Imagem da matéria: O que diz a Glassnode sobre a tolerância à dor do investidor de Bitcoin
(Foto: Shutterstock)

Mercados em todo o mundo continuam caindo por conta das pressões inflacionárias, condições de aperto monetário, incertezas e riscos agravantes. Na última semana, houve queda entre os mercados de ações, títulos e de criptomoedas, à medida que o bitcoin (BTC) era negociado a uma mínima mensal de US$ 37.614.

Apesar de estarem sendo negociado em baixa esta semana, os mercados de bitcoin continuaram bastante robustos.

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Enquanto os índices S&P 500 e NASDAQ negociaram próximos de novos fundos locais da prevalente tendência de baixa, preços do bitcoin continuaram entre as faixas já estabelecidas e continuam sem força macro definitiva, tanto para cima como para baixo.

Dito isso, correlações entre o bitcoin e os mercados tradicionais continuam próximas de altas recordes e uma ampla percepção do bitcoin como um ativo de risco continua sendo um grande obstáculo.

Uma enorme proporção de investidores em bitcoin estão observando o abismo de manter posições não rentáveis, criando um possível estopim para o tão debatido evento de Capitulação (desistência de ganhos anteriormente obtidos pela venda de posições em épocas de queda).

Porém, de forma simultânea, diversos indicadores a longo prazo estão sinalizando que existem baixos níveis de desvalorização, atingindo valores raramente vistos fora de preços mínimos a estágios finais de mercados de baixa.

Nesta análise, a Glassnode irá explorar essa divergência importante entre os direcionadores da negativa ação de preço a curto prazo e as tendências fundamentais para o bitcoin a médio e longo prazo.

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Preço do bitcoin na décima oitava semana do ano (Imagem: Glassnode)

Olhando para a beira da rentabilidade

Nas últimas semanas, a Glassnode explorou como uma proporção significativa do fornecimento de bitcoins foi redistribuída e vendida a novos donos, entrando na faixa de preço entre US$ 33 mil e US$ 42 mil.

No entanto, à medida que mercados globais continuam caindo, o risco de que esses novos investidores também tenham um prejuízo não realizado está crescendo.

Neste momento, a proporção de Endereços, Entidades e Fornecimento em lucro está próxima de 70% (ou seja, 30% estão em prejuízo). Outros fundos em mercados de baixa — em 2018 e 2019, bem como em março de 2020 — tiveram quedas bem mais drásticas na rentabilidade de mercado e entre 45% e 57% do mercado estava em lucro.

A partir de então, é possível estabelecer um estudo de caso para realizar uma análise aprofundada. O que aconteceria se mais 10% do mercado ficasse em um prejuízo não realizado (em que 60% do mercado estivesse em lucro?).

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Seria um medidor sobre o preço que o mercado precisaria atingir antes de uma “tolerância à dor” parecida for atingido em relação a fundos de ciclos anteriores.

Essa “tolerância de 60% em lucro” também leva em consideração a tendência de alta observável nesses valores de preço mínimo ao longo do tempo (um artefato de moedas perdidas, HODLers de ciclos anteriores etc.).

Fornecimento, Entidades e Endereços em lucro com bitcoin (Imagem: Glassnode)

A métrica URPD — distribuição de preço realizado de transações não gastas (UTXO) em bitcoin — fornece uma perspectiva sobre a qual preço o fornecimento atual de bitcoin foi movido pela última vez.

Conforme os preços estão sendo negociados a US$ 38,5 mil neste momento, o mercado precisaria cair para US$ 33,6 mil para que 1,9 milhão BTC (10% do fornecimento) ficasse em um prejuízo não realizado.

Essa seria a “tolerância à dor” do fornecimento de 60% em lucro e colocaria quase todos os compradores do último ciclo de 16 meses no vermelho (e compradores na baixa entre maio e julho de 2021 seriam as únicas exceções).

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Distribuição de preço realizado de transações não gastas (UTXO) em bitcoin (URPD) (Imagem: Glassnode)

O grupo que corre o maior risco de vender por puro pânico são holders a curto prazo, um grupo que acumulou um volume extraordinário de moedas nos últimos três meses.

