Era só uma questão de tempo antes de aquisições corporativas hostis à la década de 1980 acontecerem na blockchain.
Na segunda-feira (14), a Build Finance se tornou uma das primeiras organizações autônomas descentralizadas (ou DAOs, na sigla em inglês) a se tornar uma vítima desse fenômeno.
“A DAO Build Finance foi alvo de um golpe hostil de governança, em que um agente malicioso apresentou e teve sucesso com uma proposta para obter controle do contrato do token BUILD”, tuitou a conta do projeto.
Build Finance se apresentava como um projeto no estilo de um fundo de capital de risco desenvolvido no Ethereum, buscando incentivar a ascensão de novos projetos cripto por meio de seu token BUILD ao supervisionar financiamento, processos de contratação ou o gerenciar o progresso de um projeto.
Um exemplo dos esforços da DAO foi o lançamento da Metric Exchange, um agregador de corretoras descentralizadas (ou DEXs).
Porém, agora, a Build Finance está sob nova direção.
Assim como corporações tradicionais do mundo real, DAOs estão sujeitas aos caprichos de seus “stakeholders” (ou, neste caso, holders de tokens).
Esses holders podem usar suas alocações de tokens para realizar propostas sobre como a organização pode realizar projetos internos, como seu tesouro deve ser gasto e assim por diante. Outros holders podem votar se essas propostas devem ser executadas ou não.
No caso da Build Finance, uma pessoa em particular conseguiu aprovar uma proposta que concedia a ela o contrato do token BUILD, uma espécie de contrato autônomo que dá liberdade ao dono de criar ou destruir quantos tokens quiser.
Também obteve controle das chaves de emissão do projeto, do contrato de governança e do tesouro, segundo a Build Finance.
“Por definição, uma aquisição hostil acontece quando uma empresa obtém controle da gestão de outra empresa contra a vontade da atual administração desta”, explicou Nathan Van der Heyden, líder de crescimento da plataforma de votação via DAOs Snapshot Labs, em mensagem ao Decrypt via Telegram.
“No entanto, nas DAOs, a administração não fica nas mãos da equipe fundadora, e sim descentralizada entre todos os holders de tokens.”
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A pessoa conseguiu aprovar tal proposta favorável porque tinham um enorme número de tokens, usados para votação nesses tipos de situação e, alegadamente, houve pouquíssima atenção à proposta.
“Curiosamente, a arquitetura blockchain permite que acompanhemos todos os passos de como o golpe aconteceu e conseguimos ver o ‘invasor’ alocando um capital considerável no golpe”, afirmou Heyden.
A equipe da Build Finance indicou que a falta de atenção à proposta se deu porque a pessoa “tomou passos extras para impedir a evidência de suas atividades ao desativar o bot ‘gitbooks’ [que documenta tudo o que acontece] e o bot de propostas”.
Conforme a proposta foi aprovada, concedendo controle total do projeto, a pessoa começou a emitir e vender diversos tokens BUILD.
Também conseguiu saquear o tesouro da Build Finance e vender 130 mil tokens METRIC, o token nativo do Metric Exchange, correspondentes a um pouco acima de US$ 40 mil.
“É difícil vislumbrar um futuro”
A DAO informou que, apesar de estar em contato com a pessoa, “não há espaço para diálogo nem para reparações”.
Também acrescentou que “é difícil vislumbrar um futuro para BUILD com apenas seu reconhecimento de marca e ativos de propriedade intelectual e sem tesouro líquido”. No entanto, a Metric Exchange continuará operando apesar de sua conexão à Build Finance.
Ainda assim, de acordo com Heyden, nem tudo está perdido.
“A atual equipe BUILD tem a opção de bifurcar facilmente seu próprio código e recriar Build Finance do zero se esse for o desejo da comunidade – um luxo que não existe nas finanças tradicionais”, explicou.
Ainda não se sabe se a Build Finance seguirá por esse caminho.
*Traduzido e editado por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.