O criador da corretora FTX, Sam Bankman-Fried (SBF), visto como um visionário e um grande trader no mercado de criptomoedas, pode estar com sério problemas.
Um recente vazamento sobre a situação financeira da Alameda Research, o fundo de hedge cripto de SBF, analisado pelo portal Coindesk na quarta-feira (2), mostra como as diferentes companhias do empresário se relacionam em um modelo de negócio que faz os críticos mais ferrenhos do setor questionarem a saúde financeira do império de SBF.
A reportagem revelou que o balanço da Alameda é dominado pelo FTX Token (FTT), a moeda nativa da corretora de Bankman-Fried. Dos US$ 14,6 bilhões em ativos totais que compõem o balanço da empresa, US$ 5,8 bilhões estão em FTT. Há ainda mais US$ 292 milhões em “FTT bloqueado” entre os passivos da empresa.
Por conta disso, Mike Burgersburg, pseudônimo do investigador por trás da Dirty Bubble Media, foi o primeiro a perguntar se Alameda Research está insolvente. E ele tem histórico para que suas perguntas sejam levadas em consideração: foi um dos primeiros a expor as operações insustentáveis da Celsius antes de ela ruir e derrubar uma série de empresas junto.
Em publicação desta sexta-feira (4), Burgersburg argumenta que as finanças da Alameda Research parecem estar baseadas em um esquema semelhante ao da Celsius, fortemente dependente de um único token controlado pela própria empresa — o FTT compõe aproximadamente 1/3 do balanço da Alameda — e com pouco uso real no mercado.
“O maior ativo da Alameda é um token emitido pela outra empresa de SBF. […] É quase como se SBF tivesse encontrado uma maneira de hackear o sistema financeiro, imprimindo bilhões de dólares do nada, contra os quais ele conseguiu emprestar grandes somas de contrapartes desconhecidas. Quase como se ele tivesse descoberto uma máquina financeira de movimento perpétuo”, critica Burgersburg.
Esquema de volante
O investigador então traça como esse foi o mesmo modelo que levou a ruína da Celsius, apelidado por ele como “esquema de volante”.
Ilustrado no gráfico acima, a estrutura desse esquema começa com uma empresa criando um token no qual é a principal detentora.
Em seguida, a empresa entra num loop de fazer o preço desse token subir para inflar artificialmente o caixa da empresa, atrair novos investidores e reinvestir o dinheiro para consolidar a marca no mercado e manter o preço do seu token nas alturas.
Esse modelo de negócios, no qual a empresa é altamente dependente do seu próprio token, não é sustentável ao longo prazo, na visão de Dirty Bubble Media.
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“O esquema do volante é apenas mais uma engenharia financeira insustentável. À medida que você aumenta o preço do token, começa a custar mais para manter o preço alto; as pessoas que possuem o token são cada vez mais incentivadas a vender, forçando você a comprar mais tokens a preços mais altos. Eventualmente, você fica sem dinheiro, possui todos os tokens existentes ou para de comprar. O que você não pode fazer, porque se parar tudo desmorona.”
FTT é o novo CEL?
O crítico argumenta que as altas cifras descritas no balanço financeiro da Alameda em FTT “só geram riqueza no papel”, dada a falta de liquidez desses ativos no mercado em um possível evento de venda.
Esse tipo de problema ficou visível no caso da Celsius. Mesmo com a empresa tendo grandes quantias de CEL no balanço, isso não a impediu de falir, já que tentar liquidar esses tokens para obter fundos seria mais prejudicial do que benéfico: a venda massiva faria o preço do ativo despencar, prejudicando os investidores bem como a própria empresa.
“Esse é o perigo de controlar mais de 90% do total de tokens em circulação quando ninguém quer possuí-los em primeiro lugar”, crava Mike Burgersburg. Para ele, é essa a situação que a Alameda se encontra com o FTT no seu balanço.
A empresa possui atualmente cerca de US$ 5,8 bilhões em FTT, o que equivale a 180% da oferta total circulante dos tokens no mercado, segundo os dados do CoinGecko. Já dados on-chain analisados por Burgersburg confirmam a concentração da oferta de FTT em poucas mãos, com apenas dez endereços detendo 93% do fornecimento da criptomoeda.
Já dados da empresa de análises em blockchain Messari, mostram que existem apenas cerca de 200 endereços que negociam ativamente FTT.
“A única exceção foi em 5 de agosto de 2022, quando de repente cerca de 10 mil endereços se tornaram brevemente ativos (???). Isso demonstra ainda mais o número muito pequeno de detentores de FTT individuais, bem como a baixa demanda geral por esse token”, aponta Burgersburg.
O autor então compara a atividade de endereços do FTT com a criptomoeda Chainlink (LINK), que possui um valor de mercado semelhante, mas é muito mais utilizada.
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