Há exato um ano, no momento em que governos começavam a implantar medidas para controlar o novo coronavírus e o preço do petróleo desabava por causa de uma disputa entre a Rússia e a Arábia Saudita, o bitcoin registrava a maior queda diária percentual de toda sua história.
Era 12 de março de 2020. À meia-noite daquela quinta-feira, o BTC estava sendo negociado a US$7.866, segundo dados do TradingView. Ao longo do dia, o bitcoin derreteu 50% e bateu os US$ 3.960. Criptomoedas como ethereum e litecoin, além de bolsas de valores do mundo inteiro, também despencaram.
“Eu lembro que na noite do dia 11, antes de dormir, eu li que o então presidente dos EUA, Donald Trump, tinha suspendido viagens áreas de outros países. Falei beleza e fui para cama. Quando acordei, o bitcoin já tinha caído para US$ 5 mil. Pensei caramba, agora ferrou”, disse Lucas Bassotto, trader da Nox Bitcoin.
Bassotto falou que 20% de seu patrimônio estava em bitcoin e que costumava alavancar até cinco vezes para ficar exposto à alta da criptomoeda. Até então, segundo ele, a estratégia estava funcionando. Naquele dia, no entanto, a conta dele foi bloqueada e ele foi liquidado.
“Eu lembro que liguei para o João Paulo Oliveira (fundador da Nox Bitcoin) e falei ‘o sonho acabou, João’, vamos trabalhar no McDonald’s”, disse o trader.
Bassoto contou que resolveu a situação e conseguiu liberar mais dinheiro no banco para lidar com a perda. Ele também aprendeu com o quase trauma: “A lição é não ficar alavancado mais que quatro vezes. Além disso, é importante ter sempre caixa, porque assim você consegue segurar a porrada e comprar BTC no fundo, o que sempre é uma boa ideia”.
“Era meia-noite e eu ainda estava operando”
João Canhada, o fundador da corretora Foxbit, disse que o 12 março foi o dia com maior número de operações na mesa OTC da exchange: “Normalmente atendo em média 10 pessoas diariamente. Naquela quinta, atendi entre 80 e 100 pessoas. Era meia-noite e eu ainda estava operando. O volume da própria corretora também foi enorme”.
De acordo com Canhada, os clientes de OTC, que geralmente operam milhões, estavam divididos sobre a queda: “Alguns estavam super otimistas querendo depositar dinheiro para comprar mais BTC e tentando entender qual era o fundo, enquanto outros desesperados falavam ‘cara, estou comprado na Bolsa e alavancado e preciso que você venda o BTC no melhor preço para cobrir as perdas’”.
Naquele mês, o Ibovespa desabou 30% e bateu os 73.019 pontos. Foi a maior queda desde 1998. Até o final daquele março fatídico, a Bolsa de Valores brasileira já havia acionado seis vezes o circuit breaker, mecanismo que suspende as negociações em momentos de instabilidade no mercado financeiro. Teve gente que perdeu R$ 4 bilhões.
“O que aprendi naquele dia é que você precisa ser paciente, pois o mercado é cíclico. Ele vai e volta e se você tiver carteira diversificada, paciência para operar e não atuar na emoção, você vai sair vencedor”, disse Canhada.
Dura lição sobre o bitcoin
O trader Daniel Duarte, sócio-investidor da Nox, chegou a perder 40 bitcoins naquele dia. De acordo com ele, o cenário estava perigoso por causa do Covid e piorou com a guerra de preços do petróleo, que derrubou em 55% o preço da commodity naquele mês.
Muitos traders que operavam petróleo, segundo Duarte, também operavam bitcoin e buscaram na criptomoeda margem para cobrir suas perdas.
“A primeira grande lição é que em cenários de caos e confusão, como foi com o coronavírus, o cuidado deve ser redobrado, pois podem surgir novos problemas. A outra é que o bitcoin é valioso demais para ser negociado. O ideal é comprar e guardar”, falou
Crescimento de 1300%
Os investidores que naquele momento de queda mantiveram seus bitcoins em suas carteiras, hoje estão felizes. De lá para cá, o bitcoin teve uma subida meteórica e bateu sucessivos recordes de preço.
Nesta sexta-feira (12), de acordo com o CoinMarketCap, a criptomoeda é negociada a US$ 57,7 mil, uma alta de mais de 1300% em relação ao dia 12 de março de 2020. No Brasil, de acordo com o Índice de Preço do Bitcoin, é cotada em R$ 320 mil.
*Colaborou Cláudio Goldberg Rabin