O Brasil tem uma peculiaridade que permite uma precisão quase que exclusiva no mapeamento de dados de criptomoedas: na prática, toda compra de bitcoin é uma importação e todas as transações com moeda estrangeira têm contrato de câmbio registrado pelo Banco Central.
Como o país não produz bitcoin, só importa — devido ao alto custo da energia para mineração —, o cruzamento de dados permite que o Banco Central saiba com precisão quanto os brasileiros estão investindo nesse ativo.
O BC começou a divulgar em agosto do ano passado o número de compra de criptoativos no Brasil. O acumulado no ano inteiro de 2021 foi de US$ 5,994 bilhões, sendo o pico em maio com US$ 756 milhões.
Em palestra no evento Upon Global Capital em outubro, Bruno Serra, diretor de política monetária do BC, disse que a força de investimento do brasileiro no ativo impressiona.
“Se você pegar esse número e fizer um ‘mark to market’ [tipo de previsão sobre um ativo] dá US$ 50 bilhões. É muito grande. Se você comparar com o quanto brasileiros têm de ações americanas, que é uma classe de ativos super consolidada, são US$ 16 bilhões. Criptoativos têm um potencial de três vezes isso”, afirmou Serra.
Foi nessa ocasião que o diretor do BC explicou como a entidade faz esse mapeamento.
“Passamos a mapear usando os contratos de câmbio. É um fluxo de uma mão só, já que o Brasil, pelo custo da energia, não produz Bitcoin. É só importador. A gente tem um mercado de câmbio muito controlado, tem contrato de câmbio para todas as transações, 100% delas. Então conseguimos mapear isso, não é todo BC ou todo regulador que tem este tipo de informação”, disse.
Veja abaixo o momento exato em que o diretor do Banco Central explica o método de monitoramento e fala sobre potencial dos criptoativos:
Na época, o diretor do BC apresentou dois gráficos que mostram o crescimento do mercado de criptomoedas no Brasil.
O gráfico abaixo mostra o nível de investimento em portfólio e criptoativo (os números da esquerda estão em bilhões de dólares). Os criptoativos aparecem pela primeira vez em 2019 e mesmo os dados de 2021 indo apenas até agosto, já fica claro o crescimento:
Abaixo, os níveis de importação de criptoativos ao longo dos anos, mostrando por enquanto uma curva ascendente, mesmo que com alguns zigue-zagues no meio:
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Como declarar criptoativos
A Receita Federal criou três modelos pré-feitos para que as transações com criptoativos sejam declaradas. Um dos modelos é destinado para exchanges, outro para pessoas físicas e jurídicas que transacionam sem intermediação de corretoras e terceiro para pessoas físicas ou jurídicas que utilizam exchanges com sede no exterior.
Confira abaixo quais são as obrigatoriedades de registros para cada situação:
Exchanges
PF e PJ sem exchange
PF e PJ com exchange com sede estrangeira
Criptoativos entram nos balanços do BC
Em agosto foi a primeira vez que o Banco Central do Brasil divulgou dados sobre importação e exportação de criptoativos nas estatísticas do setor externo.
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse na ocasião que estava acontecendo “um aumento grande de demanda por criptomoedas”, ao participar de uma reunião do núcleo de estudos do Sistema Financeiro Nacional (Neasf) da FGV.
Campos Neto disse que naquele momento haviam cerca de US$ 40 bilhões (R$ 209 bilhões) em criptomoedas nas mãos de cidadãos brasileiros.