Imagem da matéria: Como a tecnologia Blockchain pode ajudar a combater a pirataria de conteúdo
Foto: Shutterstock

Nos últimos 20 anos, a demanda por conteúdo cresceu exponencialmente devido à comodidade e fácil acessibilidade do conteúdo digital. Uma ressalva é que, à medida que a largura de banda da Internet se expandiu, aumentou a facilidade com que indivíduos mal-intencionados fazem reproduções piratas de conteúdo.

A pirataria tem sido um desafio de longa data para todo tipo de mídia digital, incluindo músicas, e-books e filmes, desde a invenção da Internet no início da década de 1990. Isso ocorre porque com essa tecnologia ficou mais fácil copiar mídia de um gadget para outro do que na era pré-internet.

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Definição de pirataria

Pirataria se refere à duplicação não autorizada de conteúdo protegido por direitos autorais, que é então vendido a preços substancialmente mais baixos no mercado ‘cinza’.

A facilidade de acesso à tecnologia fez com que, ao longo dos anos, a pirataria tenha aumentado de forma desenfreada. Exemplo dessa tecnologia são os gravadores de CD, disponíveis a preços muito baixos e super acessíveis, tornando a pirataria de música uma simples empreitada.

Pirataria em 2020

De acordo com um estudo recente, mais de US$ 61 bilhões em receita serão perdidos para a pirataria de conteúdo de vídeo em todo o mundo somente em 2020. Espera-se que esse número cresça para US$ 67 bilhões até 2023.

No entanto, uma coisa interessante a se notar é que as práticas de pirataria evoluíram significativamente em relação a forma que eram praticadas há uma década. Pirataria não se caracteriza somente pelo armazenamento estático de arquivos em discos rígidos. Em vez disso, a pirataria em 2020 é caracterizada por práticas como:

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● Pirataria com compartilhamento de arquivos;
● Compartilhamento de informações de login

Pirataria com compartilhamento de arquivos

Nesse exemplo, os ‘piratas’ geralmente adquirem arquivos originais de sua fonte e depois os redistribui pela rede. Esse tipo de pirataria é comum quando se trata de eventos esportivos ou eventos musicais ao vivo que não são acessíveis a pessoas que não possuem assinatura a cabo.

Para colocar isso em contexto, toda estratégia de gerenciamento de direitos digitais tem
uma brecha, comumente conhecida como “brecha analógica”.

Essa ‘brecha analógica’ é alimentada pela demanda de consumo de conteúdo, especialmente com o aumento das
plataformas de streaming de conteúdo digital. O que os piratas fazem é utilizar soluções de software para gravar o conteúdo do vídeo durante a transmissão e, em seguida, recodificá-lo em um novo formato para redistribuição.

Compartilhamento de informações de login

Seja Netflix, Spotify ou qualquer outra plataforma de streaming digital que venha à mente, a realidade é que o sucesso de seu modelo de negócios depende da força de suas estruturas de proteção de conteúdo. A distribuição de credenciais de login é a forma de pirataria mais simples, mais comum, embora mais difícil de controlar.

Esse tipo de pirataria de conteúdo ocorre de várias maneiras. Um problema comum é quando membros da família não autorizados usam o mesmo login e senha para acessar uma plataforma de streaming de conteúdo.

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Outras formas são:

● Casual — quando é apenas entre amigos e familiares;

● Permuta — quando os usuários (geralmente estranhos) trocam suas credenciais para se beneficiarem dos serviços uns dos outros sem realmente se inscreverem;

● Comercial — quando as contas são sublocadas em troca de dinheiro;

● Roubo de credenciais — essa forma de pirataria ocorre quando contas são sequestradas de assinantes legítimos desavisados. Os piratas podem revender credenciais roubadas. Só em 2019, havia mais de 5 bilhões de credenciais e senhas roubadas em circulação na web aberta ou escura combinadas;

● Uso de tempo de trials gratuitos de forma continuada — os piratas criam contas falsas (geralmente usando cartões de crédito diferentes) e depois revendem essas credenciais, reduzindo significativamente o preço do provedor de streaming de vídeo;

● Escapar dos controles de simultaneidade — piratas invadem os sistemas dos provedores controlando o número de dispositivos que se conectam ao serviço a partir de uma conta. Isso permite que muitos consumidores usem uma única conta;

● Roubo de token — como aplicativos de streaming ou navegadores da web usam tokens para identificar o usuário, eles podem ser copiados para outros dispositivos e reutilizados para acessar CDNs de conteúdo de streaming;

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● Ataques de distribuição de chaves — ao hackear a chave usada para criptografar o conteúdo, os piratas podem distribuí-la, permitindo que o conteúdo seja acessado diretamente do CDN e descriptografado.

