A Polícia Federal (PF) prendeu na manhã da terça-feira (17) os donos da Telexfree, empresa por traz de um dos maiores golpes financeiros já aplicados no Brasil. Pouco mais de 48 horas depois, a Justiça Federal mandou soltar Carlos Costa e Carlos Wanzeler, apontados como líderes do esquema.
No entanto, ao revogar a prisão, o desembargador Paulo Cesar Morais Espírito Santo, do Tribunal Regional Federal da 2ª região, descreveu as medidas cautelares a serem cumpridas pelos investigados:
“1.1) comparecimento bimestral em Juízo para comprovar suas atividades (art. 319, I, do CPP); e 1.2) proibição de se ausentar do país, devendo entregar seu passaporte na Secretaria do MM. Juízo de Origem no prazo de 24 (vinte e quatro) horas”.
Operação contra Telexfree
Costa e Wanzeler foram alvos da ‘Operação Alnilam’ da PF que teve apoio do Ministério Público Federal do Espírito Santo. A PF mobilizou 15 policiais federais para o cumprimento de cinco mandados: três de busca e apreensão e dois de prisão.
Eles foram presos preventivamente, segundo o juiz, por haver indícios de materialidade e autoria na compra de imóveis com dinheiro do esquema.
Em resumo, Costa e Wanzeler são suspeitos de terem lavado dinheiro acumulado às custas de vítimas no caso Telexfree. Ambos tinham sido encontrados em suas residências na região metropolitana de Vitória (ES) e levados presos.
O alvará de soltura deles foi assinado pelo desembargador na quinta-feira (19).
Ocultação de valores da Telexfree
Segundo a PF, as investigações indicaram que valores obtidos pela Ympactus Comercial, nome da empresa por trás da Telexfree, teriam sido ocultados para não serem alcançados pela Justiça.
Costa e Wanzeler teriam dispersado valores mundo afora depois que a Justiça determinou o sequestro e bloqueio de bens adotados no âmbito da Operação Orion, iniciada em julho de 2014.
Sobre os nomes dados às operações, ‘Orion’ é uma constelação, sendo ‘Alnilam’ sua quarta estrela mais brilhante.
Lavagem de dinheiro
Um dos principais pontos que PF e o MPF destacam no caso é a compra de imóveis feita por pessoas ligadas à Telexfree e, portanto, também envolvidas com Costa e Wanzeler.
Segundo a PF, investigações do MPF indicam que a filha de Carlos Costa, Priscila Costa, teria comprado 10 imóveis na Flórida para lavar dinheiro. Isso implica, segundo a Justiça, em evasão de divisas através do sistema financeiro da empresa.
Com o ‘investimento’ de US$ 730 mil, cerca de R$ 3 milhões, Priscila posteriormente gerava renda com os aluguéis dos apartamentos e supostamente repassava aos investigados, agora presos.
Defesa disse não entender as prisões
Rafael Lima, advogado de defesa dos donos da Telexfree disse que ficou surpreso com as prisões, pois seriam fatos passados.
“Eu não sei ainda o motivo da prisão. Se for esse, é algo que chama atenção, porque são fatos, no mínimo, de 2014. Não consigo entender porque uma prisão a essa altura do campeonato”, disse Lima, segundo o G1, no dia das prisões.
Seu argumento, contudo, é que nenhum dos processos a que os presos respondem sequer foram sentenciados.
Do show de ex-Beatle à falência
Em setembro deste ano, a Justiça de Vitória (ES) decretou a falência da Ympactus Comercial Ltda. Atualizados os números do golpe, a Telexfree deve cerca de R$ 2 bilhões a mais de 1 milhão de credores.
Após a divulgação da falência, outro suposto caso de lavagem de dinheiro comandado Costa e Wanzeler acabou ficou exposto.
Em novembro de 2014, o dinheiro da Telexfree teria bancado um show de Paul McCartney no Brasil, cujo cachê na época era de R$ 8 milhões.
Como operava a pirâmide Telexfree
Idealizado pelo ex-lavador de pratos, Carlos Wanzeler, segundo reportagem da Veja, o esquema da Telexfree era a venda de pacotes de telefonia — telecomunicação por VoIP (Voz sobre Protocolo de Internet) — que não passava de fachada.
Para divulgar o produto, a empresa adotou um sistema de marketing multinível que custava US$ 50 (cerca de R$ 200) só de taxa de adesão.
Os preços dos pacotes iam de US$ 289 (cerca de R$ 1.200) a US$ 1.375, aproximadamente R$ 5.600 nos dias de hoje.
Para obter lucro, o ‘divulgador’ teria que comprar e revender pacotes para quem quisesse entrar no negócio. Desta forma, ele ganhava um bônus por indicação.
A recompensa estimulava o crescimento da rede, mas que passaria a ser insustentável quando parasse de entrar pessoas, um desfecho certo em qualquer esquema considerado Ponzi.
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