Binance leva curso de prevenção à lavagem de dinheiro para o Paraguai

Após anunciar workshop para MP no Brasil, corretora fez curso no país vizinho; investigação da Reuters estima que quase R$ 12 bilhões podem ter sido lavados na exchange
Alfinete em mapa do Paraguai

Shutterstock

A Binance segue no processo de aumentar a sua proximidade com as autoridades latino-americanas para além do Brasil. Após anunciar na semana passada um workshop sobre criptoativos para o Ministério Público do Rio, a corretora também aplicou um curso sobre criptomoedas, blockchain e prevenção à lavagem de dinheiro para oficiais do Paraguai.

Na segunda-feira (1º), o perfil oficial da exchange no Twitter divulgou fotos do encontro que teve com a Unidade de Crimes Cibernéticos do Paraguai para realizar um workshop para investigadores e promotores na capital Assunção.

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Na oficina, a Binance diz ter abordado temas como conceitos básicos de blockchain e criptografia e as políticas da exchange de combate à lavagem de dinheiro.

https://twitter.com/binance/status/1554240698572054528

No entanto, a Binance enfrenta acusações de ser usada por criminosos justamente como um canal para lavagem de dinheiro

A corretora pode ter sido usada para lavar bilhões de dólares em fundos ilícitos nos últimos cinco anos, de acordo uma investigação da agência de notícias Reuters.

A agência de notícias estima que, entre 2017 e 2021, cerca de US$ 2,35 bilhões – o equivalente a quase R$ 12 bilhões – em criptomoedas decorrentes de hacks, fraudes de investimento e vendas de drogas ilegais, teriam sido enviadas para a corretora como forma de lavagem de dinheiro.

Aqui no Brasil, o Banco Central acendeu o alerta sobre a existência de riscos nesse sentido na corretora.

O episódio serviu como estopim para uma briga judicial entre a Binance e seu ex-parceiro bancário Capitual, caso que foi parar na Justiça e envolve o bloqueio de R$ 450 milhões, além da interrupção temporária dos saques em real da plataforma.

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Cursos da Binance ao Ministério Público

Mesmo assim, a Binance diz quer ensinar as autoridades brasileiras como combater a lavagem de dinheiro. Na última quinta (28), a corretora anunciou que vai realizar nos dias 8 e 9 de agosto, um workshop sobre blockchain e criptoativos para Promotores de Justiça e investigadores do Gaeco do Ministério Público do Rio de Janeiro.

O treinamento será conduzido pelo departamento de investigação da Binance, que também abordará as ferramentas desenvolvidas pela entidade para auxiliar autoridades no combate a crimes cibernéticos e financeiros.

Entre os palestrantes do workshop estão o Chefe de Inteligência e Investigações da Binance para a região Ásia-Pacífico, Jarek Jakubcek, e  o especialista em Investigações da empresa na América Latina, Renato Barreto.  

Procurado pela reportagem, o MP-RJ confirmou a realização do encontro, mas ressaltou que não houve qualquer contratação pública para a corretora ministrar tal curso.

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“O encontro não gerará custos ao poder público. […] Trata-se de encontro de trabalho voltado exclusivamente à troca de conhecimentos técnicos envolvendo o emprego de criptoativos em potenciais atividades criminosas e os respectivos métodos para investigação e rastreamento de ativos envolvidos nestas práticas ilícitas”, explicou em nota a comunicação do MP.

A entidade pública afirma ainda que a realização de evento técnico “não exime a Exchange Binance, ou qualquer outra empresa do segmento, da integral observância das normas em vigor e da responsabilização pelos atos praticados em sentido contrário”.

Problemas da Binance no Brasil

A Binance suspendeu os saques e depósitos por brasileiros na sua plataforma no dia 17 de junho e estabeleceu um prazo de até 72 horas para retomar os serviços. À princípio, a empresa alegou que os serviços teriam sido bloqueados devido à atualização de políticas criadas pelo Banco Central (BC) do Brasil, sem dar mais detalhes.

Mais tarde, a Binance disse que iria substituir o então parceiro Capitual por um outro provedor de pagamentos, destacando que tomaria medidas necessárias, incluindo legais, para assegurar que os usuários não fossem afetados negativamente pela mudança.

Já o Capitual se posicionou sobre o assunto afirmando que estava apenas seguindo suas obrigações do BC feitas ao banco Acesso (seu parceiro bancário), ressaltando “o cumprimento da legislação e requisições dos órgãos reguladores”.

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O evento demonstrou que o Banco Central do Brasil via risco elevado de lavagem de dinheiro nas operações e exigindo informações detalhadas sobre os clientes da corretora.

Se a Binance optasse por seguir com a determinação feita pelo BC ao Acesso, deveria oferecer ao parceiro informações pessoais dos seus clientes. No entanto, a Binance optou por não fazer isso. Para contornar a obrigação, a Binance trocou de parceiro no Brasil e passou a usar os serviços da Latam Gateway, que tem suas operações com real viabilizada pelo Banco BS2 (antigo Banco Bonsucesso).