Censura volta a aumentar no Ethereum e chega a 85% dos blocos; entenda

Depois de chegar a mínimas de menos de 30%, censura da rede Ethereum voltou a crescer forte nos últimos meses e está gerando um novo debate na comunidade
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Desde que a rede Ethereum migrou do consenso Proof-of-Work (PoW) para o Proof-of-Stake (PoS) através do Merge (Fusão), a comunidade em torno da segunda maior criptomoeda do mundo passou a se preocupar com o aumento da censura na blockchain.

A inquietação não era em vão. Dados de novembro do site Censorship.pics mostram que cerca de 85% dos blocos de Ethereum censuram transações atualmente.

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Ou seja, a maioria dos validadores incluem nos blocos apenas transações em conformidade com as regras do Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros dos Estados Unidos (OFAC). Portanto, transações feitas por endereços da “lista negra” do governo dos EUA não são aceitas por parte significativa dos “construtores” de blocos do Ethereum.

Os dados recentes indicam um aumento de censura no Ethereum, visto que, entre setembro do ano passado (quando ocorreu a última atualização) e o primeiro semestre deste ano, a taxa de censura na rede, que já chegou a atingir 90% das transações, estava abaixo de 30% em maio de 2023.

Existem hoje 29 construtores de blocos no Ethereum, sendo que apenas seis censuram transações. Vale destacar apenas três construtores representam 79,85% da validação da rede, e deles, apenas um, o Titan Builders, não censura.

Os 29 construtores de blocos Ethereum e seu nível de censura (quanto mais verde, menos censura) (Fonte: censorship.pics)

O Titan Builders faz questão de deixar claro que não censura transações, exibindo em seu site a mensagem: “Nosso construtor tem lucro máximo. Sem filtragem de qualquer tipo”.

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Ao site do CoinDesk, Martin Köppelmann, cofundador da Gnosis, alertou que se não fosse por causa do Titan, a censura na rede Ethereum poderia superar os 90%.“Estamos essencialmente a apenas um validador de uma censura bastante pesada no Ethereum”, constatou.

O que é censura no Ethereum

A censura é vista no contexto do Ethereum pela ação dos construtores que incluem nos blocos apenas transações em conformidade com as regras do Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros dos Estados Unidos (OFAC), que passou a ver com maus olhos as transações oriundas de serviços de mixing de criptomoedas, em especial após o Tornado Cash ser proibido nos EUA.

O que acontece é que o governo americano colocou certas empresas e nesse caso os mixers de criptomoedas em uma categoria proibida de operar no país. Diante dessa situação, os validadores, relayers (responsáveis por transmitir transações entre construtores e validadores) e construtores, começaram a temer interagir com esses endereços sancionados, com medo de sofrer possíveis processos por parte do governo dos EUA.

Logo que o OFAC incluiu os mixers nesse grupo, o que se viu foi um aumento de transações que eram negadas, ou seja, censuradas (daí o termo). Porém, conforme membros da comunidade passaram a discutir o assunto com mais força, o que se viu foi uma queda forte da censura, pelo menos por um tempo.

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Neste fim de 2023, volta a crescer o número de transações negadas e, ainda que não exista uma explicação concreta, especialistas apontam que a pressão do governo americano acaba criando um clima de maior temor entre os construtores, que preferem censurar transações a terem problemas com a Justiça.

Censura não é fácil de resolver

O problema da censura no Ethereum é complexo de se resolver. Embora seja descentralizado, o Ethereum conta com alguns poucos construtores que possuem um peso muito grande na formação de blocos na rede, de tal forma que a escolha de censurar transações por um único participante pode impactar toda a rede.

Vale lembrar que as transações não passam apenas pelos construtores, existem ainda os validadores e o relayers, porém, esses dois outros grupos nem sempre conseguem fazer o papel de construtor também, ou seja, o papel mais importante não é deles já que validar uma transação, mas não conseguir “construir” ela no bloco, não garante que ela entrará na blockchain.

Por isso, chama atenção que apenas 11% dos validadores e 30% dos relayers censuram transações. No entanto, isso acaba não tendo tanta importância à medida que mais de 80% dos “construtores” censuram.

Variação do nível de censura dos validadores em 2023 (Fonte: Censorship.pics)
Variação do nível de censura dos relayers em 2023 (Fonte: Censorship.pics)
Variação do nível de censura dos construtores em 2023 (Fonte: Censorship.pics)

Os dados do censorship.pics, criado pelo pesquisador da Ethereum Foundation Toni Wahrstätter, mostram que a economia da rede tem centralizado elementos-chave do funcionamento interno da blockchain, o que é um risco potencial de segurança, bem como um problema para a neutralidade.

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Wahrstätter tem sido uma voz bastante ativa para tentar diminuir a censura e centralidade da rede, enquanto que Vitalik Buterin, cofundador do Ethereum, adicionou novas atualizações focadas nessas questões em seu roteiro para os próximos passos de melhorias da blockchain.