Imagem da matéria: Empresa de Jack Dorsey derrete na Bolsa após acusações de fraude
Criador do Twitter e da Square, Jack Dorsey (Foto: Ryan Lash /TED/Flickr)

A notória empresa de vendas a descoberto (short-selling, no termo em inglês) Hindenburg Research colocou na mira a Block, empresa do ex-CEO do Twitter, Jack Dorsey, acusando a companhia de fraude, práticas predatórias e falso aumento do número de clientes em um relatório divulgado nesta quinta-feira (23).

“Em suma, achamos que a Block enganou os investidores em métricas-chave e adotou ofertas predatórias e as piores práticas de conformidade para alimentar o crescimento e lucrar com a facilitação de fraudes contra consumidores e o governo”, escreveu a Hindenburg no relatório.

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Além disso, a Hindenburg anunciou que assumiu uma posição vendida em ações da Block, anteriormente chamada de Square.

Depois que o relatório foi divulgado, as ações da Block caíram 17% nas negociações de pré-mercado na bolsa de Nova York (NYSE) em relação ao fechamento anterior, de US$ 72,65. As coisas pioraram quando os mercados abriram, com as ações caindo abaixo de US$ 58, a menor desde o início do ano, antes de se recuperar ligeiramente para cerca de US$ 63 durante a tarde.

A Block ainda não respondeu aos pedidos de esclarecimento do Decrypt.

Números falsos?

A Hindenburg afirma que ex-funcionários da Block disseram a seus investigadores que a empresa “exagerou descontroladamente” sua contagem de usuários de seus serviços em até 75% e que intencionalmente se baseia em uma “abordagem do Velho Oeste” para conformidade, como forma de atrair pessoas mal-intencionadas que criam contas em massa para realizar fraudes e outros golpes.

A empresa também acusa Block de colocar na lista negra contas individuais que cometeram fraudes – mas não incluir nessa lista usuários que abriram dezenas de outras contas, que supostamente estavam usando para atividades criminosas.

A Hindenburg escreve que testou como seria fácil para um usuário abrir contas em nome de outra pessoa, renomeando duas contas como “Donald Trump” e “Elon Musk”.

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Quando apresentou seu relatório anual de 2022, no mês passado, a Block informou que o seu serviço Cash App tinha 51 milhões de usuários ativos – um aumento de 16% em relação a 2021.

“Fraude correndo solta”

O relatório argumenta que, quando a pandemia de covid-19 ameaçou sua receita com os serviços de ponto de venda, a Block “reprimiu as preocupações internas e ignorou os pedidos de ajuda dos usuários, pois a atividade criminosa e a fraude corriam soltas na plataforma”.

Em seu relatório anual de 2019, a Block (na época ainda chamada de Square) relatou uma receita líquida total de US$ 4,7 bilhões. Desses, 65% vieram de taxas de transação, 22% de seus negócios de assinatura e software, 2% de hardware como o Square Terminal e o restante de Bitcoin, de acordo com um documento da SEC, a CVM dos EUA.

A Block ganha dinheiro com Bitcoin através de compras e vendas da criptomoeda para os usuários por meio do aplicativo Cash App.

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No ano seguinte, quando a pandemia levou a bloqueios generalizados, a Block viu a receita de transações, assinaturas e hardware cair no segundo trimestre. Mas no segundo semestre de 2020, as coisas começaram a mudar.

As taxas de transação se recuperaram porque os varejistas estavam processando mais transações de “cartão não presente”, que exigem uma taxa mais alta. E o Cash App ajudou a aumentar a categoria de assinaturas para US$ 1,5 bilhão em receita – um aumento de 49% em relação ao ano anterior.

No final de 2022, a receita de assinaturas havia disparado para US$ 4,5 bilhões, quase igual a toda a receita líquida da empresa no ano anterior ao início da pandemia.

O relatório de Hindenburg alega que o Cash App cresceu tão furiosamente porque estava sendo usado para reivindicar de forma fraudulenta os pagamentos de auxílio emergencial dos EUA e que a empresa ignorou as investigações das autoridades federais e estaduais.

“Em um aparente esforço para preservar seu motor de crescimento, o Cash App ignorou as preocupações internas dos funcionários, juntamente com os avisos do Serviço Secreto, do Departamento de Trabalho e reguladores estaduais, que sinalizaram especificamente a questão de vários pagamentos de auxílio emergencial indo para a mesma conta, como um sinal óbvio de fraude”, escreveu Hindenburg em seu relatório.

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Venda de ações em alta

Como o preço das ações da Block subiu mais de 600% durante a pandemia, Hindenburg observa que os cofundadores da Block, Jack Dorsey e James McKelvey, venderam mais de US$ 1 bilhão em ações.

O relatório é especialmente crítico a Dorsey, dizendo que ele tem “fingido se importar profundamente com a população da qual está se aproveitando”.

Em 2020, Dorsey comentou sobre como o Cash App se tornou popular no meio da cena hip-hop.

“Temos um cliente muito popular para o Cash App. E a evidência disso é que o número de canções de hip-hop que incluem a frase Cash App ou até mesmo chamado Cash App é incrível. Acho que são mais de 1.000 ou 2.000 agora”, disse ele na época.

As referências da cultura pop ao Cash App tornaram-se tão prevalentes que os pesquisadores escreveram artigos acadêmicos sobre como isso afeta a inclusão financeira nas comunidades negras americanas.

Um artigo de 2022 concluiu que “embora o Cash App permita aos participantes a flexibilidade em relação ao agendamento de transações de qualquer local, ele introduz taxas ocultas e estratégias de gamificação de mídia social que levam a riscos financeiros indesejados (como a participação em sorteios)”.

Pouca referência às criptomoedas

Notavelmente, o relatório de 17.000 palavras faz apenas duas menções ao Bitcoin, para dizer que em 2018 a empresa começou a permitir que os usuários fizessem transações BTC com suas contas do Cash App. O foco principal do relatório de Hindenburg é como a Block impulsionou seus negócios durante a pandemia.

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Se tivesse se concentrado mais em cripto, no entanto, não seria a primeira vez que Hindenburg criticaria a indústria de moedas digitais.

No final de 2021, quando a capitalização do mercado global de criptomoedas atingiu o recorde histórico de US$ 3 trilhões, a Hindenburg anunciou uma recompensa de US$ 1 milhão por “informações que levassem a detalhes não divulgados anteriormente sobre o lastro da stablecoin Tether (USDT)”.

Na época, o Tether havia revelado em um relatório que apenas 10% das reservas que sustentavam a stablecoin, que é pareada em 1:1 ao dólar americano, estavam sendo mantidas com dinheiro e depósitos bancários. Quase metade do lastro do Tether estava sendo mantido como papel comercial, uma forma de dívida de curto prazo não garantida emitida por corporações.

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