A Polícia Civil de Santa Catarina prendeu Clair Berti, conhecido como Bernardo Yatri, um dos maiores divulgadores da Telexfree e que captou pessoas para Minerworld e Unick Forex. O suspeito, que é alvo de duas denúncias por atuação fraudulenta, escondia em casa R$ 105 mil em dinheiro vivo.
O dinheiro foi encontrado dentro de caixas, de calçados e até dentro do estojo de um violino. Berti teve a prisão preventiva decretada há dois meses, mas por questão de saúde ela foi convertida em regime domiciliar, mediante uso de tornozeleira eletrônica.
O Portal do Bitcoin teve acesso às duas denúncias do Ministério Público. A última delas, apresentada em agosto deste ano, traz detalhes da atuação de Berti nas empresas Telexfree, Bbom, Click Dreams, AFTB (Associação Frutos da Terra Brasil) e Biticolibri. Ele estaria envolvido até mesmo no esquema de aluguel de criptomoedas na 3xBit.
De acordo com a promotora de Justiça de Videiros (SC) Maria Regina Dexheimer Lakus Forlin, Berti é suspeito de lavagem de dinheiro e pirâmide financeira. Ele teria criado uma empresa para “ legalizar os lucros da atividade ilícita”.
Dinheiro sem origem
Em 2014, Berti criou a Berti Administradora de Imóveis Eireli, CNPJ n. 20.621.529/0001-30. A empresa sem clientes e funcionários e com endereço residencial do próprio Berti apresentou movimentações financeiras elevadas.
“Nos dados da Receita Federal consta junto à Caixa Econômica Federal movimentação financeira de 2016, total de R$ 419.687,37; ano de 2017 – R$ 37.645,14; ano de 2018 – R$ 279.268,76; e no ano de 2019 – R$ 7.466.573,25”.
Essa mesma empresa que teoricamente seria de corretagem de imóveis não possui a cadastro algum para essa atividade e sem apresentar origem de sua renda mantinha uma “aplicação na Caixa Econômica Federal, em CDB Empresarial na conta 0796.003.00004000-6, no valor de R$ 2.816.504,32”. Constava também no nome da empresa um veículo Fiat/Toro Volcano AT9 D4 no valor de R$ 117.142,86.
Esse cenário, na visão da promotoria demonstra que a empresa foi fundada unicamente para lavar o dinheiro vindo das pirâmides.
Lavando dinheiro da Telexfree
Entre 2012 e 2013, Berti recebeu da Telexfree, o montante de R$ 11.025.878,63. Segundo a promotora, das informações obtidas da Receita Federal era possível identificar as transações de valores entre Berti e a Telexfree. Ele mesmo quem declarou o recebimento de R$ 6.302,346,50, no ano de 2012, e de R$ 4.817.511,22, no ano de 2013.
Berti adquiriu imóveis e fez investimentos em nome dele e da empresa Berti Administradora de Imóveis EIRELI. O fato é que entre 2013 e 2014, houve uma triplicação de seu patrimônio sem qualquer explicação.
“No ano de 2013, sem justificativa da melhora financeira, já que decorrente de esquema criminoso, declarou à Receita Federal o valor de R$ 3.896.497,62. Em seguida, no ano de 2014, o valor patrimonial triplicou para R$ 9.869.411,24, volume financeiro que ultrapassou 216.000%, considerando a renda de 2012”.
Como o dinheiro entrava sem ter origem, Berti resolveu lavar o dinheiro com aluguéis de Bitcoins. Ele adquiriu 10,490 Bitcoins e vinculou todos ao login: grupoberti@gmail.com na 3XBit para deixar as criptomoedas alugadas. O negócio com criptomoedas era parte do esquema, segundo a denúncia.
“Ocorre que este mesmo grupo, identificado por Clair, era utilizado para divulgação dos esquemas criminosos, em regra, negociados por essas criptomoedas que não são rastreáveis”.
Foi nesse mesmo período que a suposta corretora de imóveis foi aberta.
Velha história
A primeira denúncia apresentada em agosto de 2018 já apontava os indícios de que Berti vinha atuando em esquema de pirâmide financeira. A mesma promotora do MP de Santa Catarina, demonstrou que o investigado depois de ter lesionado o patrimônio de inúmeras pessoas naquela região com a Telefexfree voltou a atuar “com intuito de continuar auferindo ganhos ilícitos”.
Clair Berti, que também atende pelo codinome Bernardo Yatri, então, “passou a liderar a divulgação e captação de consumidores para o programa Bbom Mais”. Nesse esquema, Berti captava clientes ofertando cotas de uma microfranquia da empresa.
Vítimas de golpes
Na denúncia constam relatos de quatro vítimas que adquiriram essas cotas. Elas não terão os nomes revelados por questão de segurança. M.C.Z. relatou que a cota inicial era de R$ 950. Essa vítima aplicou R$ 3 mil, no ano de 2013, e mais R$ 1.900, em 2015. Ela aferiu, na época, mensalmente, a quantia de R$ 600.
O fato é que nem todos tiveram essa mesma sorte de conseguir receber pelo que aportou na BBom. G.C.R que afirmou ter adquirido quatro franquias da empresa BBom Mais, no valor de R$ 23 mil, só teve de retorno R$ 1.400.
Ao invés de receber mensalmente, o pagamento de R$ 700, por franquia, com esperava, só teve o retorno de duas dessas parcelas,pois o programa deixou de funcionar em 2013.
Essa vítima, ainda terminou sendo procurada por Berti em 2016. Segundo G.C.R., Berti “ofertou suporte para recuperar o capital investido e, para entrar no grupo, precisou repassar a ele o valor de R$ 950.
Houve gente que passou o problema para outras pessoas. Esse foi o caso de C.T.C.. decidiu passar parte da bomba para outra pessoa.
C.T.C. afirmou que participou “de várias reuniões em que era exposto os objetivos da empresa e foi estimulada inclusive a vender franquias para outras pessoas”. Ela adquiriu uma franquia no valor de R$ 3 mil da empresa e vendeu uma outra para M.V. no valor de R$ 1.200.
Esse estímulo de angariar novos clientes fazia parte do esquema. Berti prometia remuneração a partir dessa conduta. Consta na denúncia que essas pessoas tinham de “angariar mais pessoas para participar das franquias, conhecido com o termo técnico de ‘qualificar’, o que ocasionava obtenção de ganhos ilícitos em detrimento do povo”.
A promotora, então, diante do fato pediu nas duas denúncias a instauração do “processo-crime, citando-o para a apresentação da defesa e intimando-o para os demais atos processuais”.