Ao analisar a proporção de valor de mercado/valor realizado (ou MVRV) por holders a curto prazo (ou escore Z), é possível observar a magnitude de sua atual rentabilidade não realizada.

No gráfico abaixo, pode-se notar que:

a base de custo de holders a curto prazo em blockchain é de US$ 49.910, colocando a moeda média de um holder desse grupo a um prejuízo não realizado de -17,9%;

– atualmente, o oscilador MVRV para holders a curto prazo está com um desvio-padrão de -0,75 da média, mostrando que essa é uma magnitude estatisticamente significativa de problemas financeiros para o grupo de holders a curto prazo;

não é incomum que haja uma rentabilidade mais severa para holders a curto prazo, mas só é típica durante as piores liquidações em mercados de baixa (onde o oscilador está abaixo da linha azul).

Escore Z/proporção de valor de mercado/valor realizado (ou MVRV) para holders a curto prazo de bitcoin (Imagem: Glassnode)

Do outro lado da equação estão os holders a longo prazo, que também estavam capitulando drasticamente. Essa tendência parece estar continuando, pois um grande desvio está se formando entre duas métricas — identificado primeiro por TXMC:

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1. Preço realizado por holders a longo prazo (cor azul): Essa métrica mostra o preço médio de aquisição de todas as moedas no grupo de holders a longo prazo e, neste momento, está caindo na taxa mais significativa na História do bitcoin. Indica que holders a longo prazo do ciclo entre 2021 e 2022 estão capitulando, gastando e redistribuindo suas moedas, principalmente durante os três últimos meses.

2. Preço realizado por holders a curto prazo (cor rosa): Essa métrica mostra o preço médio de compra das moedas sendo gastas por holders a longo prazo naquele dia. Subiu bastante na última semana, cruzando-se com o preço “spot” (ou à vista) e sinalizando que holders a longo prazo estão vendendo, em média, no ponto de equilíbrio.

Ambas as métricas fomentam o argumento de que os mais novos entrantes ao grupo de holders a longo prazo, entre 2021 e 2022, estão capitulando e têm medo de que haja ainda mais quedas.

Preço gasto vs. base de custo de bitcoin por holders a longo prazo (Imagem: Glassnode)

Caracterizando os gastos de holders a longo prazo

É possível caracterizar esses gastadores de longo prazo e afunilar a faixa de duração comum de suas moedas usando uma variedade de ferramentas em blockchain. Primeiro, será feita a análise de uma nova métrica, que está sob desenvolvimento pela Glassnode, que apresenta dois traços:

1. Oscilador (cor cinza, com média móvel de 30 dias) mostra a proporção de volume em BTC e em lucro enviado a corretoras por holders a longo prazo. É possível ver que caiu significativamente desde setembro de 2021 e, agora, está oscilando em 60% (fomentando a estimativa de tolerância à dor).

2. Gráfico de preço colorido pela rentabilidade bruta e relacionada ao ano passado, em que a cor vermelha sinaliza altos prejuízos relativos e as cores verde/azul sinalizam fortes lucros relativos. Os mercados de baixa de 2014 e 2015, 2018 e 2019, bem como 2021 e 2022 se tornaram bem aparentes, com fortes prejuízos realizados por holders a longo prazo durante muitos meses.

Os únicos holders a longo prazo que poderiam realizar prejuízos e desencadear esse resultado são os do ciclo entre 2021 e 2022 com uma base de custo maior, sugerindo que dominam a atitude de gastos por holders a longo prazo em corretoras neste momento.

Rentabilidade de fluxos de entrada de bitcoin em corretoras por holders a longo prazo (média móvel de 30 dias) (Imagem: Glassnode)

Na sequência, são analisados o fornecimento revivido superior a um ano, que captura todo o volume de bitcoin em blockchain que foi adquirido antes da liquidação em maio de 2021. É possível ver que essa métrica está em queda e próxima a fundos relativos.

Geralmente, leituras muito baixas do fornecimento revivido acontecem em profundos mercados de baixa, onde a acumulação é o comportamento preferencial de holders a longo prazo.

