A Grayscale, maior gestora de bitcoin do mundo, anunciou que não vai fazer a prova de reservas das criptomoedas que compõem seus fundos por “motivos de segurança”.
A pressão por mais transparência ganhou força após o colapso de diversas empresas da área cripto, inclusive da Genesis, uma companhia que faz parte do mesmo conglomerado empresarial da Grayscale, o Digital Currency Group (DCG).
Além disso, também voltou a circular na última sexta-feira (18) um artigo de julho do blog DataFinnovation que acusa o DCG e a agora falida Three Arrows Capital (3AC), de se unirem em um complexo esquema feito para lucrar por meio do fundo GBTC da Grayscale — um esquema que levantou a suspeita de que a Grayscale possa ser a próxima empresa a sangrar na crise que se espalha pelo mercado cripto.
Nesse cenário, a comunidade pediu que a Grayscale fizesse uma prova de reserva para mostrar que realmente possui os 635 mil bitcoins que afirma ter no seu fundo Grayscale Bitcoin Trust (GBTC).
O GBTC foi lançado em setembro de 2013 e é um valor mobiliário que oferece aos investidores uma maneira de obter exposição passiva ao bitcoin sem comprar o ativo por conta própria. Ele reúne dinheiro de players institucionais e o usa para comprar bitcoin, que é então mantido em um fundo Grayscale.
“O pânico provocado por outros não é uma razão boa o suficiente para contornar complexos acordos de segurança que mantiveram os ativos de nossos investidores seguros por anos”, escreveu a equipe da Grayscale no Twitter ao anunciar que não faria prova de reserva.
7) We know the preceding point in particular will be a disappointment to some, but panic sparked by others is not a good enough reason to circumvent complex security arrangements that have kept our investors’ assets safe for years.
— Grayscale (@Grayscale) November 18, 2022
Mesmo sabendo que a decisão iria desapontar parte da comunidade cripto, a Grayscale afirmou que todos seus ativos digitais estão seguros e sob custódia da Coinbase Custody Trust Company, LLC.
A empresa também explicou que seus fundos são valores mobiliários registrados na Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC), de tal forma que a situação financeira, os resultados das operações de cada fundo, bem como as auditorias externas que realiza, são detalhados em relatórios públicos e periódicos enviados aos reguladores.
Por fim, a Grayscale também ressalta que os regulamentos que regem seus produtos a proíbem de usar os ativos subjacentes para fazer ou receber empréstimos, ou qualquer outro tipo de negociação externa.
Cadê o bitcoin da Grayscale?
No entanto, sem que a Grayscale divulgasse onde estão armazenados os bitcoins do seu fundo, alguns investidores da comunidade cripto foram atrás dos endereços. O perfil @ErgoBTC, por exemplo, identificou 432 endereços contendo 317.705 BTC à provável atividade de custódia do GBTC — um total que representa apenas metade da reserva que a Grayscale afirma ter.
TLDR
— 🏴∴Ergo∴🏴 (@ErgoBTC) November 20, 2022
– Using public data and chain forensics, we have attributed 432 addresses holding 317,705 BTC to likely GBTC custody activity.
– This total is ~50% of GBTC reported current holdings.
– Additional work is necessary to ID the remaining addresses. pic.twitter.com/MMKzp2HBwQ
Depois disso, a Coinbase veio à público defender a Grayscale em uma carta aos investidores: “Escrevemos para reafirmar que os ativos subjacentes a todos os produtos de ativos digitais da Grayscale mantidos na Coinbase Custody, conforme listados na tabela abaixo, estão seguros”.
Na tabela anexada, é possível ver que a Coinbase faz a custódia de 635.235 BTC que respaldam o fundo GBTC. A Coinbase, assim como a Grayscale, também não divulgou os endereços onde os ativos estão armazenados.
Na visão do especialista Paulo Boghosian, head de cripto do TC, embora a Coinbase seja vista como uma empresa séria no mercado, o que os investidores querem nesse momento são provas na blockchain de onde estão os bitcoins do GBTC.
