cripto a serviços de pagamento.
Apesar da campanha de El Salvador para popularizar a adoção do Bitcoin, comerciantes relatam baixa procura pela criptomoeda e dificuldade para usar a carteira eletrônica do governo, revela Daniela Arcanjo, em artigo na Folha de São Paulo. Além disso, destaca, nem tudo pode ser comprado com Bitcoin: livros que abordam o tema das “pandilhas”, grupos criminosos que dominam parte do território, estão censurados.
Cibersegurança
Clientes da BlueBenx foram surpreendidos na quinta-feira (11) ao descobrirem que não poderiam mais tirar o dinheiro depositado na plataforma que prometia entregar altos rendimentos investindo em criptomoedas.
A empresa brasileira bloqueou os saques alegando ter sido vítima de um ataque hacker “extremamente agressivo”. O advogado da companhia, Assuramaya Kuthumi, estima que a empresa perdeu R$ 160 milhões no suposto ataque. No entanto, clientes que conversaram com a reportagem do Portal do Bitcoin veem com ceticismo o suposto incidente narrado pela empresa e revelam o receio de terem caído em um golpe.
A Agência de Polícia dos Países Baixos anunciou na sexta-feira (12) que prendeu um “desenvolvedor suspeito” do Tornado Cash, o serviço de mixagem de criptomoedas que foi sancionado pelo governo dos EUA no início da semana passada.
Metaverso, Games e NFTs
Com menos de dois meses para a eleição presidencial no Brasil, a disputa entre os dois candidatos com maior pontuação nas pesquisas de intenção de voto entra em um campo inédito: no mercado de tokens não fungíveis, ou NFTs.
No OpenSea, o maior mercado de NFTs do mundo, Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) têm inspirado uma série de obras de arte digitais, conforme o Portal do Bitcoin.
O MTV Video Music Awards lançou uma experiência virtual na plataforma de jogos Roblox, informou o Wall Street Journal. A instalação temporária traz uma nova categoria da MTV à premiação deste ano, para reconhecer a melhor performance musical do metaverso.
Driss Temsamani, diretor de negócios digitais do Citigroup para América Latina, afirmou ao Valor que as moedas digitais de bancos centrais (CBDCs, na sigla em inglês) terão papel central no metaverso. “CBDCs são necessárias. Fazem parte da história do metaverso. Não podemos ir de uma economia tradicional para uma economia de metaverso sem trazer junto os meios de pagamento”, disse.
Dados aparentemente inofensivos como o tamanho da sala no metaverso ou sua altura podem dizer muito para marcas interessadas em vender, segundo artigo da Forbes, que cita pesquisadores da Universidade da Califórnia, Berkeley e a Universidade Técnica de Munique. Dados como patrimônio, gênero e bem-estar físico podem se tornar mais acessíveis por meio de informações distribuídas no mundo virtual.
Estudo da corretora Bybit publicado pelo Valor aponta que mais de US$ 10 bilhões foram investidos por fundos de venture capital e investidores individuais em projetos de jogos eletrônicos com blockchain de janeiro de 2021 a junho de 2022. No entanto, o número de usuários ainda é baixo, já que gigantes como Activision Blizzard, Take-Two, Eletronic Arts e Nintendo estão fora desse mercado.