As estimativas indicam que esse tipo de pirataria acarretará perdas de até US$ 10 bilhões para os provedores de streaming de conteúdo até 2021.

Como o blockchain pode ser usado no combate à pirataria

Então, o que o blockchain traz em relação ao combate à pirataria? Vamos começar entendendo de forma simplificada o que essa tecnologia nos oferece.

O blockchain é um livro-razão descentralizado à prova de violação que não pode ser explorado por nenhuma entidade. Os mineradores, que constituem os usuários dessa rede, a protegem e tomam decisões de supervisão sobre as perspectivas de longo prazo da tecnologia.

Essa estrutura permite que, pela primeira vez desde que a Internet foi introduzida, uma tecnologia ofereça suporte para o desenvolvimento de ativos digitais que não podem ser falsificados. A tecnologia depende da criptografia de chave pública para garantir que as mensagens sejam autenticadas pelos proprietários das chaves privadas empregadas na verificação de identidade.

Tornou-se aparente que essas chaves privadas têm utilidade para além da proteção de transações de criptomoedas. Essas chaves podem ser usadas para autenticar qualquer mercadoria digital. E uma das áreas em que a utilidade do uso da tecnologia blockchain mais expandiu foi justamente no combate à pirataria.

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As chaves privadas, juntamente com contratos inteligentes,podem ser empregadas no rastreamento do consumo de conteúdo digital em diferentes plataformas para salvaguardar a propriedade intelectual dos criadores originais.

Projetos de blockchain promissores para o combate à pirataria

No entanto, o uso da tecnologia de blockchain no combate à pirataria não é tão simples quanto parece. Um relatório elaborado pela empresa britânica CREATe postula que as chances dessa tecnologia isoladamente conseguir erradicar a pirataria são pequenas. O relatório vai além, argumentando que o blockchain é mais adequado para essa causa como um constituinte de um esforço mais amplo para acabar com esse problema.

Esse argumento é justificado pelo fato de que o incentivo à pirataria de conteúdo digital é influenciado por uma variedade de fatores, como práticas culturais, falta de acesso, preços inacessíveis e até mesmo uma mentalidade generalizada de que o conteúdo de mídia carece de valor inerente.

Portanto, um grande potencial de ação em que a tecnologia blockchain pode atuar é por meio da vigilância de conteúdo.

Um projeto promissor está sendo desenvolvido por uma empresa conhecida como Vevue. Este projeto visa rastrear a vida útil do conteúdo de mídia digital. Com esta invenção, se um indivíduo fizer uma captura de tela ou um vídeo de conteúdo de mídia digital, será possível localizar o proprietário do gadget ou a rede em que o conteúdo foi reproduzido pela última vez.

É imperativo observar que o projeto de Vevue não depende da tecnologia blockchain para fazer o rastreamento. Em vez disso, o monitoramento é resultado de um algoritmo desenvolvido pela Vevue. A incorporação da tecnologia blockchain neste projeto é para garantir que os dados de vigilância sejam mantidos com segurança e compartilhados com as autoridades relevantes com sucesso.

Além de rastrear a vida útil do conteúdo de mídia digital, a tecnologia blockchain também pode ser incorporada na rotulagem digital de ativos. Uma empresa da África do Sul conhecida como CustosTech utilizou o blockchain BTC para desenvolver uma tecnologia de etiquetagem digital de propriedade voltada para a redução da pirataria.

Basicamente, este projeto permite a inserção de recompensas monetárias, como tokens Bitcoin, em arquivos de mídia. No entanto, a forma como as marcas d’água são conectadas é invisível para o indivíduo que recebe o conteúdo, além de serem difíceis de extrair.

O que acontece é que, quando um arquivo é pirateado, a CustosTech pode revisar o rótulo do conteúdo digital em questão e identificar o destinatário legal inicial do arquivo.

O conceito de fornecer incentivos de moeda digital aos usuários por seu apoio na luta para conter a pirataria tem como intuito encorajar até mesmo indivíduos fora da indústria de mídia a se juntarem à busca para acabar com esse problema, ajudando a identificar arquivos piratas.

Considerações finais

No cenário atual, a tecnologia blockchain só pode contribuir para a luta contra a pirataria como um componente complementar. No entanto, há indícios de que, se a Internet estiver configurada para rodar na tecnologia blockchain, será dificultado o compartilhamento de qualquer conteúdo de mídia ilegalmente.

Embora isso seja possível, por enquanto é apenas uma especulação.


Sobre o autor

Fares Alkudmani é formado em Administração pela Universidade Tishreen, na Síria, com MBA pela Edinburgh Business School, da Escócia. Desde janeiro de 2019, atua na empresa de criptomoedas Changelly como gerente-geral para a América Latina.

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