O corte global feito pela corretora de criptomoedas Binance atingiu a operação brasileira em cheio, com cortes na operação de marketing e um grande enxugamento na divisão de atendimento ao cliente.
O Portal do Bitcoin conversou com duas pessoas que foram demitidas pela empresa criada por Changpeng Zhao, mais conhecido como CZ. Ambas relataram um clima de forte pressão, medo, angústia e casos de burn out.
No time de marketing, a equipe foi reduzida de sete para três pessoas. Na da atendimento ao cliente, os cortes foram espaçados para constantes — o último ocorreu no dia 13 de julho, como já havia sido reportado.
“Era 150 pessoas na linha PT (que incluía português BR e Portugal) e foram só cortando. Nesse último corte tiraram metade do time da linha de chat PT, ficou com uns 26 agentes. Antes estávamos com cerca de 40”, disse a ex-funcionária, que pediu para não ser identificada. No momento, são dois líderes para a equipe.
Outra, que também pediu anonimato, disse que algumas pessoas haviam saído com burnout: “Nos últimos meses, a pressão estava muito grande e ninguém estava aguentando. Sempre, sempre a pressão era por novos usuários”.
Segundo o relato, até uma estagiária foi cortada. A ex-funcionária afirmou que o novo líder da empresa no Brasil, Guilherme Haddad, “só demitiu mulheres e contratou homens no lugar”.
A situação é bem diferente da prometida por CZ em sua passagem pelo Rio de Janeiro, em 2022. Na ocasião, ele chegou a dizer que contrataria 5 mil funcionários para a operação brasileira.
Problemas no atendimento ao cliente
A profissional de atendimento contou que os funcionários foram pegos de surpresa já que não houve uma reunião para anunciar as demissões.
“Eu só descobri que fui mandada embora quando entrei no computador e não consegui logar para bater o ponto”, revela. “Tinha gente em atendimento no chat na hora, e o computador da empresa foi bloqueado remotamente. Eles simplesmente bloquearam todos os acessos sem nenhum aviso prévio. Ficamos assustados achando que poderia ser um bug ou outra coisa, aí caiu a ficha de que fomos demitidos. Não teve conversa, não teve explicação prévia, nada”.
A confirmação da demissão veio mais tarde, por meio de um e-mail. “Enviaram um e-mail padrão para todo mundo, falando que tiveram que tomar essa difícil decisão. Bloquearam os grupos do Telegram e cortaram nosso contato com as pessoas que ficaram na empresa, e ainda falaram para eles não manterem contato conosco! Amigos nossos, ridículo”, reclama.
Os funcionários demitidos ainda foram informados que deveriam devolver os notebooks da empresa, sob pena de não receberem o pagamento dos dias trabalhados. “A verba paga também foi incompleta”, acrescenta. “Quem estava trabalhando desde o ano passado não recebeu o proporcional de férias completo, eles zeraram o ano passado e começaram a contar deste ano só”.
Outro ponto do relato é que a empresa que enviou os matérias para a funcionária é a B Fintech, que a Binance nega que seja a representação da empresa no Brasil.
Ela afirma que nenhum funcionário de Customer Service era CLT e que todos eram obrigados a receber em criptomoedas. Os planos de saúde também foram cortados no dia do desligamento, contrariando a prática de estender o benefício por cerca de três meses como vem sendo praticado pelo mercado.
O que diz a Binance
Em comunicado ao Portal do Bitcoin, a Binance afirma oficialmente que “nos últimos 6 anos, crescemos de uma equipe de 30 pessoas para um time com milhares de funcionários talentosos ao redor do mundo. À medida que nos preparamos para o próximo grande ciclo de alta, tornou-se claro que precisamos focar na densidade de talentos em toda a organização para garantir que permaneçamos ágeis e dinâmicos”.
Ainda de acordo com a corretora, “isso não se trata de reduzir o tamanho da equipe, mas sim de reavaliar se temos os talentos e a expertise certos nos cargos críticos. Isso incluirá analisar determinados produtos, unidades de negócios, benefícios para os funcionários e políticas, a fim de garantir que nossos recursos sejam alocados adequadamente, refletindo as demandas em constante evolução dos usuários e reguladores”.
*Colaboraram Marcelo Cabral e Saori Honorato.