O que levou o que Bitcoin a desabar em setembro e ficar abaixo de US$ 8.000
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A crise global gerada pelo coronavírus, agora reconhecido como pandemia, também acertou em cheio o bitcoin. E de quebra arranhou, no mínimo, a imagem de “ouro digital” defendida por entusiastas mais exaltados sobre a mais famosa das criptomoedas.

Já nas primeiras horas de quinta-feira (12) o bitcoin sofreu uma forte desvalorização, de pelo menos 20%. No final do dia, o ativo digital chegou a cair para US$ 3.960, registrando queda de 50% em menos de 24h. Nesta manhã se sexta-feira, no entanto, o preço tem uma leve recuperação e é negociado a US$ 5.400. Outras criptomoedas também seguiram a tendência de baixa.

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Essa perda tem levado a questionamentos diversos sobre o comportamento de ativos digitais como o bitcoin em momentos de crise. Ao mesmo tempo, o comportamento do bitcoin gera grande cautela sobre os atores envolvidos com o universo cripto.

Provocações

A queda do bitcoin gerou diversas provocações quanto ao ativo, algumas delas de figuras influentes na economia.

“Bitcoin não é caixa. Hoje isso está evidente”, comentou o economista Fernando Ulrich no Twitter.

Outra figura conhecida do meio econômico a ironizar o bitcoin foi Samy Dana. Ele não vê possibilidade de a criptomoeda funcionar como um meio de troca, como acreditam alguns de seus entusiastas.

“Bitcoin não [é] moeda forte e por ser desregulada? Em 24h caiu – 24,62% em USD (dólar). Terraplanistas financeiros das redes sociais deveriam saber que vol (volatilidade) não é vida e que risco é o conceito mais importante de Finanças. Se quiserem fugir de pilantras, sigam o @InvestNewsBR”, disse o economista no Twitter.

Primeira crise para o bitcoin

Apesar de tombos passados, o bitcoin se vê agora diante de sua primeira grande crise financeira global — a moeda digital ainda estava para nascer em 2008, ano do último grande crash nos mercados.

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João Paulo Oliveira, CEO da exchange Nox Bitcoin, recorda que a moeda não sofria uma queda tão acentuada no intraday desde 2013 e tem nesta quinta seu quarto maior tombo de sua história. No entanto, ele pondera que a crise gerada pelo coronavírus é diferente de outras, por não ter origem no meio financeiro.

“Essa não é uma crise de confiança em bancos, mas uma crise de saúde pública que afetou o comércio como um todo. E um volume expressivo do bitcoin usado mundialmente hoje é usado para pagamento relacionado à China, que está parada”.

O gigante asiático, segunda maior economia do mundo, foi o local de origem da pandemia, mais exatamente na cidade de Wuhan. Também é o país com maior número de afetados e de vítimas fatais da doença.

Além disso, a China tem participação-chave na produção do bitcoin. Uma investigação feita pela TokenAnalyst indica que cerca de 50% da mineração do bitcoin é controlada por apenas cinco empresas – todas elas do gigante asiático.

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Para o especialista em bitcoin Hamilton Amorim, também conhecido como “Algorista”, não se pode descartar uma possível ação de “baleias” — como são conhecidos os grandes detentores de bitcoin, com poder suficiente para controlar a cotação da moeda.

“Não dá para saber com certeza, mas eu acredito que sejam só os ‘baleias’ manipulando o mercado, aproveitando o caos dos mercados”.

Algorista também aposta que nas próximas semanas o ativo deve recuperar valor. No entanto, ele desvincula essa alta do Halving, corte na emissão global do bitcoin que está previsto para o mês de maio.

“Bitcoin vai retomar a alta e dessa vez será vertiginoso, e não tem nada a ver com o ‘Halving’, e sim tudo a ver com o reset do mercado financeiro disparado pelo coronavirus”.

Bitcoin melhor que ouro?

Uma teoria muito difundida por entusiastas do bitcoin é de que ele atuaria como uma espécie de “ouro digital”, em referência ao metal precioso que há séculos é usado como reserva de valor.

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Na atual crise, no entanto, a demanda maior é pelo dólar, que atua como uma espécie de “moeda franca fiat” global.

Até CZ, CEO da Binance, maior corretora de criptomoedas do mundo, usou o Twitter para se posicionar diante das perdas do bitcoin em relação a ouro e dólar.

“Fiat ainda é a moeda de pagamento”, disse CZ, indicando que menos de 0,1% da população global aceita bitcoin no momento.

Essa adoção ainda pequena do bitcoin também é observada pelo CEO da PagCripto, Carlos Lain, tornando-o mais vulnerável do que se supunha a grandes oscilações globais.

“Sua capitalização total [do bitcoin] é relativamente pequena a nível global. E isso permite que grandes movimentos de capitais pelo mundo afetem o preço de forma drástica eventualmente”.

Oliveira lembra ainda que o ouro tem um acesso mais fácil ao dinheiro que circula nos mercados do que o bitcoin. “Se o dinheiro que está nas corretoras pudesse ir rapidamente para o bitcoin, a gente poderia ver uma alta [da criptomoeda], mas isso ainda não acontece”.

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Vale lembrar que mesmo o precioso metal tem sofrido os efeitos da crise gerada pelo coronavírus. Depois de atingir sua máxima histórica de US$ 1.700 na semana passada, em alta de 12% no ano, o ouro entregou metade dos ganhos e, na quinta-feira (12), era negociado na faixa de US$ 1.600.

“Ouro já foi testado, o mundo quando tenta se proteger tende a ir para ele e, mesmo assim, também está sofrendo com esse pânico global, mas em proporções bem menores que o bitcoin”, reforça Lain.

Limites do bitcoin

Atores envolvidos no universo cripto ouvidos pelo Portal do Bitcoin entendem que a atual crise ajuda a entender alguns dos limites que existem sobre a criptomoeda. Limitações que, no entanto, não são suficientes para descartá-lo como ativo ou mesmo como solução tecnológica.

“Bitcoin não é a solução para todo o tipo de crise. Ele é uma proteção contra determinados tipos de crise. Obviamente, para esta situação em particular, ele ficou vulnerável assim como outros ativos”, afirmou Oliveira.

Lain pondera que é preciso esperar a reação do mercado nos dias e semanas seguintes ao tombo do ativo digital. Mas sua visão sobre o bitcoin é positiva, especialmente considerando o médio e longo prazo.

“Cabe agora aguardar para ver como o mercado passará por isso. A tecnologia está aí para ficar, o bitcoin não vai parar por conta disso, mas como economicamente o mercado irá aprender e precificar esses cenários é algo que ainda temos que aguardar para ver”.

A cautela é compartilhada por Fabricio Tota, gerente do setor de OTC da exchange Mercado Bitcoin, que vê necessidade de um maior desenvolvimento da criptomoeda.

“O bitcoin continua com suas características de proteção, mas tecnologias que permitam acesso ao ativo ainda precisam se desenvolver para atender investidores institucionais e indivíduos de forma mais abrangente. Creio que o bitcoin é a coisa certa, no lugar certo, mas na hora errada”.


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