Há um consenso entre os analistas de que existe, hoje, uma correlação direta entre o comportamento dos juros americanos e o preço do Bitcoin. Em momento de aumento da taxa básica operada pelo FED (banco central americano), o preço da criptomoeda cai porque os investidores tendem a alocar uma parte maior de seus patrimônio em investimentos mais conservadores, que voltam a render mais, ou em dinheiro físico (neste caso, no dólar).
O aumento significativo nas taxas de juros é devido ao aumento da inflação nos Estados Unidos. Diante desse cenário, muitos investidores, tanto pessoas físicas quanto empresas, reduziram o apetite ao risco por conta das incertezas sobre até onde o Fed agirá para tentar controlar o aumento dos preços no país utilizando-se da taxa de juros.
Mas essa relação nem sempre aconteceu, é um fenômeno relativamente recente. Entenda como essa relação entre juros e preço das criptomoedas tem se desenhado ao longo dos últimos anos e o que a história pode dizer aos investidores sobre o futuro do bitcoin e das criptomoedas no geral.
Do subprime à primeira supervalorização
No auge da crise dos subprimes, em 2008, ano em que Satoshi Nakamoto lançou o paper que criou o bitcoin, o banco central americano derrubou a taxa de juros de 4,25%, registrado no começo daquele ano, para 0,25% em dezembro, patamar em que se manteve até o último trimestre de 2015, período em que o bitcoin oscilava entre US$ 300 e US$ 400 dólares.
A criptomoeda registra uma supervalorização em junho de 2017, quando mais que quadruplicou de valor com relação ao mesmo período do ano anterior, saindo da casa dos US$ 600 e ultrapassando os US$ 2.600 dólares. Mas foi em dezembro daquele ano que a moeda registrou seu maior salto até então, chegando a US$ 19.650, multiplicando por oito o seu valor em apenas seis meses.
Enquanto isso, os juros americanos registravam uma tendência de alta, em movimento oposto ao que acontece hoje, mostrando que, naquele momento, a alta dos juros não desestimulou o investimento na criptomoeda. De junho a dezembro de 2017, período de supervalorização do bitcoin, a taxa básica americana passou de 1,25% para 1,50% e continuou subindo ao longo dos anos seguintes, atingindo o pico no final de 2018, quando chegou a 2,50%.
No final de 2018, diante da persistência da alta dos juros, o bitcoin passou a recuar, chegando ao patamar de US$ 3.000. Com a estabilização do juro, até meados de 2019, a criptomoeda voltou a subir, chegando novamente à casa dos US$ 11.000. Nesse período, a correlação entre taxa de juros e preço da criptomoeda já parecia solidificada.
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Pandemia
Em março de 2020, a OMS declarou o estado de pandemia relacionado à propagação do novo coronavírus, e naquele momento, juros e bitcoin caíram simultaneamente, com a moeda saindo dos quase US$ 10.000 em fevereiro para a metade do valor no mês seguinte. A taxa de juros americana, que começou aquele ano em 1,75%, caiu agressivamente para 0,25%, voltando aos patamares da crise de 2008.
Exatamente dois anos depois, em março de 2022, as taxas americanas de juros voltaram a subir, passando para 0,50%. No mês em questão, o bitcoin partiu do patamar de US$ 44.000 e registrou altas, passando dos US$ 47.000. A partir de maio, porém, quando a tendência da alta de juros se confirmou e o Fed subiu a taxa mais duas vezes, chegando a 1,75% em junho, a moeda saiu de US$ 38.000 para o atual patamar dos US$ 20 mil.
Mesmo diante da queda dos últimos meses, o bitcoin sustenta uma valorização considerável desde 2017, muito superior à grande maioria dos demais ativos. Os ciclos de alta e baixa da criptomoeda mostram a relação direta que passou a existir entre a alta de juros americanos e a valorização da moeda depois que ela se estabeleceu entre diferentes perfis de investidores como uma opção arrojada.
Com a inevitável queda dos juros americanos, a criptomoeda deve voltar a subir. O momento, portanto, é de investimento.
E quando os juros americanos vão parar de subir? Uma análise do Bank of America mostrou uma correlação entre as taxas de juros e as taxas de desemprego nos Estados Unidos. Quando o nível de desemprego atinge seu melhor nível e a geração de emprego começa a desacelerar, os juros começam a cair. Isso é o que mostra a análise de seis ciclos econômicos diferentes realizada pelo banco.
A expectativa é que, já no primeiro semestre de 2023, haja a estabilização do mercado de trabalho americano e a consequente reversão da trajetória de juros americanos, o que deve favorecer um novo ciclo de altas do bitcoin e a reversão das quedas registradas no primeiro semestre deste ano, estabelecendo uma nova fase para o bitcoin e outras criptomoedas já estabelecidas no mercado.
Sobre o autor
Isabela Rossa é country manager da Coin Cloud Brasil