Como a Celsius entregou US$ 1 bilhão em criptomoedas de clientes para um trader brincar com DeFi 

Apresentador de podcast classificou o caso como “camadas de absurdo empilhadas umas sobre as outras”
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Foto: Shutterstock

Em meio a crise de liquidez que faz a Celsius bloquear há mais um mês as criptomoedas de seus clientes, a manobras que acompanharam as operações da empresa de empréstimos por anos finalmente estão vindo à tona.

Na última semana, um trader chamado Jason Stone, dono de uma empresa chamada KeyFi, revelou que recebeu da Celsius o controle total sobre uma carteira que armazenava o equivalente a US$ 1 bilhão em criptomoedas de clientes, com a qual tinha a carta branca de “brincar” em yield farming de projetos de finanças descentralizadas (DeFi) e tentar fazer o dinheiro render mais.

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Ele recebeu a chave privada dessa carteira sem ter qualquer vínculo empregatício ou sequer um contrato estabelecido com a empresa, com a qual ele trabalhou de agosto de 2020 até abril de 2021.

Durante o tempo em que Stone fez trade de alto risco com o dinheiro de clientes da Celsius, ele tinha a promessa de Alex Mashinsky, o CEO da empresa, de que receberia parte dos lucros das operações — algo que nunca aconteceu.

Com a Celsius sob risco de falência, o trader achou que era a hora de tomar medidas legais contra a empresa e tentar receber o dinheiro prometido. Todos os detalhes sobre esse processo foram discutidos no último episódio do Crypto Critics’ Corner, um podcast apresentado por Bennett Tomlin e Cas Piancey.

“Quero começar dizendo que mesmo para mim, alguém que não é advogado, o processo é tão bobo quanto é ao mesmo tempo notório, louco e crível”, abre as discussões Piancey. 

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Tomlin então resume o processo como “camadas de absurdo empilhadas umas sobre as outras”, onde o gerenciamento de milhões de dólares de posse de investidores não passou de um acordo de aperto de mão entre duas partes.

As revelações do processo

Segundo descreve o processo judicial aberto por Jason Stone contra a Celsius em Nova York  na última quinta-feira (7), Mashinsky quis firmar uma parceria com ele após conhecer sua empresa KeyFi em meados de 2020.

A tarefa de Stone, através da KeyFi, era gerar lucros para a Celsius usando estratégias de risco em DeFi e ajudar a empresa a pagar os altos rendimentos prometidos aos clientes sobre o depósitos de criptomoedas, como o bitcoin, e demais stablecoins.

Para fazer isso, a Celsius abriu a carteira de Ethereum 0xb1 e a alimentou com criptomoedas dos clientes. No começo, para Stone acessar a carteira com os fundos, ele precisava usar VPN e acessar remotamente a máquina da Celsius onde as chaves da carteira estavam vinculadas.

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Isso aconteceu até o sistema da Celsius sofrer um ataque hacker de DNS. Depois disso, a empresa apenas entregou nas mãos de Stone as chaves privadas que davam acesso a centenas de milhões de dólares em criptomoedas.

Suporte a perdas temporárias

Um outro ponto que chama atenção era a liberdade que o trader tinha para fazer o que bem entender com os fundos dos clientes. Stone conta no processo que a Celsius lhe garantiu na época que ele não precisava se preocupar com a cobertura de proteção em caso de perdas temporárias que poderia sofrer ao expor os fundos em yield farming.

Essa suposta garantia da Celsius a perdas causou espanto entre apresentadores do podcast: “Se Celsius tivesse uma outra equipe de traders com estratégia avançada de hedge e capazes de protegê-la contra todas as perdas temporárias, eles não precisam dele, certo?”, questiona Tomlin, se referindo a parceria não oficial com o trader Jason Stone.

No processo, Stone também descreve como tinha liberdade de comprar quantos NFTs quisesse com os fundos dos clientes, como parte de seu acordo de participação nos lucros.

Ele conta, por exemplo, que uma vez Mashinsky transferiu NFTs valiosos da carteira 0xb1 para um endereço controlado por sua esposa, Krissy Mashinsky. 

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Conforme registros da blockchain, naquela época uma carteira que até então nunca havia sido usada, recebeu NFTs de alto valor partindo do endereço 0xb1, incluindo cinco obras de Beeple (uma exposta abaixo) — um dos artistas mais importantes do setor.

Vítima não tão inocente

Embora as alegações de Jason Stone ajude a expor as formas polêmicas como a  Celsius operou ao longo dos anos e que a levaram à atual inadimplência, assim como já fizeram diversas outras pessoas da comunidade cripto no passado, o trader não parece ser de todo inocente.

Como apontou Tomlin no seu podcast, o trader era um dos principais promotores do  Olympus Dao, um projeto que o especialista chamou publicamente de esquema Ponzi.

“É hilário ler este processo onde ele acusa repetidamente a Celsius Network de ser um Ponzi”, diz Tomlin. “O que eu vejo é basicamente um cara que está trabalhando e apoiando um monte de esquemas Ponzi e que ficou bravo quando a empresa que está fornecendo a ele os fundos para apoiar esses esquemas Ponzi não paga o rendimento prometido”.

Cas Piancey resume o processo em termos mais brutos: “É como reclamar para a polícia que o seu traficante não te deu drogas boas. Não tem como isso acabar bem para nenhum lado”.

A Pyramid of Ponzis: Celsius Network - Episode 85