“Não divulgar exatamente os endereços onde estão custodiados os bitcoins aumenta bastante a desconfiança do mercado. Como diz o Arthur Hayes, fundador da Bitmex, quando alguma entidade em cripto sai a público falando, ‘pode confiar porque la garantia soy yo’ sem de fato demonstrar provas (no caso os endereços públicos), o mercado vai estressar (e testar) até conseguir ter certeza”, explicou Boghosian.
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Segundo ele, esse é um trauma que se espalha no mercado depois que a FTX travou os saques dos clientes dias depois de Sam Bankman-Fried jurar no Twitter que estava “tudo certo” com a FTX, quando na realidade a corretora tinha um rombo de US$ 8 bilhões no seu caixa.
A ligação entre Genesis, DCG e 3AC
Em meio aos temores que circulam sobre a saúde financeira da Grayscale, os seus principais fundos de Bitcoin e Ethereum caíram para os níveis mais baixos de todos os tempos.
O GBTC fechou a semana passada sendo negociado com um desconto de 42,69%. Já nesta segunda-feira (21), o desconto do GBTC bate os 45%, de acordo com dados da YCharts.
Como explica o Decrypt, o fundo está em “desconto” quando seu preço em comparação ao NAV (valor líquido do ativo) do preço atual do bitcoin é negativo, e está em “premium” quando o preço para NAV é positivo.
Com a queda do bitcoin e o lançamento de outros produtos para investidores institucionais, como ETFs, o preço do GBTC foi fortemente atingido e, desde o começo do ano, o fundo está em desconto.
No dia em que a Genesis bloqueou os saques, a Grayscale garantiu que seus produtos “continuam funcionando normalmente” e que os eventos recentes “não tiveram impacto nas operações” da empresa.
Para o fundo do mar
Mas isso não foi suficiente para acalmar os investidores que temem que a crise de liquidez respingue na Grayscale.
Como explicou Paulo Boghosian, há um temor no mercado que a Grayscale possa afundar junto com a Genesis, já que fazem parte do mesmo grupo empresarial e circulam rumores sobre um envolvimento entre a DCG e 3AC para lucrar por meio dos fundos da Grayscale. Esse último rumor, Boghosian resume da seguinte forma:
“Basicamente a Genesis, que é uma das empresas da holding DCG, que controla os trusts da Grayscale, estaria emprestando BTC para a 3AC para criar cotas de GBTC. E depois ainda emprestaria dólares contra as mesmas cotas de GBTC (de colateral). Como sabemos, 3AC quebrou e isso teria gerado um rombo grande para a Genesis”, explicou Boghosian.
Ele conta que pelo fato da Genesis ter licença de broker dealer e o GBTC ser um valor mobiliário registrado na SEC, as companhias seguem regras rígidas de diligência e que é de se esperar que os fundos da Grayscale sejam totalmente separados da Genesis.
“Apesar disso, o mercado não parece convencido”, apontou o especialista. “Outro ponto importante é que está circulando o boato que a Genesis está tentando captar US$ 1 bilhão, que supostamente seria o tamanho desse rombo”.
No Twitter, usuários sinalizam que o estrago pode ser grande, caso o DGC seja a entidade que deve US$ 1 bilhão para a Genesis.
“Se o DCG é a entidade que deve o dinheiro a Genesis, então [o grupo] não será capaz de cortar a Genesis e continuar operando o DCG e, mais importante, a Grayscale”, escreveu o usuário @hodlKRYPTONITE.
Nesse cenário, ele aponta que o império de Barry Silbert, o CEO do DCG, estaria diretamente ameaçado, porque a “Grayscale é uma subsidiária do DCG e em caso de inadimplência da empresa-mãe, todos os ativos subsidiários podem ser penhorados”.
1/n – IF DCG is indeed the entity that owes 1bn to Genesis – we are fucked.
— degentrading (@hodlKRYPTONITE) November 21, 2022
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