A atualização mais importante que o Bitcoin (BTC) recebe em quatro anos, apelidada de Taproot, está prestes a ser ativada na rede principal da criptomoeda.
Segundo a contagem regressiva do Nice Hash, o bloco 709.632 em que o Taproot é ativado para valer, deve ser minerado na manhã de domingo (14). A atualização, no entanto, está aprovada desde maio, quando mais de 90% dos mineradores atingiram consenso e sinalizaram a seu favor.
De forma geral, Taproot é um soft fork — uma atualização mais simples do que o hard fork por não gerar bifurcação da blockchain — que ativa na rede três propostas de melhoria do bitcoin (BIP, na sigla em inglês): BIP-340, BIP-341 e BIP-342. Mas afinal, o que essas siglas significam na prática?
1 – Transações mais anônimas
Uma das principais melhorias que chegam como Taproot é a introdução do mecanismo de assinaturas Schnorr na rede principal do bitcoin que vai permitir que transações complexas sejam “mascaradas” como transações comuns na blockchain, aumentando o anonimato dos participantes da rede.
O novo tipo de assinatura permite uma agregação de chave e assinatura que antes não existia na rede do bitcoin. Na prática, isso vai permitir que transações de assinatura múltipla, ou seja, que precisam de mais um participante na rede para ser validada, ou transações que interajam com scripts específicos, possam ser combinadas para criar uma chave privada agregada.
Desse modo, não será mais possível distinguir uma transação multisig de uma transação comum.
A chegada das assinaturas Schnorr através da proposta BIP-340 (bip-schnorr) representa uma atualização da criptografia central do bitcoin e introduz à rede um modelo mais seguro e leve que funcionará em paralelo com o modelo de assinatura existente — ECDSA.
Mesmo o usuário final que não utiliza transações complexas no dia a dia será beneficiado. A melhoria na privacidade protegerá a rede como um todo, além de ajudar na redução da carga de dados na blockchain e, consequentemente, no tempo de verificação da transação.
2 – Transações mais baratas
Além de melhorar a privacidade, o custo em taxas de transações mais complexas também deve ficar mais barato, já que a partir de agora as assinaturas passam a ser agregadas. Na prática, o tamanho que a transação ocupa na rede irá diminuir.
Aqui o que exerce a maior influência é a introdução da MAST (Merkelized Abstract Syntax Tree) através da proposta BIP-341 (bip-taproot), uma estrutura de dados usada para verificação e sincronização de dados que vai tornar os contratos inteligentes mais eficientes e privados, revelando apenas a condição do contrato que foi atendida.
Até então isso não era possível e todas as condições de um contrato estavam integradas à transação em si, o que consumia muito espaço na base de dados.
3 – Novos contratos inteligentes
Ao diminuir o tamanho das transações e, possivelmente, dos custos da rede, o Taproot abre as portas do ecossistema do bitcoin para novas soluções que até então eram impossíveis de serem criadas na rede.
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Por exemplo, a nova forma de “empacotar” vai permitir que mais redes complexas de segunda camada sejam criadas no ecossistema do Bitcoin. Por exemplo, um cofre multisig que exige mais de mil assinaturas vai finalmente poder ser criado na rede do bitcoin — uma função comum em outros projetos do mercado mas que até então era inviável na antiga estrutura do bitcoin.
Sobre as possibilidades que essas funções trazem para o futuro do bitcoin, um relatório sobre o tema da Kraken projetou que o Taproot vai permitir que qualquer contrato inteligente de Bitcoin (P2TR) seja, teoricamente, dimensionado para o tamanho de uma organização autônoma descentralizada (DAO) de mais de 10 mil membros com milhares de bitcoins bloqueados, ao mesmo tempo que custará e terá a mesma aparência na blockchain de uma transação comum.
4 – Melhorias na Lightning Network
O Taproot também tornará mais segura e anônima a Lightning Network, rede de segunda camada construída sobre a blockchain do bitcoin, que permite que usuários contornem o congestionamento da rede fazendo transações fora da cadeia, de forma instantânea e quase sem custo.
Isso é possível através de canais abertos por operadores da Lightning, responsáveis por prover a linha direta para que usuários negociem uns com os outros.
Até então, um problema que prejudicava os operadores era que as transações de abertura e o fechamento de canais da Lightning eram facilmente identificadas na blockchain.
Isso permitia, por exemplo, que o número de chaves públicas e assinaturas incluídas no canal ficassem visíveis. Além do problema de privacidade, isso também prejudicava a escalabilidade da Lightning, já que as assinaturas de todos os usuários que interagiam com o canal traziam um peso desnecessário à rede.
Com o Taproot, isso acaba e a abertura e fechamento de um canal da Lightning passa a ser visto como uma transação comum na blockchain.
5 – Atualizações mais simples no futuro
Finalmente, a terceira melhoria que será ativada no Taproot, a BIP-342 (bip-tapscript), vai tornar mais fácil fazer atualizações do bitcoin no futuro. Tapscript é uma linguagem de script atualizada que vai melhorar validação feitas no Taproot.
De forma geral, essa nova linguagem de script vai aprimorar a capacidade dos contratos inteligentes do bitcoin ao adicionar novos opcodes e alterar alguns requisitos de recursos. Por exemplo, a melhoria vai remover o limite de tamanho de 10.000 bytes que existia em scripts “legacy” da primeira geração do bitcoin.
Além disso, o tapscript fornece um mecanismo de compatibilidade direta, conhecido como “tagged public keys,” que torna fácil para futuros soft fork estender os opcodes de verificação de assinatura com outras alterações.
Embora menos perceptível para o usuário final, o “Tapscript” complementa as assinaturas Schnorr e MAST para fechar o que é esperado ser uma das atualizações mais importantes da história do bitcoin.