Fornecimento revivido de bitcoin que estava ativo pela última vez há mais de um ano (mediana móvel de 14 dias) (Imagem: Glassnode)

Dias binários de moedas destruídas corroboram com essa observação, com uma tendência quase idêntica e marcadores importantes. A uma média de sete dias (e de hora em hora), essa métrica está indicando que, durante 18,5 horas por semana, existe uma destruição maior da vida útil média e destruída de moedas.

Em outras palavras, durante 89% do tempo, donos de moedas mais antigas estão escolhendo mantê-las inativas, ou seja, não estão contribuindo com a pressão de venda.

Ambas dessas métricas apoiam a hipótese de que, neste momento, a pressão de venda por holders a longo prazo está bastante direcionada por donos de moedas entre 155 dias e 12 meses (compradores entre 2021 e 2022).

Dias binários de moedas destruídas (média móvel de 168 horas) (Imagem: Glassnode)

Aspectos fundamentais do preço mínimo em um mercado de baixa

Ferramentas em blockchain podem ajudar na avaliação do atual comportamento de investidores (conforme demonstrado acima), mas ferramentas fundamentais de avaliação podem ajudar no mapeamento e navegação de diversos ciclos de mercado.

O gráfico abaixo é uma variação do lucro realizado (cor verde) e do prejuízo realizado (cor rosa), calculados pela divisão de ambos pela capitalização realizada.

Normaliza o valor em dólares que investidores trazem e levam do mercado, ao tamanho relativo do mercado, permitindo que seja feita a comparação de ciclos. A partir disso, é possível identificar três fases de mercado:

1. Mercados de alta (zona verde), onde existe uma demanda suficiente de entrada para permitir que investidores realizem lucros significativos logo no topo do ciclo de mercado (fluxos líquidos de entrada de capital).

2. Mercados de ciclo (zona vermelha), onde o contrário também é válido e os preços em queda resultam em uma dominância de prejuízos sendo realizados por investidores (fluxos líquidos de saída de capital). Em 2019 e no fim de 2021, lucros foram realizados em um breve rali positivo de alívio, que acabaram sendo vendidos.

3. Recuperação em meio à descrença para início de alta (zona laranja), onde o mercado é negociado da lateral para cima — algo comum em um período de reacumulação ou fase de descrença — e lucros realizados começam a exceder prejuízos de forma consistente.

No mercado atual, continuamos na fase do mercado de baixa, pois o mercado ainda precisa fornecer uma demanda suficiente e uma valorização de preço para permitir que haja uma geração de lucro sustentável e entrada de capital.

Caso lucros realizados comecem a ultrapassar prejuízos de forma contínua, junto com preços estáveis, seria possível sugerir que uma transição para a Fase 3 está a caminho.

Prejuízo e lucro realizado em bitcoin (média móvel exponencial de 14 dias) (Imagem: Glassnode)

Um dos indicadores de bitcoin mais conhecidos e preferidos é o múltiplo de Mayer. Esse oscilador é calculado como uma simples proporção entre o preço e a média móvel de 200 dias. Apesar de sua simplicidade, forneceu um indicador robusto e confiável para a formação de fundo e altas a curto prazo para ciclos de bitcoin.

Foi mapeado um múltiplo de Mayer de 0,8 (tracejado verde) como um nível histórico de “desvalorização”. A base disso é que menos de 15% da vida de negociação dos bitcoins está (ou abaixo deste nível) fornecendo uma perspectiva mais probabilística.

À medida que a média móvel de 200 dias está sendo negociada a US$ 47.275, esse nível de desconto de 20% está sendo negociado a US$ 37.820.

Preços mínimos em mercados de baixa de cíclicos anteriores são formados em duas fases relacionadas ao nível de 0,8x do múltiplo de Mayer, primeiro no estágio inicial do mercado de baixa (#1) e, novamente, após um grande evento de capitulação (#2).

Neste momento, o mercado está acima desse nível fundamental, no que pode ser considerado como parte da Fase 2 do ciclo 2021-2022.

