Conversas interceptadas pela Polícia Federal mostram que o empresário Ronaldo Luis Sembranelli, que atuava como ‘laranja’ do chefão da Unick, Leidimar Lopes, e ficou rico dando suporte aos negócios da empresa.
Conforme apontam as investigações, o empresário fez fortuna fazendo operações para Leidimar — seja negociando com o Banco do Estado de Santa Catarina (BESC) ou controlando as contas de uma escola infantil de Caxias do Sul (RS).
De acordo com o relatório da PF que o Portal do Bitcoin teve acesso, a conversa entre Ronaldo e o suposto sobrinho Junior, retrata um esquema forjado na ganância.
Sobre como a Unick operava, o empresário disse: “tô cagando e andando entendeu? Eu ganho dinheiro de qualquer forma”.
Mais tarde, as decisões do grupo criminoso se tornaria o pesadelo dos clientes da Unick. Ronaldo, contudo, já estaria rico por lavar dinheiro sujo do chefão do esquema de pirâmide.
“RONALDO tem conhecimento das operações ilícitas da UNICK, entretanto demonstra descaso com a operação irregular, ou com possíveis ações das Autoridades competentes, importando-se tão somente com o fato de estar ganhando dinheiro com isso”, aponta o relatório.
Segundo as conversas, Ronaldo diz que apenas dá consultoria para Leidimar uma vez por mês e que não trabalha com captação. Conforme disse, ele não ‘faz dinheiro’ para botar na Unick e nunca ‘fez dinheiro’ para Leidimar, ou seja, nunca investiu no negócio.
Junior exalta que Ronaldo está muito bem financeiramente, que ele trabalhou por muito tempo, mas que foi com a Unick que conseguiu tudo o que tem — em 1 ano e meio ou 2 anos, disse.
‘Não sabia’ como a Unick operava
“Se der zebra ele tem dinheiro para muito tempo, para se manter”, diz o documento. Leia um trecho da conversa realizada no dia 23 de maio de 2019.
RONALDO: Cara, é que nem eu te falei, aquele dia o cara ali [ininteligível] de Novo Hamburgo lá o da, da… o cara lá deixou de paga os caras meu e peitou o Ministério Público, né.
JUNIOR: Tu viu o que, o que aconteceu mas também, o cara tava… foi muita falcatrua o cara que fez aquilo lá. Tava botando em, em, em… poupança e pagando o rendimento de, de Forex, Forex, né. Aí não né, Ronaldo.
RONALDO: É e ainda, ainda boto como financeira, né cara, ele não era financeira [ininteligível]. Claro a, a Uni… a Unick também não sei comé que opera, tô cagando e andando entendeu? Eu ganho dinheiro de qualquer forma.
JUNIOR: Sim, sim.
RONALDO: Claro né, cara. Os cara me… [ininteligível] o contador lá é nosso e não deles. [ininteligível]. Eu dô consultoria pra ele mensal, entendeu? Então eu não trabalho com captação de [ininteligível], só a Mara tem que a gente tem, que é minha irmã. Que aí é uma mixaria outra mixaria. Eu não trabalho [ininteligível], não, não faço dinheiro pra botá ali. Nunca fiz dinheiro pra ele, nunca fiz pra ele.
JUNIOR: Sim, sim.
RONALDO: Entendeu? Então tô bem tranquilo né. E tudo que eu ganhei ali [ininteligível] tá no meu imposto, entendeu? Vô paga imposto também esse ano de novo, vô declara ano que vem.
JUNIOR: Não, mas Ronaldo tu tá no, tu tá assim ó… Graças a Deus tu tá estabilizado e… se dá uma zebra dá coisa, tu não… tu tem ã… dinheiro pra muito tempo pra, pra se mante e pra ir atrás de novo.
RONALDO: Cara, não, patrimônio também se tive que vende uma, faze caixa de uma casa [ininteligível], eu faço ali, entendeu?
JUNIOR: É o que mais fácil tu tem, casa quitada tudo, Ronaldo. Não tem uma conta na rua, Ronaldo. Quem é o brasileiro que tem isso aí? É só a classe média muito alta ou quem ganhou dinheiro muito tempo.
RONALDO: É verdade.
JUNIOR: Tu conseguiu isso aí em 2 anos, Ronaldo. Trabalhando muito tempo, mas em 2 anos tu conseguiu isso, 1 ano e meio.
RONALDO: É.
JUNIOR: Então tem que… agradece e… fica tranquilo.
Usou banco para negócio sujo
A conversa também foi pautada em uma permuta do BESC no valor de R$ 550 mil.
O valor seria aplicado em “duas salas grandes”, supostamente para Ronaldo abrir escritório para lavar o dinheiro recebido de Leidimar por meio da empresa de Júnior.
De acordo com a conversa, Júnior estava animado com a parceira. Do modo como falava, ele exaltava a estabilidade financeira de Ronaldo e também almejava ganhar muito dinheiro com o aporte.
Leia o trecho:
RONALDO: [ininteligível] bem de vida. Tá mas e aí, tu ia vê os negócios lá vai faze alguma coisa ou não?
JUNIOR: Vamo, vamo. Eu tô acabando de finaliza, nós tamo somando tudo que precisamo aqui daí eu te… segunda-feira quando tive mais calma a gente marca uma reuniãozinha e vamo daí. Vamos começa.
RONALDO: Não, não… aquilo que eu te falei [inaudível] de 2% ao mês. [ininteligível].
JUNIOR: Não, vai me ajuda aí.
RONALDO: [ininteligível].
JUNIOR: Tô cont… tô contando contigo.
RONALDO: É. Outra coisa, se for pra pegar uma… uma escritório, uma sala grande, [ininteligível].
JUNIOR: Oh… pode deixa.
RONALDO: Eu peguei, fechei negócio de pegar uma permuta com o Besc aí. Vai dá 550 mil de volto, de repente eu pego duas sala grande comercial. [ininteligível].
JUNIOR: Não é baixo ainda, ainda.
RONALDO: Ah bom, se absorve tudo bem né. [ininteligível]. Tu mora na zona norte e tá lá em cima né, cara.
JUNIOR: Sim, mas ã…. o… O meu grande detalhe que eu te falei é o… agora ta graças a Deus, Ronaldo. Tá começando a respirar.
RONALDO: É cara, tem que cuidar, velho. Mão de obra qualificada tem que cuidar.
JUNIOR: Tô mais em cima, fiquei mais empolgado com a nossa conversa lá, me deu um ânimo.
RONALDO: Não, não… Cara trabalho não [ininteligível], é.. é na crise que se ganha dinheiro, velho. [ininteligível].
JUNIOR: É verdade. É isso aí mesmo.
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