Hoje, a referência mundial é o dólar, seja para cotar o poder de compra da moeda de um país, para cotar Bitcoin, Ouro e principalmente petróleo. Aliás, só é possível comprar Petróleo utilizando dólares norte-americanos. Mas como ele conseguiu alcançar o status de “moeda dominante” da economia mundial?
A resposta para isso é um pouco mais complexa do que: “Simples, os Estados Unidos possuem a maior frota de porta-aviões do mundo”, o que não deixa de ser mentira. Mas para quem quer entender no detalhe, é preciso investigar um pouco da história do próprio dinheiro e do dólar.
O Dólar como uma boa moeda
O que é o dólar? A resposta é simples, dólar é dinheiro. Mas o que é dinheiro? É essa pergunta que ainda “trava” muitas pessoas. A maior parte da população utiliza dinheiro a todo momento, mas não entende o que ele é.
Para muitos, são só números que aparecem na tela do celular todo dia 5. Mas o Dólar, o Real e o Euro mostram uma mecânica mais complexa por trás. Dinheiro é um ativo que serve como meio de troca que é escasso, difícil de falsificar, é reserva de valor, fácil de carregar e transferir e é universalmente aceito.
Uma boa moeda apresenta todas essas características no mais alto grau, principalmente escassez e conservação do poder de compra (reserva de valor). Mas como o dólar chegou lá? A moeda norte-americana surgiu ainda na Europa no século XV, os “thalers” eram ainda moedas de prata.
O thaler era uma moeda utilizada principalmente no império Austro-Húngaro, conhecida pela alta qualidade e pureza na prata. Ela chegou nos Estados Unidos e foi ganhando espaço, até virar a moeda universal após a guerra de Independência em 1786.
Depois de “universalizada”, virou papel-moeda conversível em Ouro em qualquer banco. A conversabilidade acabou no começo do século XX, quando foi criado o Federal Reserve, Banco Central dos EUA. A partir desse momento, só bancos podiam converter dólares em Ouro, mas o lastro ainda existia.
O dólar lastreado chega ao fim em 1971, com o rompimento do “Acordo de Bretton Woods” e a conversabilidade do dólar em ouro chega ao seu fim definitivo. Com isso, o valor do dólar depende exclusivamente da confiança na capacidade do governo em pagar suas dívidas. A partir deste momento, temos o dólar que conhecemos até hoje.
Como virar uma moeda dominante
Quando a conversabilidade com o Ouro foi cortada, ficou combinado que só poderia se comprar petróleo com dólares americanos. Sendo o petróleo o commodity mais demandado do mundo, fica mais fácil entender o porquê de o dólar ser a moeda dominante. Além disso, muitos contratos são feitos na moeda norte-americana fora dos EUA.
Além do petróleo, os EUA são a maior economia do mundo e também têm o maior poder militar. Os norte-americanos conseguiram fazer algo semelhante aos períodos de Pax Romana e Pax Britânica, nos quais um império era capaz de estabelecer uma hegemonia mundial sem serem incomodados, algo como uma paz forçada.
No entanto, a PAX Americana é um pouco mais enfraquecida em relação aos dois períodos anteriores, principalmente quando se tem um país como a China lutando pelo protagonismo econômico mundial. As guerras comerciais e guerras de petróleo não são por acaso. Os EUA querem manter sua hegemonia, enquanto China e Rússia desafiam.
Milênios atrás, para virar uma moeda dominante, bastava ser escolhida pelo mercado como a moeda que é mais confiável. Isto é, aquela moeda que apresenta as melhores características de reserva de valor, escassez e maleabilidade. Hoje, ganha o país que tiver a maior economia, a maior frota de aviões e o maior número de ogivas nucleares.
Mas até mesmo o país, por mais hegemônico que for, está sujeito a ver sua moeda declinar caso seja incapaz de manter a credibilidade da sua moeda.
Como uma moeda chega ao fim
Na antiguidade, uma moeda declinava quando era comprovada a falsificação e adulteração dos metais utilizados na cunhagem. A inflação foi um dos maiores inimigos do Império Romano. Os imperadores tentavam transformar ferro em Ouro, como não conseguiram, simplesmente obrigavam a população a usar o dinheiro cunhado pelo império.
Durante o processo de cunhagem, adicionava-se outro metal junto ao Ouro ou Prata para aumentar o peso da moeda e diluir o metal mais caro. Com isso, a moeda foi perdendo poder de compra e caindo em descrédito por conta da inflação.
Nos tempos modernos, uma moeda perde crédito quando a confiança em seu emissor fica abalada. Hoje, a economia mundial ainda confia na capacidade dos Estados Unidos em quitar suas dívidas. Por isso, o dólar continua sendo a moeda com maior crédito e dominância.
A destruição da moeda acontece quando um país dá calote na dívida ou imprime muito além do que deveria. Para isso, basta olhar para países como Argentina e Venezuela. Suas moedas estão em colapso e nem mesmo a população quer utilizá-las como reserva de valor, por conta da altíssima inflação.
De modo geral, a credibilidade no emissor ainda é um fator crucial para manter a aceitação universal de uma moeda.
*Texto escrito por Lucas Bassotto e publicado originalmente pelo site Investificar.