As atividades ilícitas com bitcoin e outras criptomoedas são menos de 1% do PIB Global — e caindo, enquanto que no sistema financeiro tradicional os números são bem maiores: de 2% a 4%. A conclusão é do ex-diretor da Agência de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) Michael Morell em um estudo publicado na semana passada.
A publicação chamou a atenção da Forbes que a entendeu tanto como um forte voto de confiança ao Bitcoin, por se tratar de um pessoa notória nos EUA, quanto uma crítica ao alto escalão do governo que espalha terror sobre as criptomoedas, como Janet Yellen, Secretária do Tesouro dos EUA.
O estudo de Morell, no entanto, que defende o bitcoin como uma tecnologia revolucionária, foi encomendado pelo Crypto Council for Innovation, um recém-formado grupo lobistas que tem entre seus membros fundadores integrantes da Coinbase, Fidelity e Square, para refutar diretamente as narrativas negativas sobre a criptomoeda. Para ele, a prática das criptomoedas no mercado está longe de ser a mais usada nas atividades ilícitas.
Na manhã desta terça-feira (13) no Twitter, ao compartilhar a reportagem, Morell disse esperar que seu estudo ajude a promover um diálogo transparente para garantir a manutenção da segurança nacional sem impedir a adoção de tecnologias potencialmente revolucionárias.
Diretor refutou comentários generalizados sobre o Bitcoin
“À luz das conclusões a que chegamos, por que vemos tais declarações e artigos alarmistas sobre a ameaça apresentada pelo Bitcoin? Existem várias razões. Em primeiro lugar, esta é uma nova tecnologia e é complicada
de compreender — as pessoas costumam ter medo do que elas não entendem”, diz um trecho do estudo.
Segundo a Forbes, que analisou a publicação de Morell e a descreveu como um “estudo abrangente”, ele chegou a duas conclusões importantes: “As amplas generalizações sobre o uso de bitcoin em finanças ilícitas são significativamente exageradas.
Antes, porém, da publicação do economista, ele revelou ao jornal que seu estudo poderia gerar graves repercussões geopolíticas em relação aos EUA e a China “se eles desperdiçarem energia e recursos perseguindo um fantasma em vez de alavancar blockchain e fintech de forma mais geral, para construir a base tecnológica e econômica do país”, explicou Morell.
“Precisamos ter certeza de que opiniões equivocadas sobre o uso ilícito de Bitcoin não nos impeça de avançarmos com as mudanças tecnológicas que vão nos permitir acompanhar o ritmo da China”, disse ele ao jornal.
À Forbes, Morell revelou também que não esperava chegar a tais conclusões quando começou o estudo e admitiu que uma de suas principais premissas foram declarações de Yellen e também da presidente do Banco Central Europeu (BCE) Christine Lagarde. Para ele, elas se baseavam em fatos, ou seja, ele sugere que elas não podiam provar o que estavam afirmando.
Contudo, disse a Forbes, ele descobriu exatamente o oposto, ou seja, que bitcoin e criptomoedas não eram o prato cheio para as atividades ilícitas e que na verdade, provavelmente havia menos atividade ilícita no setor de criptomoedas do que no sistema bancário tradicional.
Em resumo, explicou o jornal, Morell viu que atividades ilícitas com criptomoedas são de menos de 1% do PIB Global — e caindo, enquanto que no sistema financeiro tradicional os números são bem maiores; de 2% a 4% do PIB Global. Ele alegou, porém, sobre as moedas de privacidade, como a Monero, que são difíceis de rastrear, e que há uma inclinação a ela pelos maus atores.
“Essas descobertas não devem surpreender quem já acompanha o mercado de criptomoedas há muito tempo, pois já viram essa narrativa antes, mas nunca foram refutadas tão diretamente por uma figura tão autoritária”, escreveu a Forbes.
Blockchain contra atividades ilícitas
Sobre a tecnologia blockchain, que surgiu com o Bitcoin, Morell disse que ficou impressionado de como as empresas de análises Chainalysis, CipherTrace e Elliptic lidam com suas ferramentas, o que ele considera um excelente trabalho de inteligência. “A análise de blockchain é uma ferramenta altamente eficaz de combate ao crime e coleta de inteligência”, disse ele.
Morell deixou claro que, dada a prevalência relativamente baixa de transações ilícitas em criptomoedas, deve-se tomar cuidado para garantir que o trabalho forense e a aplicação da lei não substituam a necessidade de os EUA acompanharem a China no que diz respeito à inovação financeira. Na verdade, diz o jornal, ele teme que os EUA, desacelere o desenvolvimento do dólar digital se ficarem excessivamente preocupados com o assunto.
O jornal acrescentou que ainda há bastante chão pela frente. Por exemplo, que não está claro se as moedas digitais soberanas funcionarão ou não em cima de blockchains, especialmente plataformas descentralizadas como Bitcoin, Ethereum ou em alguma outra, e que parece provável que operem em ambientes mais controlados, pelo menos para os lançamentos iniciais.
E concluiu: “Dito isso, há uma atração gravitacional natural em direção à globalização, que se presta à descentralização (ninguém realmente controla a internet), então vale a pena considerar o ponto mais amplo de Morell. Não adianta ficar de olhos abertos se a cabeça está enfiada na areia”.