Uma obscura exchange de criptomoedas chamada Atomars comunicou a seus clientes o desaparecimento do seu administrador e diretor-financeiro (CFO) — e junto com ele o acesso aos fundos da empresa.
O aviso publicado na quarta-feira (05) diz o seguinte: “Lamentamos informar que o administrador da corretora, que também é o CFO, desapareceu com os acessos à carteira e não responde a nenhuma comunicação. Ele também tem acesso a todas as contas de mídia social”.
Sem trazer mais detalhes sobre o caso, o comunicado afirma que a empresa trabalha com as autoridades para resolver a situação e “fazer tudo voltar como era antes”.
Nas redes sociais, os usuários afirmam que a Atomars está praticando um exit scam, o famoso golpe onde uma plataforma rouba os fundos dos clientes ao simular um ataque hacker ou o sumiço de um administrador, nos mesmos moldes do que aconteceu recentemente com duas corretoras da Turquia.
Os clientes suspeitam desde o final de abril que a Atomars é uma fraude. Além de não deixar os clientes retirarem seus fundos da plataforma, a equipe parou de responder o suporte, fechou os chats públicos nos grupos do Telegram e parou de publicar nas redes sociais.
O brasileiro Lucas Pinho era um cliente da plataforma. Ele começou a usá-la no mês passado por indicação de um amigo, já que ele queria negociar uma criptomoeda que havia em outras corretoras. Na Atomars, há 147 criptomoedas listadas e 328 pares diferentes.
“Não gostei da plataforma. Por incrível que pareça, quando eu fiz um depósito na quinta-feira semana passada, já estranhei a moeda não cair na hora”, disse ao Portal do Bitcoin via Telegram.
Lucas tinha em sua conta US$ 50 em Tether (USDT), cerca de R$ 260, e segundo ele, a plataforma prometia rendimentos através de stake de criptomoedas. “Provavelmente eles não têm dinheiro para pagar, e inventaram essa desculpa. Infelizmente esses hypes são assim mesmo.”
Exchange misteriosa
O brasileiro admite que não sabe quem são os donos da corretora. A Atomars quase não oferece informações online sobre a sua origem, quem são seus diretores ou qual regulação segue.
De acordo com a página da exchange no CoinMarketCap, a plataforma foi lançada em junho de 2019 e sua sede está localizada nas ilhas de Seicheles, um paraíso fiscal.
Em um grupo do Discord que reúne clientes da empresa, alguns usuários apontam que o líder da plataforma é um homem chamado Mike Filipenko, cujo perfil no Linkedin foi excluído recentemente.
Apesar das retiradas estarem oficialmente interrompidas, as negociações seguem acontecendo na plataforma. A Atomars registrou nesta quarta-feira um volume diário de US$ 56 milhões.
A empresa contava com 8 mil pessoas em seu grupo no Telegram, que agora está bloqueado.
Saques travados desde o final de abril
Há cerca de uma semana, o perfil da Atomars nas redes sociais acumula comentários de usuários indignados que não conseguem retirar os fundos da plataforma. No dia 27 de abril, o usuário @tossybanyo publicou a angústia no Reddit:
“Estou tentando sair da corretora, mas meus saques demoram uma eternidade. Depois de ler o telegram, vi que eles [Atomars] interromperam os bate-papos. No Twitter, todas as pessoas dizem que estão com o mesmo problema que eu. Na página do aplicativo no Google Play e no Discord, é a mesma coisa”.
Sem conseguir sacar alguns milhares de dólares em criptomoedas que estão presos na plataforma, o usuário admite que está “sentindo aquela sensação de estômago embrulhado”.