Entre os dias 20 e 23 de junho, aconteceu na cidade de Nova York o evento NFT NYC — e se você o acompanhou pelo Twitter, você pode ter tido a impressão de que todo o encontro foi um desastre, que só resultou em ridicularização pública.
Houve tuítes que zombaram do “Apefest”, tuítes rindo de um pedido de namoro entre holders de tokens não fungíveis (ou NFTs, na sigla em inglês) e uma série de tuítes virais que declarava que o NFT NYC “já tinha fracassado” na noite de segunda-feira (20), quando a semana mal havia começado.
A verdade é menos agradável para os críticos e “haters” dos NFTs: o astral era superpositivo e todos que encontrei* estavam otimistas apesar da brutal queda do mercado de criptomoedas. Conforme tuitou Amy Wu do FTX Ventures: “Na semana passada, as pessoas me disseram que o NFT NYC seria estranho por cripto tinha acabado. Fico feliz em informar que o oposto aconteceu”.
Em almoços, painéis e festas espalhadas pela cidade, as pessoas mostravam seus JPEGs, é claro. Haviam bastantes Punks, Apes, Cool Cats e Gutter Cats em bonés, moletons e jaquetas jeans. Mas as pessoas também discutiam a utilidade dos NFTs, NFTs como ingressos para eventos presenciais e outros potenciais casos de usos além de apenas uma ostentação.
Duas festas específicas forneceram um contraste perfeito e acidental sobre a situação das duas principais coleções.
Doodles, a 13ª coleção NFT mais vendida, realizou uma “festa inicial” na noite de terça-feira (21) no Palladium Theater na Times Square. O evento estava marcado para as 19h (horário local), mas holders dos NFTs tiveram de esperar até às 22h05, que foi quando Julian Holguin, CEO da Doodles e ex-executivo da Billboard, entrou no palco.
Holguin realizou uma apresentação de PowerPoint. Um slide lembrou o público o que Doodles atingiu até agora, incluindo marcadores com “esgotados em minutos” e “2,6 mil ETH no Doodlebank”.
Em seguida, Holguin lembrou todas as atividades de marketing que Doodles realizou na conferência SWSX deste ano, há três meses. Até holders fanáticos do Doodles na plateia estavam resmungando. Parecia uma apresentação corporativa.
Por fim, Holguin apresentou um vídeo pré-gravado de Alexis Ohanian anunciando que o 776 Ventures havia liderado a primeira rodada de financiamento do Doodles (não divulgando a quantia da arrecadação). Em seguida, mostrou outro vídeo do novo diretor de marca do Doodles, Pharrell; a plateia foi à loucura.
Após o evento da Doodles, fui à festa do Goblintown no Terminal 5. O contraste era gritante.
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A coleção NFT Goblintown surgiu de repente em maio e, no dia 1º de junho, seu preço mínimo havia duplicado da noite para o dia para cerca de 9 ETH (ou US$ 17 mil, na época). Desde então, seu preço no mercado OpenSea caiu para 3,65 ETH (ou US$ 4,5 mil).
A temática da coleção gira em torno de urina e niilismo, e afirma: “Não [há] roadmap. Não [há canal no] Discord. Não [há] utilidade” — fazendo referência a ferramentas, como “roadmaps” (ou roteiros de desenvolvimento), que coleções NFT ou outros projetos geralmente fornecem a seus investidores para saber quais são as expectativas ou os passos para tal ativo no futuro.
Então fazia sentido que a festa do Goblintown tivesse uma vibe rústica e despretensiosa. Um “food truck” do lado de fora estava vendendo hambúrgueres; organizadores da festa só falavam na língua dos goblins; dentro da festa, havia triângulos dos Illuminati, cartas de tarô e um (verdadeiro) estande de tatuagem.
No “afterparty” na pista de dança do Chelsea Music Hall, havia mais pessoas usando máscaras de goblins, hambúrgueres se desmanchando e posters de “PROCURA-SE” com o rosto do artista “Beeple”.
Foi pura diversão, sem conversas sobre marketing ou diretores de marca. Atingiu o tom adequado para o atual mercado cripto, pois parecia ser uma comunidade.
A resposta dos fãs do Doodles a tudo isso foi óbvia: Doodles está dando um passo sério como um negócio para apresentar valor aos holders e fomentar sua marca.
O influencer NFT “NFTbark” havia comparecido ao evento e publicou elogios: “Doodles é uma marca pronta para permear pela cultura pop nos próximos anos”. Ele adorou os slides e as declarações da missão. Concluiu que a apresentação “seria impressionante em uma empresa [pertencente ao índice] Fortune 500”.
Talvez sim. Mas NFTs também deveriam ser divertidos. Se não for divertido, o que estamos fazendo aqui além de negociar desenhos e gerar lucro?
Eu não tenho um Bored Ape ou um Goblin, mas agora sei qual grupo dá as melhores festas.
*Artigo de opinião escrito por Daniel Roberts, editor-chefe do Decrypt.
**Traduzido por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.