Múltiplo de Mayer do bitcoin (Imagem: Glassnode)

A métrica de risco de reserva fornece outra perspectiva macro sobre fundos de mercado de baixa e é um oscilador que é bastante ponderado por quando a acumulação e o “HODLing” são a preferência.

Historicamente, o risco de reserva caiu abaixo do limite de 0,0025 (cor verde) no estágio final dos ciclos de baixa (formação pré-fundo) e ressurgiu à certa altura no mercado de alta seguinte.

Esse indicador sugere que já passamos do ponto de entrada inicial do fim do mercado de baixa e podemos estar na segunda parte dele. Porém, com base nos ciclos anteriores, também sugere que o caminho a seguir ainda pode demorar e/ou sofrer quedas ainda mais.

Risco de reserva de bitcoin (Imagem: Glassnode)

Em apoio à hipótese de que holders a longo prazo continuam inabaláveis, o múltiplo de dias de valor destruído (VDD) está oscilando próximo de fundos relativos. Indica que o valor e a magnitude de dias de moeda destruídos neste momento é pequena, em relação ao ano passado.

Fornece confluência às métricas de dias binários de moedas destruídas, de fornecimento renovado superior a um ano e de risco de reserva de que o comportamento dominante por investidores a longo prazo (com retenção superior a um ano) é, de fato, HODLing).

Segundo essa métrica, o mercado de baixa começou em torno de maio de 2021 e está se aproximando de uma duração parecida daquelas vistas em ciclos anteriores.

Múltiplo de dias de valor destruído (VDD) de bitcoin (Imagem: Glassnode)

Por fim, é avaliada a proporção RVT, que divide a capitalização realizada pelo volume de transações na rede (em dólares e com a aplicação de uma média móvel de 28 dias). Esse oscilador é uma variante lenta, mas com uma melhor convicção da proporção NVT, e possui as seguintes características:

Tendências de alta e altos valores estão historicamente negativos, sinalizando que volumes de transação (e, por isso, a utilização da rede) está caindo em relação à valorização em blockchain (supervalorizada). Geralmente, fundos de mercado de baixa são configurados a valores de RVT > 30 e confirmados por uma reversão em uma tendência de baixa.

Tendências de baixa e baixos valores estão historicamente positivos, sinalizando, por sua vez, que a utilização da rede está aumentando em relação à valorização em blockchain (desvalorizada).

Tendências contínuas e laterais sinalizam um equilíbrio relativo e, geralmente, sugerem que a tendência prevalente de mercado é duradoura.

Esse oscilador agora estabeleceu uma alta mais inferior em relação à de julho de 2021 e está se revertendo para uma tendência de baixa. Caso essa tendência seja mantida, indica que existe um possível fluxo de entrada de volume liquidado em blockchain e uma crescente utilização da rede. Isso é historicamente construtivo para preços de mercado.

Proporção RVT do bitcoin (Imagem: Glassnode)

Conclusões

A atual estrutura de mercado do bitcoin continua em um equilíbrio extremamente delicado à medida que a ação de preço a curto prazo e a rentabilidade da rede continuam negativas. A capitulação de holders a longo prazo parece continuar, com ainda mais evidências e análises fomentando essa hipótese.

Ainda veremos se essas forças e correlações macro com mercados tradicionais continuam derrubando ainda mais o bitcoin. Porém, diversos indicadores fundamentais podem estar se aproximando de pontos importantes de desvalorização.

Existe uma confluência positiva entre diversos indicadores macro, variando da análise técnica (múltiplo de Mayer) à análise da vida útil de moedas (risco de reserva, múltiplo de dias de valor destruído) e, até mesmo, à saúde e utilização fundamental da rede (proporção RVT).

Um evento de capitulação, junto com divergências formadas em tendências a curto e longo prazo, continuam fazendo do bitcoin um dos ativos mais fascinantes a monitorar nesse ambiente macroeconômico.

Sobre o autor

Glassnode é a maior provedora de dados e inteligência de blockchain que gera métricas e ferramentas on-chain para quem realmente quer entender o mercado de criptomoedas.

*Traduzido por Daniela Pereira do Nascimento com autorização da Glassnode.

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